Um país injusto
"Este é um Brasil do qual muita gente quer desembarcar"
Vittorio Medioli
Não precisa ser um iluminado para enxergar os graves erros cometidos nas escolhas e apostas nacionais.
Jogar todo o cacife da Petrobras no pré-sal, que se viabilizaria apenas num cenário de preços crescentes do barril de petróleo, mais que atender o interesse nacional, atendia o interesse de um esquema que hoje se revela como “petrolão”.
Aumentar estupidamente os custos da máquina estatal, como se impostos e contribuições para sustentá-los caíssem de graça do céu, criou um ralo colossal nas contas públicas, penalizando diretamente a capacidade de desenvolvimento da economia. Pior, adicionando uma burocracia marcada de corrupção de toda espécie num quadro de selva de complicações.
Fazer crescer a carga tributária a níveis escandinavos, sem qualquer retorno compensador, aliás, deixando o cidadão a enfrentar a péssima qualidade dos desserviços públicos, apenas assoberbou a carga sobre setores primários, aqueles que desencadeiam o desenvolvimento sustentável. Perdeu-se a competitividade internacional da produção local; os setores industriais secaram a capacidade de sobreviver no mercado externo e nacional.
Deixar que as rédeas do poder ficassem em mãos de setores eminentemente especulativos e predatórios gerou imensos privilégios a eles. Aniquilou a credibilidade da economia brasileira, pois as rédeas nas mãos de especuladores incentivam a gangorra econômica, provocam variações abruptas, e delas vem o lucro do especulador. Assim se deu neste ano com uma variação do dólar em mais de 40% em apenas seis meses, ainda com um aumento de 50% dos juros.
Quer dizer que os últimos seis meses, os mais terríveis para a indústria e setores produtivos, foram os seis meses em que bancos acumularam os maiores lucros na história dos últimos 500 anos.
Dizer que isso foi por acaso é uma estupidez, medidas tomadas de costas para quem produz, emprega e arrecada são um crime. As medidas preservaram e engordaram os carrapatos e bernes e prostraram a vaca que dá leite.
Esse tipo de desgraça, normal num país que ainda não se libertou do patrimonialismo, tem um custo que vai muito além do momentâneo. Distorce a estrutura da economia local, privilegiando a especulação e prejudicando gravemente o que tem de bom no país. Surge como exemplo deseducador para as novas gerações.
O empreendedor, aquele que junta e apara as tábuas da canoa, e a coloca para navegar embarcando empregos e ciclos virtuosos, neste país faz papel de bobo, de otário. Submetido à sangria de taxas, impostos, de burocracias que no Brasil chegam a ser as mais caras, imbecis e desregradas do planeta, nunca terá vez. E isso se comprova no fechamento de centenas de empresas que acreditaram ter um mínimo de amparo pelo Estado.
Hoje, para empreender, depende-se de dezenas de órgãos de controle, de autorizações, de licenças, cada vez mais complicadas, caras e insuportáveis. De fiscalizações que têm seu principal foco em punir e multar, para aumentar a arrecadação, nunca em orientar, ajudar e fomentar as atividades. Por mais difíceis que sejam, as atividades precisam passar por tribunais de exceção, de tiranetes que podem engessar por anos um empreendimento e assim matá-lo junto com os empregos e os efeitos benfazejos.
Este é um Brasil do qual muita gente quer desembarcar. (Editorial de O Tempo, publicado em 31/05/20150
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