Desvendando as cortinas (ou a luta dos 51 heróis do povo brasileiro)
José Carlos Alexandre
Acabo de receber de um novo amigo o exemplar do livro A Cortina de Ouro", de autoria do jornalista e historiador Roberto Costa.
Trata-se de uma publicação dos anos 50 que me fez meditar bastante nos anos 60 ao participar de reuniões e seminários sob o título de "Minério não dá duas safras", palavras atribuídas a um presidente da República mineiro, Arthur Bernardes, natural de Viçosa.
"A Cortina de Ouro" -escrita na prisão, por um preso político (cerca de 10 anos antes da ditadura de 1º de abril de 1964).
A obra aborda a história da mina do Morro Velho, localizada em Nova Lima, palco de um episódio épico na história do movimento operário brasileiro.
A demissão sumária de 51 trabalhadores, dentre os mais atuantes, sob a acusação de "sabotadores terroristas", quando defendiam melhores dias para o povo brasileiro.
Eles tinham ligações com o Partido Comunista Brasileiro e um grupo antifascista formado por homens e mulheres de várias tendências políticas, a Aliança Nacional Libertadora, ANL.
Por um erro de avaliação das condições históricas e objetivas, se reuniram para comemorar mais um aniversário da Revolução de Outubro na então União Soviética. em sete de novembro de 1948.
(A revolução dos operários, camponeses e militares progressistas da antiga Rússia se deu em 25 de outubro de 1917, ou em 7 de novembro do mesmo ano, conforme observe-se este ou aquele calendário...)
Estávamos em pleno início da guerra fria, o PCB havia sido cassado um ano antes e seus parlamentares em 1948 perderam o mandato.
E que bancada tinha o PCB!
Nela figuravam nada menos que Luiz Carlos Prestes (eleito senador por vários Estados), os deputados federais Jorge Amado e Carlos Marighella, dentre outros, além do deputado estadual Armando Ziller, referência maior do sindicalismo em Minas Gerais.
A repressão entrou em campo.
O PCB perdeu um de seus vereadores mais atuantes: William Dias Gomes.
Como resultado final do ato até certo ponto irrefletido houve a demissão dos 51 trabalhadores, sem direito a nada.
Deixando suas famílias em situação de dificuldades inimagináveis.
E alguns deles, já com seus pulmões contaminados pela silicose , fruto da poeira da minas, condenados à morte prematura.
Eu juntamente com dois filhos de um desses heróis da classe operária, depomos na Comissão Estadual da Verdade sobre tais fatos.
Os dois depoentes que me antecederam com muito mais informações.
Na ocasião propus a construção de um memorial em honra dos 51 heróis da classe operária brasileira,
homenageando-os com um monumento ou com um grande painel retratando sua luta no interior da mina de Morro Velho.
Uma luta que prosseguiu em Nova Lima e sua cidade-irmã, Raposos.
Luta levada adiante pelo Sindicato dos Mineiros, cuja tradição ultrapassa as fronteiras brasileiras.
Bem sei que não é fácil levar adiante tais empreitadas em Minas.
Mesmo colaboradores com que contava para reproduzir em desenho a luta dos trabalhadores no subsolo riquíssimo da então multinacional que fazia e desfazia em território mineiro, não corresponderam às minhas expectativas.
Pretendia usá-lo no meu artigo de 1º de Maio mas não foi possível.
Assim como também não é levada adiante a concretização do Memorial de Direitos Humanos no antigo prédio do DOPS, objeto de lei estadual a época do governador Itamar Franco.
Mais vale a esperança.
Um dia vamos fazer justiça àqueles 51 homens de aço que não se renderam e jamais de renderiam à repressão.
Um dia vamos tê-los em tela, talvez em um monumento colocado à entrada de Nova Lima, um movimento à luta dos 51, representando a luta dos trabalhadores de todo do subsolo, de todas a categorias.
Uma luta de todo o mundo.
Eu confio no desvendar de todas as cortinas.
Eu confio na vitória final da classe trabalhadores e do povo.
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