Bancos e 500 empresas transnacionais controlam economias, diz João Pedro Stedile
30 de janeiro de 2012
Luiz Felipe Albuquerque
Da Página do MST
Da Página do MST
A Assembleia dos Movimentos Sociais - uma das atividades mais tradicionais nas diversas edições do Fórum Social Mundial - foi responsável por encerrar o Fórum Social Temático 2012, neste sábado (28/1), ao contar com a participação de mais de 1.500 pessoas.
A partir da discussão das demandas dos movimentos sociais e com a finalidade de se construir uma bandeira de lutas unitária para o próximo período, a assembleia definiu como prioritário para o primeiro semestre a articulação em torno da Conferência da Rio+20 e uma mobilização massiva de caráter internacional para o dia 5 de julho, dia internacional do meio ambiente.
Para João Pedro Stedile, da Direção Nacional do MST, o caráter global e estrutural da atual crise do capitalismo assola o sistema, embora não signifique que seu fim já esteja anunciado, uma vez que em outros momentos históricos sobreviveu em situações semelhantes.
“Pela primeira vez há um capitalismo formado pelos bancos e por cerca de 500 empresas transnacionais que controlam a economia mundial”, disse Stedile, ao apontar os desafios e contradições que o sistema enfrenta para a superação de sua crise.
Segundo ele, há uma enorme emissão de dólares pelos Estados Unidos e o estímulo para que o mundo utilize sua moeda. Diversas guerras localizadas são provocadas para alimentar a indústria bélica, diante da impossibilidade de uma guerra mundial, já que outros países também detêm o poderio da bomba atômica. Além disso, ele observa a utilização do Estado como instrumento de acumulação de capital para salvar os bancos.
"O capitalismo só sai da crise destruindo meios de produção e força de trabalho para a sua reconstrução. Mas como farão isso dessa vez?”, perguntou Stedile. Para ele, os governos atuais não têm mais o poder político para tomarem decisões que ditem o rumo do mundo pelo poder dos capitalistas da atualidade.
“Sem mover as massas não teremos força para enfrentar o capital”, concluiu Stedile.
Desafios
Em torno de uma conjuntura política confusa e complexa, os movimentos sociais também encontram diversos desafios para a construção e a ascensão da mobilização popular que vise uma transformação estrutural.
O primeiro deles apontado na assembleia é justamente o que fazer para tirar as massas da apatia e colocá-la em luta. Além disso, há o desafio de dialogar e explicar para os povos o caminho para se buscar um mundo cujas relações sociais se baseiem em outros valores e princípios. O que implica, entre outras coisas, ao enfrentamento com os meios de comunicação de massa para se fazer o embate ideológico.
“Temos um grande desafio de construir a unidade dentro da diversidade. Os pontos comuns que nos unem é uma luta anticapitalista, antihomofóbica, antipatriarcal. É uma luta por justiça social e ambiental”, avalia Carmem Foro, da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Para ela, é necessária a construção de lutas de massa conjunta contra o sistema financeiro e os meios de comunicação
Cúpula dos Povos
Organizada por mais de 30 organizações nacionais e internacionais, a Cúpula dos Povos para a Rio+20 foi oficializada neste sábado, durante a Assembleia dos Movimentos Sociais.
A Cúpula dos Povos – que acontecerá paralelamente a Rio+20 - tem como objetivo denunciar as falsas soluções apresentadas pelo capitalismo para a superação da crise ambiental, denominada de economia verde.
“A solução apontada pelos capitalistas é sempre a saída pelo mercado. Mas acontece que o conjunto de crises – social, econômica, ambiental - demonstra que o problema é o próprio modelo capitalista”, acredita Pedro Ivo, do Comitê Facilitador do evento.
“A Rio+20 servirá para legitimar um avanço mais ofensivo sobre os bens naturais, mascarado pelo nome de economia verde”, apontou Joel Suárez, coordenador do Centro Martir Luther King, de Cuba.
O conceito “economia verde” – trabalhado pelo mercado como a solução para a crise ambiental - traz consigo o que os movimentos sociais chamam de “falsas soluções”.
Ou seja, é uma artimanha do capitalismo para se travestir de verde e continuar acumulando riquezas, tais como as políticas voltadas para o etanol, os transgênicos, a compra de créditos de carbono, entre outras medidas.
Para Pablo Solón, representante da Bolívia na ONU, a luta contra esse discurso do capital já começou, na medida em que diversas ações são realizadas mundo afora e alternativas a essa forma de produção são trabalhadas, como a agroecologia e a agricultura familiar.
“O que temos que fazer é aglutinar todas as ações que já estamos fazendo e trabalhá-las na Rio+20”, apontou o representante boliviano. Para ele, a Cúpula será um momento importante para a reorganização da luta e para o fortalecimento e acumulação de força dos movimentos sociais.
“Dizer capitalismo verde é dizer que ele será mais selvagem do que nunca”, afirmou Luiz Gonzaga da Silva, o Gege, da Comissão dos Movimentos Populares (CMP). Segundo ele, os movimentos não estão construindo a Cúpula dos Povos apenas para denunciar, mas para demonstrar a real possibilidade de transformar a sociedade. (Com o MST)
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