Papa manda proibir revista de sátira


ALEMANHA
                                                             
Danielle Naves de Oliveira 

     Esta história começa com uma palavra-chave: vazamentos. Desde janeiro deste ano, uma série deles tem incomodado o papa Bento 16 e seu entorno. Documentos secretos e informações confidenciais vazaram do Vaticano para a imprensa italiana, desencadeando um processo que ficou conhecido como VatiLeaks. O polêmico conteúdo inclui cartas pessoais ao papa, detalhes de corrupção, desvios de dinheiro e escândalos sexuais. Para reafirmar o clichê, o primeiro acusado é o mordomo, Paolo Gabriele, que já responde juridicamente pelo delito e pelo delato.

Na Alemanha, país natal de Bento 16, o assunto virou não só notícia, mas também piada. A revista humorística Titanic publicou, na capa e contracapa da edição de junho último, caricaturas retratando um papa senil e incontinente, com as roupas manchadas de urina e fezes, sob a seguinte manchete: “Aleluia no Vaticano – acharam o local do vazamento” (Halleluja im Vatikan – Die undichte Stelle ist gefunden).

A reação do papa, por intermédio de seus representantes, foi à altura da ofensa. Mandou recolher a revista das bancas e proibir a divulgação das imagens, tanto por meios impressos como eletrônicos. No dia 10 de julho, o Tribunal Regional de Hamburgo ordenou o interdito, sob pena de multa de 250 mil euros aos editores. Tarde demais: em poucas horas, a revista já tinha esgotado e as imagens espalhadas pela internet em sites jornalísticos do mundo inteiro, blogs e redes sociais. Enquanto isso, a edição eletrônica obedeceu, mas sem deixar a ironia de lado: uma tarja preta com o título “proibido” cobre a capa censurada.

Conservador e pouco carismático

Titanic é uma revista de média circulação, com tiragem em torno de 100 mil exemplares e há 30 anos no mercado. Com o acesso de cólera do Vaticano, assinaturas e vendas em banca se multiplicaram exponencialmente. Ou seja, o que antes era veículo de entretenimento para um público de perfil alternativo tornou-se rapidamente um poderoso meio de massa. Desde então, Leo Fischer, o editor-chefe, atende a entrevistas diárias em diversos meios de comunicação alemães e toma ares de celebridade.

A Federação Alemã de Jornalistas e a opinião pública nacional apoiam a Titanic. Em 11 de julho, Hendrik Zörner, diretor da entidade, publicou uma nota de encorajamento, dizendo que os meios utilizados pela revista são todos legítimos e que, além disso, “não seria a primeira vez que o Tribunal de Hamburgo teria, apesar da pressão pública, decidido contra um meio de comunicação”. 

Já o Conselho Alemão de Imprensa, um segundo órgão importante para a categoria jornalística no país, prefere o tom apaziguador. Sua representante, Edda Kremer, declarou à agência de notícias Deutsche Welle estar em concordância com a queixa do Vaticano. Alega-se que a figura pessoal do representante maior da Igreja Católica foi atingida – a ponto de ferir a sensibilidade religiosa de seus fiéis.

O debate continua acirrado. Lembremos que antes do papado, o então cardeal Joseph Ratzinger já não gozava de muita popularidade em seu país de origem. A imprensa satírica atual só faz reiterar a velha fama de conservador e pouco carismático do atual Bento, ou Benedikt, como é chamado por aqui.(Com o Observatório de Imprensa)

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