Ocupação do Haiti custa R$ 2 bilhões ao Brasil
A operação militar do Brasil no Haiti, iniciada em 1º de junho de 2004 como parte do plano do governo brasileiro para obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, consumiu até agora quase R$ 2 bilhões. Quando começou, a operação emergencial deveria durar seis meses, com um custo previsto em R$ 150 milhões.
Enviada ao Haiti em 2004, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) é rodeada por casos de abusos aos direitos humanos, disseminação de doenças e corrupção. São raras a divulgação e a consequente punição destes crimes que violam não só a integridade dos cidadãos haitianos, mas também a soberania e independência do próprio país.
As informações veiculadas por grande parte da imprensa são carregadas de elogios à ocupação militar, principalmente brasileira, protagonista da missão, o que dificulta a discussão sobre a realidade haitiana.
Os grandes veículos de imprensa ilustram de forma exagerada as ações humanitárias exercidas pelas tropas da Minustah, exaltando as conquistas na área de reconstrução da infraestrutura e nos avanços no controle de doenças infectocontagiosas.
Mas a realidade é que o Haiti tem mais de um milhão de desabrigados, resultado de desastres naturais e da pobreza. O aumento exponencial dos preços de moradia e alimentação promove um êxodo da população em direção ao campo, e as poucas terras que sobraram concentram-se nas mãos da elite e do exército internacional. Essa situação se agrava com a degradação do espaço urbano e o consequente surgimento de favelas nas principais cidades.
Para o gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas, mais de 500.000 pessoas permanecem em acampamentos improvisados nas ruas, a epidemia de cólera já provocou 7.000 mortes e a insegurança alimentar afeta 45% da população de dez milhões de habitantes.
Com os R$ 2 bilhões de reais gastos para construir 50 mil moradias ao custo de R$ 40 mil reais cada, fica evidente que o objetivo da missão brasileira no Haiti não é a ajuda humanitária e sim o controle do país através de uma intervenção militar estrangeira que usa blindados, explosivos e munições para atender interesses do imperialismo estadunidense e não os do povo haitiano.
Por outro lado, enquanto o povo do Haiti sofre uma intensa crise humanitária, o ministério brasileiro comemora afirmando que esses gastos estimulam a indústria militar brasileira, ou seja, à custa da miséria, do sofrimento e da morte dos haitianos.
Ou seja, o que deveríamos enviar para esse povo heroico e sofrido eram alimento, remédios, médicos, técnicos etc., em lugar de armas, blindados e soldados, como escreveram Eduardo Galeano, Juan Gelman, Frei Betto e Adolfo Pérez em carta pedindo a retirada imediata das tropas da Minustah: “É inconcebível que os exércitos de nossos países estejam diretamente envolvidos na ocupação militar de uma nação que já foi uma luz de esperança e liberdade para nossos movimentos de independência em suas origens, e prestou um apoio essencial à campanha de Simón Bolívar pela libertação da América Latina. É inconcebível que nossos países, que têm sofrido tantas agressões estrangeiras, estejam agora pisoteando a soberania de outro que tem vivido inúmeras e brutais intervenções desde o dia em que rompeu as correntes da escravidão e do colonialismo”. (Com o jornal A Verdade)
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