José Francisco Neres, operário e ex-vereador comunista

                                   José Francisco Neres, ou simplesmente Pinheiro, codinome que usou durante o período em que o país foi governado por uma Ditadura Militar, iniciou sua militância no movimento sindical ainda em 1954 no Sindicato dos Tecelões. Teve tanto o mandato de dirigente sindical, como o de vereador eleito pela cidade de cidade de Sabará, cassados pelo golpe civil/militar de 1964.

Em 1976 foi preso e duramente torturado por defender seus ideais de liberdade e igualdade. Foi o último preso politico de Minas Gerais a ser colocado em liberdade. 

Teve em 1996 uma reabilitação politica promovida pela Câmara Municipal de Sabará, e no dia 13 de março de 2012 foi homenageado por esta mesma casa legislativa.

Esteve presente nas principais lutas da classe trabalhadora em Minas Gerais desde os anos 60.

Se apresentou para os estudantes e o ex-presidente Fidel Castro durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes em Belo Horizonte no ano de 1999, tocando canções revolucionárias em recordação a Che Guevara. 

(Foi diretor do jornal União Sindical, fundado por dois jornalistas comunistas:José Carlos Alexandre e José do Carmo Rocha, além do jornalista João de Paulo Pires, ex-diretor da Associação Mineira de Imprensa.)

Atualmente participa de forma ativa nos movimentos sociais e em defesa dos direitos humanos, contribuindo em mesas de debates e eventos voltados para a conquista da verdade em relação à repressão ocorrida durante os anos de chumbo.

Dossiê J. F. Neres (Pinheiro) “Pensamento passado para fora da prisão por Neres clandestinamente, no mês de junho de 1976.”

Interrompe-se bruscamente o sol; das flores só o cheiro cada vez mais distante. Da música os acordes mais dissonantes, depois estridentes até desaparecerem os acordes; a melodia foi vencida.
Resta o barulho ensurdecedor tentando ofuscar a lembrança, as vozes de crianças, as vozes do povo, as vozes do novo, o barulho contra o grito.
Gritos, urros, homem contra maquina de dor, a maquina contendo refinada tecnologia, manejada de arte sinistra.
Homem no escuro, o ar cada vez mais fragmentado. Sombra da noite, enfim a noite. As asas do pássaro o carregam para a noite.
Mas não.... é proibido anoitecer. Aqui também a medicina tem seu lugar, encobre a noite mas reforça a escuridão.
Nos raros intervalos em que se pode lembrar, explode o canto novo. É preciso ocupar todas as horas do dia, todos os dias da noite. Som, barulho, dança macabra, onde o velho e o filho bastardo descarregam sua ira como que vingando sua decadência.
Como pode o passado se atirar com tanta força contra o presente e o futuro? O velho ferido de morte em 1917. De lá para cá sobrevive sugando força de sua filha bastarda – a classe média, e se alimentando da bestialidade, do obscurantismo que também são sub produto do velho.
Agora a dança é mais feroz; não conta horas. O dia se perdeu, o ar ficou mais escasso, os combustíveis para vida foram cortados. Em lugar o seu terror, o delírio, as alucinações; o encontro com a noite se faz urgente antes que se apague da mente as cores, as lembranças e a força do novo.
Até a noite foi acorrentada, passou a ser jogada contra a escuridão. A força nova se mantém por um fio, comprida, reprimida. Momentos de refluxo: momentos em que o velho se impõe e festeja a vitória que antevê.
Mas um rasgo de sopro passa pelo fio e arromba a janela. Impõe de novo o novo, de a lembrança, de novo a herança, e lá fora se distingue a cor vermelha, a tocha de luz que avança nas mãos da classe operária. 

JOSÉ FRANCISCO NERES (Com o PCB de Sabará)

Comentários