Principais jornais do país publicam editoriais para lembrar os 50 anos do Golpe de 64

                                                             


"Estadão" publicou matérias censuradas em seu site


Alana Rodrigues (*)  
  
Nesta segunda-feira (31/3), dia que marca os cinquenta anos do golpe de 1964, os principais jornais brasileiros, que também tiveram intensa participação na derrubada do presidente João Goulart, imprimiram em seus editoriais as condições que levaram à ascensão da ditadura militar, a posição da imprensa à época e até meas culpas pelo momento de apoio ao regime.

A Folha de S.Paulo adiantou, em sua edição do último domingo (30/3), que o período tem sido alvo "merecido e generalizado" de repúdio. Sob o título "1964", a publicação avalia os principais períodos após o golpe, bem como o erro de apoiar a ditadura durante a primeira metade de sua vigência. 

"Não há dúvida de que, aos olhos de hoje, aquele apoio foi um erro", destaca. " Este jornal deveria ter rechaçado toda violência da democracia e das liberdades individuais", diz a Folha, que argumentou ser fácil julgar agora os responsáveis pelas escolhas passadas e acrescentou que o período foi um "doloroso aprendizado" para os que estão no espaço público alcançarem maturidade para a renúncia de atos hostis.

O Estado de S. Paulo direciona o texto "Meio século depois" para ilustrar o cenário da época, quando havia "uma mistura explosiva de avanço desses grupos [sindicalistas] para o controle do Estado e de desordem na economia e na administração", e pontua que João tentou impor "reformas de cunho socialista, embora ele não tivesse mandato popular para isso". 

O jornal aborda a crise administrativa e econômica no período, mas não faz menção ao fato de apoiar o golpe. Nesta segunda-feira (31/3), a publicação divulgou em seu site algumas das matérias que foram censuradas. 

"A redemocratização viria ao fim de duas décadas de arbítrio, graças à persistência de milhares de brasileiros que se comportaram de forma pacífica e ordeira, repudiando tanto a violência empregada por aqueles que escolheram equivocadamente a luta armada quanto a brutalidade dos agentes do regime de exceção", finaliza o texto.

O carioca O Globo chama atenção com a chamada "Para nunca mais se repetir". O texto reitera o arrependimento quanto ao apoio do golpe, medida que levou as Organizações Globo a reconhecerem, no ano passado, o equívoco editorial. "Concluiu-se que, com base na perspectiva histórica dada pela passagem do tempo, está claro que, com todas as imperfeições do regime, nenhum modelo é melhor, em todos os sentidos, que o democrático" pontua.

A publicação ressalta o papel da Comissão da Verdade e da imprensa para iluminar "os subterrâneos daqueles tempos sombrios", além de enfatizar que a reflexão sobre os 50 anos do golpe destaca o papel do estado democrático de direito. "Não se pode admitir que este erro seja mais uma vez cometido", acrescenta.

O diário gaúcho Zero Hora lembra do papel dos militares, que argumentavam que foram chamados para proibir a implantação do comunismo no país e que cumpriram o dever constitucional de defender a população. "Trata-se, evidentemente, de uma falácia. Numa democracia, não é preciso fazer uso da força para substituir governantes que desonram seus mandatos", diz o texto.

Para a ZH, as reportagens não escondem o apoio e participação de setores civis da sociedade à época. "Ontem mesmo este jornal, por exemplo, publicou caderno de oito páginas focando exatamente o protagonismo de governadores, religiosos, empresários, estudantes, jornalistas, intelectuais e tradicionalistas na quebra da democracia", explicou.

(*) Com supervisão de Vanessa Gonçalves (Com o Portal da Imprensa)

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