Importante editorial de "O Tempo", de 31/03/2013


                                                                             
Editorial.

Verdade, a vítima

A presidente Dilma Rousseff não estaria satisfeita com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que investiga violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988. A Comissão se detém em especial sobre os 21 anos de governos militares, a partir de 1964.

Nesse período, a presidente foi presa e torturada por resistência ao regime. A Comissão não estaria divulgando os inúmeros casos que poderiam sensibilizar a opinião pública, de modo a provocar uma comoção nacional e promover uma verdadeira cura desse trauma. 

Parece haver, dentro da Comissão, o mesmo desconforto. Dois de seus membros não têm comparecido às reuniões. A Comissão é uma alternativa ao impasse criado pela Lei da Anistia para que os crimes cometidos, perdoados por um pacto social, não sejam esquecidos.

A presidente teria citado o sucesso de outras comissões, na Argentina e África do Sul, que apelaram para os depoimentos públicos para chamar a atenção da nação. De fato, esta oportunidade está sendo perdida, na medida em que a comissão trabalha em relativo sigilo. 

Isso só interessa aos supostos responsáveis pelos crimes denunciados e em investigação. Ainda agora, a propósito deste 31 de março, os Clubes Militares emitiram uma nota em que afirmam que militares e civis agiam "no cumprimento do dever" e contra o "terrorismo". 

A democracia hoje vigente no país deveria permitir o debate livre e aberto dessa questão. No entanto, mesmo tendo acabado a guerra, a verdade continua sendo sua primeira vítima. Os principais envolvidos não têm como se justificar. Por isso, torcem pelo esquecimento.

No entanto, "o tempo não irá sufocar o direito das famílias à reparação integral nem da sociedade o direito à memória e à verdade". Além da Comissão, o país já produziu uma vasta literatura e mais documentos estão sendo colocados à disposição da opinião pública. 

Felizmente, essa parte da nossa história não começa nem termina na Comissão da Verdade.

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