Cabral invade a aldeia
Marx escreveu que 'a história só se repete como tragédia ou como farsa'. Taí: Cabral invadiu a Aldeia Maracanã, com suas naus cruzadistas, e expulsa seus nativos. Mas a luta vai prosseguir, e os 'conquistadores' contemporâneos, mercadores dos espaços urbanos, encontrarão resistência!
Chico Alencar (*)
Não, não estamos em 1500. O fato truculento se deu há pouco, no Rio. Mais de 200 PMs, apoiados por carros blindados e helicóptero, desalojaram indígenas que ocupavam há anos o antigo Museu do Índio, no Maracanã.
O prédio público se tornara 'ruína dirigida', para a prevalência de interesses da especulação imobiliária e dos negócios privados - entre eles, o assumido pelo governo do estado, de ali fazer um... estacionamento! Esse projeto nem a Fifa, argentarista como é, segurou! Graças à tenaz ocupação, o governo teve que recuar e prometeu preservar o imóvel. Mas não aceita a proposta de criar ali um Centro de Referência das Culturas Indígenas, muito menos de vê-lo ocupado por representantes de povos originários.
A Justiça injusta concedeu reintegração de posse para quem nunca zelou pelo local. E a Polícia de Cabral não cumpriu integralmente o acordo mediado com parlamentares do PSOL e um procurador da República: invadiu o prédio antes mesmo dos 10 minutos solicitados para um ritual de finalização da ocupação.
Às centenas de pessoas que apoiavam, extra-muros, a boa causa, a tropa de choque distribuiu bombas, balas de borracha, gás pimenta e prisões, perseguindo os manifestantes pela rua afora.
Com uma ânsia de bater que, entre outras anormalidades, pode refletir não apenas o despreparo, mas também as condições de trabalho impostas pelo governo cujas ordens seus soldados são tão violentamente fiéis em obedecer ('o opressor introjeta seus valores no oprimido' - Paulo Freire).
Marx escreveu que 'a história só se repete como tragédia ou como farsa'. Taí: Cabral invadiu a Aldeia Maracanã, com suas naus cruzadistas, e expulsa seus nativos. Mas a luta vai prosseguir, e os 'conquistadores' contemporâneos, mercadores dos espaços urbanos, encontrarão resistência!
(*) Chico Alencar é deputado federal pelo PSOL/RJ.
Comentários