Centrais sindicais se unem para convocação de greve geral em novembro
© Foto: Leonardo Veras
As centrais sindicais do Brasil iniciaram nesta quarta-feira, em São Paulo, uma ampla discussão para estabelecer uma data para convocação de uma greve geral contra as medidas que vêm sendo anunciadas pelo governo, como mudanças na Previdência, legislação trabalhista, congelamento de gasto público por 20 anos, entre outras.
Mesmo centrais que mostravam antagonismos entre si atenderam à convocação para o encontro na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), até mesmo a Força Sindical, única que continua a dialogar com o governo. À reunião compareceram representantes da CUT, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Conlutas, Central Geral de Trabalhadores do Brasil (CGTB), Intersindical e União Sindical dos Trabalhadores (UST), representando quase 13 milhões de filiados em todo o país.
A Sputnik Brasil conversou com secretário adjunto de Assuntos Internacionais da CUT, Ariovaldo Camargo, para quem a reunião de todas as centrais em torno de uma atuação conjunta mostra a gravidade política, econômica e social enfrentada hoje pelo Brasil. "A proposta de uma greve geral reúne as principais centrais sindicais do país em um mesmo tema, sob a mesma ótica e mesma necessidade de fortalecimento e unidade dos trabalhadores na perspectiva da construção da resistência ao conjunto de ações que o governo golpista de Michel Temer vem anunciando desde o princípio do golpe até o presente momento com algumas realidades com o envio de projetos à Câmara dos Deputados como a PEC 241 (que congela os gastos públicos por 20 anos)."
Camargo lembra que a proposta, já aprovada em primeiro turno, na Câmara não passe no segundo turno e, se aprovada, que o Senado rejeite a proposta que, segundo ele, destrói toda a política social do país, o que levaria a condições muito difíceis na manutenção dos direitos dos trabalhadores.
Entre os riscos apontados pelo sindicalista está a perda da saúde e da educação pública para todos, a reforma da Previdência que eleva a 65 anos a idade mínima para os trabalhadores tanto homens quanto mulheres para se aposentar.
"Não há divergências entre as centrais, inclusive a Força Sindical, que não tem concordância com essas propostas que já foram anunciadas. Todos os trabalhadores, sejam eles de quais centrais pertencem seus sindicatos, estão convocados para a realização dessa greve geral.
A data indicada é 11 de novembro, mas seja qual for a confirmação, o norte é a resistência contra tudo aquilo que o governo de Michel Temer e seus 300 e poucos deputados, que votaram pelo impeachment da presidente Dilma e também aprovaram a PEC 241 em primeiro turno." Camargo admite que não se lança greve geral a qualquer hora e contra medidas pontuais.
"Há mais de 20 anos não temos uma greve geral no país. Essa tradição não está dada no histórico da classe trabalhadoras brasileira. No entanto, o que temos hoje é um ataque descomunal do ponto de vista da retirada de direitos do conjunto da classe trabalhadora, que vai do setor público aos mais precarizados, como o legislado perdendo relevância para o acordado, com a possibilidade de elevação da jornada de trabalho para 72 horas semanais, o desmonte da escola pública com a reforma do ensino médio."
Metalúrgicos, petroleiros, bancários mais os servidores públicos federais, estaduais, municipais também estão se mobilizando. Os professores em São Paulo já estão com a data marcada esperando apenas a definição da data das centrais sindicais para se incorporarem à greve geral.
"Vamos medir a pressão dos movimentos sociais para construir o dia do grande enfrentamento que teremos que fazer. O governo já mostrou a que veio, é um governo que vem para atacar os trabalhadores, para seguir as receitas do neoliberalismo que pensávamos ter amortecido em 2002 com a eleição do presidente Lula.
Lamentavelmente essa pauta volta com força porque aqueles que patrocinaram o golpe estão cobrando o preço do patrocínio, e o Temer está a serviço dessas forças conservadoras, do grande capital", diz Camargo, para quem a participação dos trabalhadores da área de transporte será fundamental para que paralisem as atividades do dia e dificultem a ida ao trabalho daqueles que não aderirem à greve. Brasil não tem histórico de greve gerais.
Danilo Sousa e Silva, professor de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Instituto de Ciências Sociais da universidade, admite que, de início, nenhuma greve é fácil. Centrais sindicais preparam greve geral contra ajuste fiscal do Governo Para o professor, é difícil entrar em greve, manter e às vezes é difícil até sair de greve.
Uma greve geral envolvendo grande parte dos setores, segundo ele, envolve uma comunicação e uma densidade política muito grande e é muito difícil de ser consolidada. A própria notícia de que há uma proposta de greve geral que reuniu centrais que nem sempre andam juntas e frequentemente são antagonistas é demonstrativo da gravidade do momento.
Na avaliação de Sousa e Silva, não é nada fácil chegar a 100% de adesão numa greve, mas a convocação dá uma ideia do ímpeto político que essas centrais vão colocar no cenário político e que pode gerar um impacto muito grande. Sousa e Silva diz que é difícil falar de uma falta de tradição de greve geral no país.
Em 1917, houve a consolidação do movimento operário no Brasil, uma época particularmente conturbada no mundo, com a revolução bolchevique, a difusão de um movimento operário em parte tocado por comunistas e anarquistas. Para o professor, aquele contexto era muito muito diferente do de 1989. No início do século 20, lembra, esse movimento de greve operária deu origem a famosa frase atribuída ao presidente Washington Luiz: 'A questão operária é uma questão de polícia.' "A característica desse momento de chamar uma greve geral vem da impossibilidade e indisposição de diálogo por parte dos governantes.
Se algo pode unir as pontas dessa esporádica proposta de greve geral é isso: vivemos um momento de muito séria centralização da tomada de decisões e de verdadeiro risco ao que foi conquistado e criou uma série de garantias trabalhistas muito importantes para a identidade do movimento sindical e também para o que nós entendemos de segurança do trabalho, no sentido de que ele é regulamentado e protegido. Esse Estado não está disposto a manter essa segurança.
Pelo contrário: está a retirando velozmente." Para Sousa e Silva, a mudança das leis trabalhistas a fim de aumentara produtividade do país não se justifica. "A proposta de uma jornada de trabalho de 12 horas reproduz o que era proposto na década de 60, no século 19, na Inglaterra. Se isso é modernização, acho que a gente vai muito mal."
(Com Sputnik)
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