Entrevista de Milton Pinheiro sobre golpe, ditadura militar, a repressão ao PCB e questões da atual conjuntura

                                                               
Luiz Carlos Azenha

Não havia chance de um golpe comunista em 1964. A principal força de esquerda então, o Partido Comunista, tinha assumido compromisso com a via eleitoral. É justamente por isso que, quando o golpe foi dado pelos militares, com apoio da direita civil, não houve reação organizada da esquerda, muito menos articulada com João Goulart. O presidente era, então, severamente criticado inclusive por setores da esquerda.

Quem diz é Milton Pinheiro, professor de Ciência Política da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Ele é organizador e autor de um dos textos do livro O que resta da transição, que será lançado nos próximos dias.

Um dos argumentos da direita para o golpe, disseminado por jornais que apoiaram a ação, como a Folha e o Estadão, era justamente este: tratou-se de um “contra-golpe”, para salvar o Brasil do comunismo.

Pinheiro hoje mora em São Paulo, onde faz um estudo sobre a direção do PCB no exílio, no eixo Paris-Moscou-Budapeste-Praga.

“O PCB era hegemônico na esquerda naquele período [do golpe], como o PT foi até a eleição de Lula”, lembra Pinheiro.

Ao longo da ditadura, o partido nunca apoiou a luta armada. Pelo contrário, sempre pregou o aliancismo, ou seja, a formação de frentes políticas para combater o regime e apoio a candidatos do MDB, de oposição.

No entanto, nos estertores da ditadura o partido sofreu um ataque devastador, organizado a partir do I Exército, em São Paulo.

“Os números do ataque ao PCB são extraordinários. Teve 1.300 militantes presos e processados, em 868 processos. Teve quase 5 mil exilados para várias partes do mundo, em especial para a França, Portugal, Itália, Inglaterra, mas também para o Leste Europeu. E teve, a partir de 1974, 40 mortos, dos quais dez membros do comitê central, que era a direção do partido”, resume Pinheiro.

“Foi uma decisão política da ditadura, através da Operação Radar, de 1974 a 1976, liquidar o PCB antes do processo da abertura tutelada que o regime tentou fazer”, avalia.

Em outras palavras, os militares trataram de desarticular a esquerda antes de promover a abertura “lenta, gradual e segura”.

Na entrevista abaixo, o professor diz também que “apenas no Brasil” a reforma agrária – proposta de João Goulart em 64 que tinha grande apoio popular – é vista como algo subversivo, quando na verdade reforça o capitalismo ao distribuir propriedade.



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