Protesto no Rio termina com parte da estátua do general Castelo Branco pintada de vermelho-sangue. Em Belo Horizonte o nome do Viaduto Castelo Branco será trocado por Viaduto Helena Greco
Protesto realizado pela Articulação Estadual pela Memória, Verdade e Justiça, uma frente de organizações populares, além de partidos, entidades estudantis e pela organização não governamental (ONG) Tortura Nunca Mais terminou na manhã de hoje (29) com o que chamaram de “esculacho” da estátua do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro governante militar após o golpe militar de 1964.
Os participantes iniciaram o protesto com uma caminhada que cruzou algumas ruas do bairro de Copacabana, terminando no Posto 3, na Praia do Leme, onde está localizado o monumento. No local, os manifestantes apresentaram o que denominaram “crimes” do militar (que nunca teve acusação formal, ainda que póstuma, ou julgamento).
Após a leitura do nome de militantes mortos durante o governo de Castelo Branco (1964-1967) e em anos posteriores do período militar, foram colados cartazes e a estátua recebeu uma faixa de Ditador do Brasil. Também foram atiradas pelos participantes do protesto balões de borracha com tinta vermelho-sangue aos pés do monumento e ao redor.
“É possível construir um novo cenário, mas para isso é necessário que a gente leia esta página da história, que a gente saiba o que aconteceu, saiba onde estão as pessoas desaparecidas, quais foram os responsáveis pelos assassinatos, pela tortura”, disse o jornalista e sociólogo Sergio Moura, da direção do Tortura Nunca Mais.
Para ele, esse tipo de manifestação tem uma lógica. “Quem não consegue conhecer a própria história está condenado a repeti-la. É justamente para que se possa superar esse período que a gente precisa fazer a expiação dele”, disse o jornalista. “Essa manifestação mostra para a sociedade brasileira que a resistência popular contra o arbítrio permanece viva e ativa”.
Durante a caminhada, familiares de desaparecidos, militantes presos durante o período da ditadura, além de grande número de jovens, empunharam cartazes com nomes e fotos de militantes políticos mortos. Também realizarem uma batucada, apoiada por um carro de som.
“Nós aqui no estado estamos construindo essa articulação ampla de grupos que vêm fazendo a luta pela memória do nosso país, realizando escrachos, atos e exigindo não só a retratação histórica, mas também a punição aos torturadores e responsáveis pelos crimes de sequestro, além da criação de monumentos públicos”, contou o engenheiro de petróleo Vitor Ferreira, membro da Consulta Popular, um dos grupos que compõem a frente Articulação.
Entre os monumentos que começam a ser pleiteados, estão dois centros de memória, um deles na antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na região central, próximo à Lapa, e outro na chamada Casa da Morte, em Petrópolis.
Ana Miranda, militante torturada durante a ditadura militar e participante do Coletivo RJ, destaca como positiva a participação de militantes jovens, que não viveram nem têm parentesco com vítimas da ditadura.
Os manifestantes também exigiram uma apuração ampla e irrestrita pela Comissão da Verdade, colegiado responsável pela apuração de violências ocorridas no período da ditadura militar, em especial no período anterior à Lei da Anistia (Lei 6.683/1979).
Embora o protesto tenha sido acompanhado pela Guarda Civil Municipal, a instituição não apresentou uma estimativa de participantes, após contato feito pela Agência Brasil. A organização estimou a participação de 150 pessoas. (Com a ABr)
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