Livro ‘Álvares Cabral, 400 – A Casa da Liberdade’ conta a história de 70 anos do Sindicato dos Jornalistas

                                                                    
O Sindicato e a Casa do Jornalista lançam no dia 7 de novembro, segunda-feira, às 20h, o livro “Álvares Cabral, 400 – A Casa da Liberdade”. O livro é um projeto da Livraria e Editora Graphar, executado com recursos da Lei Rouanet e patrocínio da CBMM, que busca retratar os 70 anos do Sindicato e 50 anos da Casa do Jornalista, completados em 2015. “É uma biografia do Sindicato e da Casa do Jornalista”, resume o editor Paulo Lemos, responsável pela organização do projeto.

Paulo Lemos considera muito importante que as novas gerações possam conhecer a história da entidade. “Espero que o livro influencie os jovens mostrando as lutas travadas no Sindicato em todos esses anos”, diz Lemos, explicando que a lei de incentivo à cultura viabiliza isso, ao distribuir uma cota significativa de exemplares para as bibliotecas públicas municipais e estaduais, além de entidades indicadas pelo Ministério da Cultura. Outra parte da tiragem de 1.000 exemplares foi doada à Casa do Jornalista e o restante será vendido pela editora, via internet. No lançamento, o exemplar custará R$ 30.


Em formato A4, papel cuchê fosco 135 g com verniz no miolo, cuchê fosco 350 g com verniz e laminação e alto relevo na capa, o livro tem 160 páginas e é ricamente ilustrado com fotografias e reprodução de documentos que exigiu cuidados especiais em função da sua antiguidade. A capa reproduz o painel “Imprensa”, da artista plástica Yara Tupynambá, que ocupa uma parede da sede do Sindicato. A foto é de Vera Godoy, também responsável pela pesquisa fotográfica.

O conteúdo está dividido em duas partes – na primeira, “Sete décadas de uma épica travessia”, os 70 anos do Sindicato e 50 da Casa são reconstituídos pelo texto sensível e atento do jornalista e escritor Paulinho Assunção, com base em minuciosa pesquisa; a segunda, “Mudanças, caminhos, interrogações”, contém análises feitas por cinco jornalistas (João Paulo Cunha, Lorena Tárcia, Fabrício Marques, Mirian Chrystus e José Maria Rabêlo) sobre o passado, o presente e o futuro do jornalismo. O presidente do Sindicato, Kerison Lopes, e o presidente da Casa, Mauro Werkema, assinam os textos de apresentação do livro. Uma galeria de presidentes e uma bibliografia completam o volume.

“O livro é um documento importante, escrito a partir de fontes fidedignas, sobre estes 70 anos do Sindicato”, ressalta Mauro Werkema. “Ele retrata as lutas da categoria, o nascimento do novo sindicalismo, com a Intersindical, que se reunia na Casa do Jornalista. É um documento de valor histórico, não só do movimento sindical, mas também da resistência à ditadura”, acrescenta.

Informações em profusão

Falta de fontes não foi a dificuldade do trabalho, mas sim o prazo curto de três meses para construir um relato que cobrisse 70 anos. “As dificuldades também se deram nos próprios critérios de escolha em meio à profusão impressionante de informações, à enormidade de dados e episódios que surgiam a cada momento de pesquisa”, conta Paulinho Assunção.

Ele destaca a natureza peculiar de um sindicato de jornalistas, por sua inserção na política, na cultura, na sociedade civil, paralelamente às suas atividades de representação sindical. “Digamos que é uma natureza de sensibilidade à flor da pele”, observa Paulinho. “Por um sindicato de jornalistas ressoam os batimentos cardíacos do cotidiano, da vida cotidiana, da vida civil, batimentos que crescem e aumentam exponencialmente nos momentos de tensão política e histórica. Escrever o livro, portanto, era fazer a travessia por um mar permanentemente encrespado, um mar revolto.”

Princípios ameaçados

Como estratégia para construir o relato, o autor adotou alguns critérios, fundamentos e princípios inegociáveis na profissão de jornalista: a defesa da liberdade de expressão, a defesa da democracia ou a insubmissão a qualquer tipo de cerceamento ao exercício profissional. “Esses fundamentos foram os meus guias para revisitar a história tanto do Sindicato quanto da Casa, a Casa que, a partir de 1966, torna-se, mais do que sede, uma entidade-irmã do Sindicato, o seu símbolo libertário”, informa o escritor.

Paulinho procurou identificar todos os momentos em que esses princípios e fundamentos estiveram ameaçados pelos governantes de plantão ou por grupos e correntes a seu serviço, nos 70 anos que pesquisa abrangeu. “Assim que percebia esses momentos de ameaça nas dobras da história, procurava registrá-los, assim como registrava a reação legítima das diversas diretorias contra tais afrontamentos”, explica.

Entre esses momentos ele cita: o movimento golpista que, em 1955, tentou impedir a posse o presidente Juscelino Kubitschek; o golpe militar de 1964; a Lei de Imprensa do ditador Castelo Branco; o período sombrio que adveio com a edição do AI-5 e os acontecimentos mais recentes com a destituição da presidenta Dilma Rousseff.

Fontes e depoimentos

Para reconstituir a história, Paulinho Assunção se valeu de um sem-número de conversas formais e informais com colegas jornalistas, de entrevistas, de depoimentos de ex-presidentes, de uma boa seleta de livros a respeito desse período, de consultas às hemerotecas da Biblioteca Nacional, da Biblioteca Luís de Bessa, do Arquivo Público Mineiro, do arquivo da Casa do Jornalista, especialmente os livros de atas, e até mesmo do reavivamento da sua própria memória, na convivência que teve com vários dos que fizeram e fazem parte dessa história.

“A revisitação a esses arquivos históricos e à bibliografia escolhida serviu-me para reconstituir as gestões de ex-presidentes já falecidos, como Ney Octavianni Bernis, Cid Rebelo Horta, José Frederico Sobrinho, Ricardo de Carvalho, Gonçalo Coelho e Salomão Borges”, conta Paulinho.

Para reconstituir a gestão do ex-presidente José Mendonça, o autor se valeu de um livro de grande valor histórico, escrito pelos jornalistas Manoel Marcos Guimarães, Flávio Friche e Maria Auxiliadora Faria. O período do Virgílio Horácio de Castro Veado tem como fontes ricas e luminosas os livros do próprio ex-presidente. Para o perfil do Dídimo Paiva, presidente considerado um marco na trajetória do Sindicato, Paulinho recorreu ao livro “igualmente irretocável e definitivo” escrito por Sebastião Martins e Alberto Sena. Todos os ex-presidentes posteriores rememoraram as suas gestões por meio de depoimentos; Aloísio Morais e Kerison Lopes concederam longas entrevistas.

Crônica da liberdade

Com base no farto material recolhido, Paulinho Assunção não tem dúvida em afirmar que a história contada no livro está sob a égide da liberdade. “Mais do que os nomes de ex-presidentes e diretores que conduziram heroicamente esse quase século de travessia, a maior personagem desses 70 anos, na minha modesta opinião, foi a liberdade, a defesa da liberdade”, enfatiza. “As pontas que unem 1945 a 2016 estão enlaçadas pela defesa da democracia, a defesa do exercício profissional, a defesa dos direitos humanos, a liberdade de expressão, a solidariedade às causas e lutas da sociedade civil”, afirma.

Apesar do seu esforço hercúleo, Paulinho Assunção não tem a pretensão de ter escrito a história definitiva do Sindicato, mas “uma crônica histórico-afetiva” dos seus primeiros 70 anos. “Cada jornalista mineiro que ler este livro, perceberá a falta deste ou daquele fato, deste ou daquele acontecimento. Mas escrever também é isto. Ter noção da incompletude”, argumenta.

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