Encontro dos Trabalhadores e Povos do Campo, das Águas e das Florestas pretende comemorar o 51º aniversário do I Congresso Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil realizado em 1961 na Assembleia Legislativa de Belo Horizonte


Primeiro Congresso Nacional dos Trabalhadores Agrícolas, realizado em 1961 na Rua Tamoios, em Belo Horizonte

                                                     O Encontro dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas será realizado entre os dias 20 a 22 de Agosto, em Brasília, com um acampamento que será montado no Parque das Cidades e que contará com mais de 5 mil delegados de diversos movimentos sociais de todo o Brasil.
Além disso, a simbologia do Encontro se dá num contexto importante a este setor: será comemorado o 51º aniversário do primeiro e único Congresso Camponês que aconteceu em 1961,em Belo Horizonte, quando diversos movimentos sociais do campo brasileiro se uniram em torno de uma luta comum. 

De acordo com José Batista de Oliveira, da  Coordenação Nacional do MST e da articulação do Encontro, o evento será importante para que se defina uma unidade nas lutas dos movimentos sociais do campo. “Não basta cada movimento lutar por si só. A tentativa de juntar os movimentos vai nessa direção, e o encontro é um espaço para unir movimentos regionais e nacionais que fazem a luta pela terra e resistem no campo”.

Como surgiu a ideia de se realizar o encontro?

O encontro surgiu de uma análise de que tanto a Reforma Agrária como outras políticas estruturantes para o campo brasileiro, como a demarcação das terras indígenas, estão paralisadas. Esse governo ainda não se propôs a criar um plano para o campo brasileiro, e o tema da terra afeta a todos os movimentos, já que essas pautas estão paradas por causa do crescimento do modelo do agronegócio, que avança sobre as terras devolutas que deveriam ser destinadas à Reforma Agrária, sobre a terra dos indígenas e quilombolas, e cada vez mais são criadas bases jurídicas que permitem esse avanço do capital. 

Frente a essa conjuntura, há um diagnóstico comum: as políticas estruturantes estão paradas, há um gargalo em relação à terra cujo responsável é o agronegócio, apoiado pelo governo. Se o agronegócio e o grande capital financeiro, representado pelos bancos, são os grandes inimigos comuns, não basta cada movimento lutar por si só. A tentativa de juntar os movimentos vai nessa direção, e o encontro é um espaço para unir movimentos regionais e nacionais que fazem a luta pela terra e resistem no campo.

Que movimentos e organizações estarão presentes?

O encontro vai unir os movimentos do campo de caráter nacional, como os movimentos que compõem a Via Campesina, o Movimento Camponês Popular (MCP), a Cáritas Brasileira, a Confedaração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), além de movimentos regionais, indígenas, quilombolas e de pescadores. Nós estamos estimando que teremos de 5 a 7 mil delegados de todo o Brasil. 

Qual o objetivo do encontro?

O primeiro objetivo é que os militantes e lideranças que vem de todo o país vão poder levar de volta para a sua luta o que foi acumulado no encontro. O segundo objetivo é fazer um diagnóstico de como está a agricultura no Brasil, quais são os limites da Reforma Agrária, quem são nossos inimigos; depois vamos debater como enfrentá-los e que ações conjuntas serão desenvolvidas.

Por fim, vamos fazer uma marcha em Brasília para dar essa demonstração de unidade dos movimentos e exercer pressão sobre o governo, colocando a Reforma Agrária e o direito à terra para todos como prioridade, pressionando para que haja um plano de ação do governo em relação à terra: que decrete áreas quilombolas e indígenas, assente os agricultores, e não o contrário, como vem sendo feito.

E qual será a centralidade do diálogo com o governo e com a sociedade?

Queremos discutir com o governo, mostrar para a sociedade e para a imprensa que o agronegócio não é o que se propaga. Apesar do discurso desse modelo ser lucrativo, rendendo mais e 130 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto), o crédito que eles recebem do governo está em 115 bilhões, o que mostra que a margem de lucro não é alta. Latifundiários e grandes empresas vivem do apoio do estado e do financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), e nós vamos exercer pressão para denunciar isso. Mesmo que o encontro não resolva todas as nossas pautas, queremos abrir um canal de diálogo com o governo. 

Pretendemos massificar essa marcha para além dos participantes do encontro, agregando outras forças, como os sindicatos urbanos para mostrar a solidariedade do conjunto dos trabalhadores, pois a Reforma Agrária e o respeito aos territórios tradicionais, não são uma problemática dos sem-terra, dos indígenas. 

Vale ressaltar que o encontro não se encerra em si; é preciso planejar lutas conjuntas para o próximo período. Nosso objetivo é que essa unidade não seja só momentânea, e sim um início de um processo, pois o governo está convencido de que não deve fazer Reforma Agrária e demarcar terras. 

Por que no acampamento os militantes serão divididos por estados, e não por movimentos?

O objetivo do encontro é realizar uma integração. Não tem sentido realizar um encontro de várias organizações onde cada um fique no seu canto. O mesmo para os debates, nos quais queremos que cada estado ou região do país reúna os movimentos para analisar a conjuntura e pensar no que fazer juntos. O conjunto do encontro tem que apontar para essa construção de unidade. É claro que ninguém vai negar a identidade e pautas específicas de cada movimento, mas tem que existir ações conjuntas e demonstrar unidade na ação. Mesmo que cada movimento siga fazendo sua luta específica, queremos delimitar as lutas que temos em comum. 

Como se dará a estrutura física do espaço?

A única parceria que temos é com o Governo do Distrito Federal (GDF) para garantir o espaço no qual o evento vai ser sediado. A estrutura do encontro será da forma como fazemos as lutas: nosso pessoal está organizando as caravanas para vir de ônibus, e cada organização está arrecadando dinheiro nas bases.

Inclusive a solidariedade que queremos criar no encontro já aparece nesse momento, pois diversos movimentos que estão nas mesmas regiões vão juntos. O mesmo serve para alimentação. Já que questionamos o agronegócio, queremos aproveitar esse espaço para comer da nossa comida, produzida nos nossos assentamentos. 

Estamos fazendo uma campanha para que todas as organizações comprometidas com a luta dos trabalhadores do campo possam contribuir para que o encontro se realize. A organização é de total autonomia dos movimentos, porque para fazer pressão sobre o governo é preciso que sejamos autônomos. Por isso vamos nos articular para levar os militantes, preparar as atividades e criar um espaço dos movimentos bem organizado, com um grande acampamento no Parque das Cidades. 

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