Jornada da juventude promete radicalizar as lutas do MST de 26 de março a 9 de abril

                                                                 

Luiz Felipe Albuquerque

Da Página do MST

Entre os dias 26 de março a 9 de abril, diversas organizações de juventude de todo o país realizam a Jornada Nacional de Lutas da Juventude Brasileira 2014.

Serão duas semanas de luta, quando milhares de jovens por todo o país saem às ruas exigindo o financiamento público da educação, contra o extermínio da juventude, por trabalho decente, pela democratização da comunicação e pela Reforma Agrária Popular.

A jornada teve início ano passado, com mobilizações em 17 estados. Este ano, 42 entidades de diferentes seguimentos dos movimentos sociais de juventude se unificaram em torno da jornada.

Para Raul Amorim (foto), do coletivo de juventude do MST, o maior desafio desse ano será expandir a jornada para além dos grandes centros urbanos e interiorizá-la por todo país. 

Para ele, “já não cabem mais marchas cronometradas, com início, meio e fim. Mas devem ter um enfrentamento maior contra o inimigo. Esse é o tom das mobilizações”.

Raul acredita que essas mobilizações devem conter os anseios de mudança que os jovens colocaram nas ruas, “e esse sentimento é com um enfrentamento maior ao capital financeiro internacional que vem tomando nossas terras, aumentando a especulação imobiliária nas capitais, avançando sobre a compra das universidades e escolas, nossas estradas com os pedágios”. 

Confira a entrevista:

Em que consiste a Jornada de Lutas da Juventude Brasileira?

A Jornada de Luta da Juventude teve início em 2012, a partir de conversas e debates entre as organizações da juventude que apontavam a necessidade de se juntar sobre pautas comuns.
Naquele momento já havia sinais de um reascenso da luta de massas, com um aumento do número de greves no país, além de lutas que estavam acontecendo isoladamente.

Além disso, era um período forte de defensiva dos movimentos sociais. Só para lembrar que na época estava muito forte a discussão da redução da maioridade penal. 
Com isso, foram realizadas diversas plenárias, e no final do mês e março e mês de abril de 2013, conseguimos organizar lutas em 17 capitais. 

No primeiro momento, tínhamos 10 capitais articuladas, mas as mobilizações foram explodindo, e no final chegamos em 17. 

Aquela jornada apresentou na prática a possibilidade de unidade dos movimentos sociais para além de uma construção programática, mas construir a unidade na ação. 
E logo na sequência aconteceu as mobilizações de junho.

Junho para nos representa um novo ponto de partida na análise de conjuntura. Estas mobilizações apresentaram uma possibilidade de mudança do ânimo de luta da população.

Houve a retomada tão esperada das lutas de massa na área urbana, e sinais de uma possibilidade de mudanças.

Nas lutas de junho, os mesmos movimentos que fizeram parte da jornada de março, participaram novamente dessas mobilizações de forma conjunta.

E as pautas de luta, mudaram?

Houve retomadas de pautas muito importantes para o país, como a democratização da mídia - que já vinham de lutas anteriores contra a Globo e o monopólio dos meios de comunicação -, a criminalização dos movimentos sociais, o extermínio da juventude - essa pauta, em específico, ganha uma forte conotação principalmente na descomemoração do 1° de abril, nos 50 anos do golpe militar. ~

Devemos denunciar os resquícios da ditadura em diversas instituições do Estado, principalmente na Polícia Militar, como resquício de um Estado repressor. 
E por fim, a retomada a uma radicalização das mudanças no país. A pauta da constituinte para uma Reforma Política se torna central. As lutas de junho demonstraram a frustração que a juventude tem do nosso sistema político.

Junto a isso, retomamos o manifesto da juventude, com mais de 40 organizações nacionais assinando. Estamos construindo lutas em conjunto com os movimentos sociais estudantis, sindicais, feministas, camponeses, religiosos, ligados a comunicação, a cultura.

Serão duas semanas de luta com pautas sobre a educação - com o lema educação não é mercadoria -, contra o extermínio da juventude, a luta pelo trabalho decente denunciando a enorme rotatividade dos atuais empregos e pela Reforma Agrária Popular.

A retomada das lutas de massa deve ser o ponto central das organizações de esquerda no Brasil, pois só acontecerão mudanças estruturais com gente na rua. A nossa força política está no número de pessoas que vão às ruas lutar por mudanças.

Quais os desafios para este ano?

Este ano não nos mobilizaremos somente nas capitais, mas iremos interiorizar as lutas, tanto na dimensão do país, com lutas no Acre, Roraima, Piauí, Mato Grosso do Sul quanto interiorizar dentro dos estados, ir para o meio rural, às periferias e dialogar com a maioria da população pobre.
Dia 26 será dado o ponta pé inicial com mobilizações intensas em São Paulo e em Brasília, e que darão o tom das mobilizações que seguirão. 

No atual momento, já não cabem mais marchas cronometradas, com início, meio e fim. Mas devem ter um enfrentamento maior contra o inimigo. Esse é o tom das mobilizações. Marchas, atos políticos e diálogo com a sociedade, se utilizando de todos os meios de comunicação possível, desde jornais – serão distribuídos 100 mil jornais e 20 mil panfletos -, sites, redes sociais stencil, lambe-lambe.

Essas mobilizações devem conter os anseios de mudança que os jovens colocaram nas ruas, e esse sentimento é com um enfrentamento maior ao capital financeiro internacional que vem tomando nossas terras, aumentando a especulação imobiliária nas capitais, avançando sobre a compra das universidades e escolas, nossas estradas com os pedágios. Essa é a ação radical deve ser apresentada nas ruas para dialogar com a população.

Uma das principais bandeiras será a luta pela mudança do Sistema Político brasileiro. Qual a importância dessa pauta à juventude?

Todas essas lutas só serão superadas com gente na rua e com a mudança do sistema político. Em junho a juventude denunciou o fosso que há entre o povo e as instituições do Estado. Isso ficou claro quando a Dilma em um dia recuou sobre sua proposta de ter um plebiscito nacional para construir uma constituinte.

A constituinte garantiria as decisões do povo nas lutas pela soberania nacional. A última constituinte no Brasil foi em 88, feita por meio de uma transição conservadora, colada no período da ditadura militar. 

Devemos nos somar a essa construção para que desentrave as barreiras que impedem a transformações estruturais do país. E isso só será feito por meio da constituinte. (Com o MST)

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