Oscar: Netflix gastou entre 10 e 20 milhões de dólares para divulgar um dos favoritos, o mexicano "Roma"
Caso você sonhe em algum dia ter nas mãos uma estatueta do Oscar, o prêmio mais importante do cinema, recomendamos que acompanhe o noticiário ou se aventure por livros de história em busca de um fato dramático que possa ser recontado. Nenhum tema atrai mais nomeações ao Oscar que a filmagem de um fato real interpretado com sensibilidade. O importante é: drama, drama, drama.
Entre a grande quantidade de filmes que se qualificam para a corrida ao Oscar, os nomeados pela Academia ou premiados como melhor filme geralmente são os que se encaixam no gênero "drama".
Embora entre os filmes qualificados para a estatueta apenas 19% sejam dramas, 38% dos que levam o prêmio de "Melhor Filme" são deste gênero.
O oposto acontece com as comédias: entre as obras qualificadas para a estatueta há muitos filmes do gênero, mas raramente levam o prêmio principal.
O que agrada à Academia
Mas que outros componentes um filme precisa ter para agradar à Academia? Existem características que aumentam as chances de ser indicado como "Melhor Filme". Se a história real que você encontrou não basta para uma adaptação cinematográfica, conheça os ingredientes que agradam ao júri da Academia.
Alguns exemplos: o antagonista no filme de Clint Eastwood Sniper Americano, sobre o franco-atirador Chris Kyle, recebeu características de diferentes personagens e a obra foi nomeada para "Melhor Filme".
Em 12 Anos de Escravidão, a disputa legal sobre as origens de Solomon Northup foi abreviada por questões de viabilidade, e o filme acabou recebendo a estatueta principal. Filmes com certos ingredientes são, portanto, mais propensos a serem indicados como melhor filme pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, do que filmes sem eles.
A Deutsche Welle pesquisou estas características no banco de dados online TVTropes.org. Trata-se de um banco de dados participativo, no qual usuários não comerciais podem inserir temas, padrões e elementos recorrentes em várias mídias, não apenas em filmes, mas também, por exemplo, em games ou mangás.
A DW identificou razões e componentes - os chamados tropes, ou padrões narrativos - que estatisticamente exercem influência significativa na nomeação para o Oscar na categoria de "Melhor Filme".
A metodologia
O banco de dados resulta da análise de 2.682 filmes disponibilizados para o Oscar desde o ano 2000, aos quais TVTropes.org atribuiu categorias com temas cinematográficos. Assim é possível examinar o gosto da Academia do Oscar nos últimos 20 anos e deduzir supostas preferências.
Muitas vezes em tom irônico, a plataforma registra com que frequência, por exemplo, pessoas têm um casamento feliz, as alusões a outros filmes, ou quando o mordomo é o assassino. Os usuários podem não apenas coletar e adicionar exemplos, mas também criar suas próprias páginas.
Nessas plataformas dos usuários, há também elementos surpreendentemente curiosos: quando foi servido sushi em um corpo humano, quando crianças foram mandadas para um acampamento para emagrecer, ou quando Buenos Aires apareceu como a capital do Brasil.
Adaptações de romances
Sob o título "Honra em vez de razão", a plataforma lista cenas, por exemplo, em que honra e orgulho contam mais do que o racional – outro elemento que também parece agradar à Academia. Pelo menos é quatro vezes mais provável que seja nomeado para um Oscar um filme com esta característica do que um filme sem ela.
Da mesma forma, a probabilidade de um filme com final sentimental ser indicado ao Oscar é quase três vezes maior do que um com outro final. Por exemplo, se em O Senhor dos Anéis Frodo abandona seu amigo Sam na última parte do filme para se ocupar de seu anel após a morte simbólica, isso impressiona a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
O Senhor dos Anéis, que recebeu o Oscar de melhor fotografia em 2004, é um bom exemplo de como agradar ao júri. Adaptações inovadoras, como O paciente inglês, Quem Quer Ser um Milionário? ou Forrest Gump: O Contador de Histórias, ou paisagens deslumbrantes, como em Entre Dois Amores, Titanic e Dança com lobos, são outros dois critérios importantes.
Algumas pitadas de drama e tragédia, um pouco de kitsch e friozinho na barriga completam a receita. Porque também elementos como um casamento feliz aumentam as chances de ser indicado como "Melhor Filme".
Sem esquecer o álcool
Entre os oito candidatos ao melhor filme deste ano estão quatro filmes em que os usuários de TVTropes.org descobriram alcoólatras: Em Nasce Uma Estrela, o cantor Jackson Maine, interpretado por Bradley Cooper, bebe até a ruína.
Mahershala Ali é um pianista talentoso e gosta de beber uma garrafa ou duas em Green Book: o Guia. Em BlacKkKlansman: O Infiltrado, o membro do Ku-Klux-Klan Ivanhoe está constantemente bêbado. E, em Vice, tanto os personagens Dick Cheney como o presidente George W. Bush têm um problema com álcool.
Isso porque a lista nem sequer considera os excessos de álcool em Bohemian Rhapsody, ou a bebedeira por solidão e frustração no drama familiar mexicano Roma,– ambos também concorrem ao Oscar de melhor filme.
E se um filme unir uma história real com uma dose de alcoolismo e cenografia de tirar o fôlego, ele tem a garantia de levar um Oscar? Não necessariamente. De acordo com a análise, não existem razões específicas que levem estatisticamente a uma maior frequência nas nomeações ao Oscar. Só depois que eles foram nomeados é que se pode identificar os traços de sucesso.
Drama não é tudo
Para que um filme apareça na seleção para o prêmio principal, ele tem que ter sido exibido por pelo menos sete dias seguidos no ano anterior em algum cinema do condado de Los Angeles. Netflix, por exemplo, exibiu Roma, um drama sobre uma família mexicana de classe alta nos anos 70 e sua babá, brevemente no cinema especificamente para esse fim.
Segundo descrevem os sociólogos americanos Gabriel Rossman e Oliver Schilke em um estudo sobre o Oscar feito em 2014, a data de lançamento de um filme também é muito importante: uma indicação ao Oscar é mais provável se o filme for lançado mais para o final do ano.
Além do conteúdo, também contam para a nomeação os gastos com publicidade. A Netflix fez a campanha mais cara dos últimos anos para Roma. Segundo o jornal New York Times, teriam sido gastos entre 10 e 20 milhões de dólares.
(Com a DW)
(Com a DW)
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