OLHOS NOS OLHOS


José Carlos Alexandre (*)

Olhos nos olhos. A cabeça leve, bem leve.
São momentos de profunda reflexão.
A noite parece longa. Talvez a mais longas das noites.
Ao pé da minha cama, sobre o criado, uma reprodução fotográfica.
O papel estampando cores mais ou menos esmaecidas denuncia que o tempo realmente é inexorável.
Ou estou mais moço e isto nem sequer soa como um pesadelo.
Ou, tal qual Dorian Gray, cada vez que miro a fotografia, me sinto mais jovem.
Talvez por ter sido pego pela lente bem distante, na, até então, minha mesa de trabalho...
A presença, em destaque, de companheiros que já morreram chama-me à realidade
Trata-se de um foto de talvez mais de quinze anos...
Estávamos na redação do então vespertino da cidade. Naquela época já bem matutino,concorrendo com sua publicação-mãe.
Trabalhávamos ( e duramente) no Diário da Tarde, pertencente ao “maior jornal dos mineiros”, o Estado de Minas...
Um jornal leve, até nos títulos, embora por vezes trouxesse manchetes um tanto quanto pesadas.
Relatando crimes, fruto de uma sociedade que se diluía num capitalismo infecto e explorador.
Quantos éramos? Mesmo que recorramos à imagem, dificilmente poderíamos lembrar.
A explicação é simples: em jornal, tal qual nas grandes indústrias, trabalhávamos por turnos...
Se se era do turno da manhã raramente se conhecia os do turno da noite e vice-versa.
Ou quando muito deparava vez ou outra, se retardatário, com algum do turno da tarde...
Além disso, sempre havia os que estavam de férias, de licença médica...
Tínhamos uma certeza: todos nos empanávamos para dar conta do recado.
E que recado...
Eu a maldizer como sempre o capitalismo.
Os demais a discordar, ou nem sequer ouvir-me, mas, no fundo, no fundo, a prestar-me constantemente a sua solidariedade.
Que mais queria?
Se toda minha vida é uma permanente luta por um mundo solidário?
Ah! Saudade! Palavrinha que em português expressa todo nosso sentimento...
Um dia, um dia...
Bom! Melhor deixar para lá
Que a alvorada já se anuncia...

(*) Este texto é uma primeira versão. A definitiva virá sem erros e com toda a graça e a competência de um escritor do nível de Carlos Lúcio Gontijo,, que, infelizmente, não aparece nesta foto, já que, na época, era um dos mais credenciados revisores tanto do Diário da Tarde quanto do Estado de Minas.

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