Guantánamo é uma vergonha não só para os EUA, mas para a humanidade", diz Mujica. Quem ousa discordar?

                                                                   

                                Cercado de jornalistas, Mujica dá explicações sobre sua decisão conceder abrigo a presos de Guantánamo

Presidente uruguaio explicou decisão de colaborar com Washington e receber no país como "refugiados" presos da polêmica base militar
    
Ao confirmar que o Uruguai abrigará cinco presos da base militar de Guantánamo na qualidade de "refugiados", o presidente José Pepe Mujica disse que a acolhida é uma "questão de direitos humanos". 

Após aceitar colaborar com Barack Obama, o mandatário assegurou que a polêmica prisão localizada dentro da ilha de Cuba "tem funcionado como uma verdadeira vergonha para a humanidade e muito mais vergonhoso para um país como os Estados Unidos".

"O Uruguai tem sido um país de refúgio. Para nós, é uma questão de princípios", disse Mujica, que, em seus tempos de líder guerrilheiro tupamaro, permaneceu preso pela ditadura uruguaia por 14 anos.

"Se quiserem formar um lar e trabalhar, que fiquem no país", explicou, durante seu programa semanal de rádio na emissora local M24 na última quinta-feira (20/03). Segundo Mujica, os cinco presos transferidos teriam que permanecer pelo menos dois anos dentro das fronteiras do país, mas não como uma imposição: "Seria um gesto voluntário deles [presos] para sair dessa situação de vergonha".

O ministro do Interior uruguaio, Eduardo Bonomi, afirmou hoje em uma entrevista para o diário La Republica que o governo já verificou os antecedentes dos prisioneiros e foi comprovado que “não existe risco ou perigo algum que habilite a implementação de cuidados especiais”.  

Os prisioneiros seriam de nacionalidade síria e paquistanesa. O ministro também asseverou que Uruguai deverá proteger os futuros refugiados e dar as garantias necessárias que estão previstas nos convênios internacionais.

Quando perguntado se teria exigido contrapartidas de Washington, Mujica disse que não costuma fazer favores de graça, mas que "dessa vez é preciso fazer isso". Mujica ainda defendeu o colega norte-americano, dizendo que Obama herdou o problema de Guantánamo de administrações anteriores.

"Não se deve fazer novela, não há nenhum acordo. É um pedido por uma questão de direitos humanos. Mais de cem pessoas que estão presas há 13 anos. Não viram um juiz, não viram um promotor, e o presidente dos Estados Unidos quer tirar esse problema das costas. O Senado lhe exige 60 coisas, então pediu a um montão de países se podiam dar refúgio a alguns e eu lhe disse que sim", explicou Mujica à imprensa.

O fechamento da base militar de Guantánamo foi uma das principais bandeiras da corrida presidencial de 2008. Após ser eleito, reafirmou o compromisso de encerrar a prisão. Em abril do ano passado, em meio a uma greve de fome dos detentos — ainda há 155 pessoas sob custódia —, Obama disse que Guantánamo "não é necessária para manter os EUA seguros. É uma ferramenta de recrutamento para extremistas e precisa ser fechada". Um mês depois, a Casa Branca suspendeu a moratória de alguns países para transferir presos ao Iêmen e pediu ao Congresso que diminuísse as restrições.

Reação no Uruguai

A oposição no Uruguai realizou pelas redes sociais várias críticas à decisão do presidente Mujica. Em clima de campanha eleitoral — as eleições gerais estão marcadas para o mês de outubro —, o pré-candidato e senador pelo Partido Colorado, José Amorín Batlle, disse esperar que “Obama e os cinco presos de Guantánamo não tapem a inflação, a insegurança e a educação. Esses são os problemas reais do Uruguai”. (Com Opera Mundi)


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