Cadáver de Stuart Angel foi enterrado na cabeceira de uma das pistas da Base Aérea de Santa Cruz

                                                                

O capitão da Aeronáutica reformado Álvaro Moreira de Oliveira Filho afirmou à Comissão Nacional da Verdade que o cadáver de Stuart Edgar Angel Jones foi ocultado por oficiais da Aeronáutica na cabeceira de uma das pistas da Base Aérea de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro.

A revelação fez parte da apresentação realizada hoje pela CNV, no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, sobre o caso Stuart Angel. O depoimento, em vídeo, de Moreira, foi gravado no último dia 6 de junho. Entretanto, Moreira prestou uma série de depoimentos à Comissão. A primeira entrevista ocorreu em 23 de setembro de 2013. O depoimento foi complementado em 17 de fevereiro de 2014, em Salvador.

Segundo o capitão Álvaro Moreira, o sargento da Aeronáutica José do Nascimento Cabral, já falecido, havia comentado com ele duas vezes a respeito de episódio que viveu enquanto servia na Base Aérea de Santa Cruz.

Acesse os documentos apresentados hoje pela CNV e o vídeo com o depoimento do capitão Moreira:

De acordo com o sargento José do Nascimento, a Base Aérea de Santa Cruz teria recebido visita noturna de grupo de oficiais comandado pelo brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, que ordenou a interdição da pista daquela base aérea. José do Nascimento teve conhecimento da ordem do brigadeiro Burnier por estar naquela noite de plantão na torre de controle da Base Aérea de Santa Cruz, da qual pode observar na cabeceira de pista, enterro de cadáver de pessoa que, como posteriormente soube, havia sido morta na Base Aérea do Galeão. À época, os colegas de José do Nascimento Cabral na Base Aérea de Santa Cruz presumiram tratar-se do corpo de Stuart Edgar Angel Jones.

Segundo José do Nascimento, que fez as revelações à Moreira em seu leito de morte, a cabeceira da pista era um local de difícil acesso, pouco frequentado pelos militares que serviam na base. Ainda segundo o sargento Nascimento, um dos oficiais que acompanhavam o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier naquela oportunidade seria o então comandante da Base Aérea do Galeão.

De posse dessa informação, a Comissão Nacional da Verdade requisitou ao Ministério da Defesa lista de todos os servidores civis e militares lotados na Base Aérea de Santa Cruz em maio de 1971, mês do desaparecimento de Stuart Angel. Nessa lista figura o nome do terceiro sargento José do Nascimento.

A Comissão Nacional da Verdade solicitou ao Ministério da Defesa informações sobre eventuais obras de reforma, ampliação e modificação nas pistas da Base Aérea de Santa Cruz e recebeu como resposta um conjunto de documentos que tratam de obras e alterações realizadas no local no período de 1974 a 1978, por duas empresas de engenharia.

Assessores da CNV mantiveram reunião com dirigentes de uma dessas empresas – a segunda empresa já foi extinta – na qual estes afirmaram não haver registro ou memória de anormalidades verificadas durante as obras na Base Aérea de Santa Cruz.

Em março de 2014, a Comissão Nacional da Verdade recebeu novas informações de oficial reformado da aeronáutica, cuja identidade será preservada nos termos da lei que criou a CNV, que corroboraram as informações de que a Base Aérea de Santa Cruz foi usada no início da década de 1970 para a detenção ilegal e tortura de presos políticos, assim como base para operações de ocultação de seus cadáveres.

Em novo depoimento à CNV, gravado em vídeo, em 6 de junho de 2014, o capitão reformado Álvaro Moreira de Oliveira Filho reiterou de forma precisa tudo o que havia declarado nos dois depoimentos anteriores a respeito da ocultação do cadáver de Stuart Angel na Base Aérea de Santa Cruz. Veja o vídeo aqui.

A fim de obter informações mais precisas que possam orientar a busca e localização de restos mortais de desaparecidos políticos por meio de sondagem de solo com radar GPR e trabalhos de escavação, a Comissão Nacional da Verdade convocará nas próximas semanas os comandantes da Base Aérea de Santa Cruz e da Base Aérea do Galeão no período da ditadura miliar para que prestem esclarecimentos sobre graves violações de direitos humanos ocorridas naquelas instalações militares.

A apresentação da CNV sobre o caso Stuart Angel foi acompanhada pela jornalista Hildegard Angel, irmã da vítima. Ela agradeceu e parabenizou o trabalho da Comissão.

Segundo o coordenador da CNV, Pedro Dallari, a Aeronáutica deve explicações sobre o caso e também deve colaborar com a Comissão da Verdade em busca de mais informações sobre o caso. "O que não pode é a Aeronáutica continuar negando informações. O que já temos sobre o caso obriga a Aeronáutica a se posicionar", afirmou.


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