“Os pescadores palestinos devem poder trabalhar sem medo de ser assassinados”
JP Barrois, Zacharie Bak
A criminosa agressão e bloqueio sionista à faixa de Gaza tem entre as suas vítimas os pescadores palestinos, que vêm os seus barcos e apetrechos de pesca destruídos ou confiscados, e que se encontram sempre sob a ameaça das balas e dos mísseis israelitas. O secretário do Comité de Pescadores lança um veemente apelo à solidariedade internacional.
¿Como não pensar nas crianças de Gaza nesta altura de regresso às aulas? ¿Como falar de um regresso às aulas numa cidade em ruinas onde as escolas, objectivos principais do bombardeamento sionista de há um ano, não puderam ser nem reconstruidas nem reparadas porque não há autorização para introduzir os materiais necessários devido ao bloqueio imposto pelos agressores, com a cumplicidade da “comunidade internacional” e dos que a apoiam. Zacharie Bakr, Secretario do Comité de Pescadores da União de Comités de Trabalhadores Agrícolas (UAWC) abordará nesta entrevista o bloqueio e suas consequências, não somente para os pescadores que dirige.
¿Qual é a situação um ano depois da agressão militar israelita de que Gaza foi vítima, quais são as consequências do bloqueio para a parte do povo palestino que aí reside?
Em primeiro lugar quero falar do embargo que os pescadores sofrem. Historicamente é o bloqueio marítimo que tem durado mais tempo. O Estado sionista espezinha todos os convénios internacionais e impede mais de 4000 pescadores de aceder ao seu espaço de trabalho, sobretudo quando as reservas de peixe se encontram a 6 milhas náuticas. O direito internacional dá ao pescador palestino o direito de utilizar o seu espaço marítimo mas estes acordos são esmagados devido ao bloqueio.
¿Concretamente, ¿De que maneira?
O Estado colonial utiliza mísseis contra os barcos dos pescadores e balas de borracha contendo pequenas esferas metálicas. Um ano depois do fim da guerra as catastróficas consequências são ainda palpáveis. Desde Agosto de 2014 registámos a morte a tiro do pescador Taoufiq Saïd Abou Riyala em Março de 2015. 28 pescadores foram feridos à bala, 52 foram detidos, 23 barcos foram confiscados, 28 foram total ou parcialmente destruídos, entre os quais 2 grandes barcos rebocadores que empregavam cada um mais de 15 marinheiros, 1 000 redes de pesca foram roubadas ou destruídas.
A tudo isto juntam-se as perdas devidas à ofensiva militar do ano passado, avaliadas em 6 milhões de dólares, por destruição de infra-estruturas, bombardeamento de reservas e barcos bem como a destruição de cabanas de pescadores. Centenas de pescadores estão sem trabalho devido à confiscação ou demolição dos seus barcos.
¿E a reconstrução? ¿É possível no quadro do bloqueio?
Não. Não começou e não há nenhuma possibilidade de que comece num futuro próximo. Durante a ofensiva militar o Estado de demolição demoliu uma centena de motores, confiscou dezenas, dezenas de outros motores estão fora de serviço devido ao uso e um cento de motores requer manutenção, mas o mesmo Estado agora proíbe a entrada de peças sobressalentes, motores, fibra de vidro que permite fabricar barcos.
A pesca foi sempre um sector importante em Gaza tanto do ponto de vista económico como do abastecimento da população. Depois de os ter bombardeado, agora esse Estado estrangula-os.
O sector da pesca empregava mais de 4000 pessoas, e aproximadamente 1000 outras em sectores que se geram a partir dele como os artesãos e comerciantes. Em comparação com o ano passado, a produção reduziu-se 70%. Os rendimentos reduziram-se 10 vezes, de 2000 para 200 shekels. Já registamos casos de falecimento de crianças e esposas de pescadores.
A desescolarização das crianças devido à incapacidade dos pais de assegurar a sua escolaridade. Os pescadores e suas famílias vivem abaixo do limiar de pobreza e não são capazes de assegurar as necessidades mais básicas da família.
Podes recordar-nos as reivindicações do teu sindicato?
1.- A protecção dos pescadores face ao aparelho de guerra sionista
2.- A aplicação de todos os convénios internacionais relativos à pesca e que garantem a segurança dos pescadores no seu espaço de trabalho
3.- O processo penal dos criminosos de guerra ante os tribunais internacionais.
4.- As solidariedades internacionais devem poder aceder a Gaza
5.- A reparação do que foi demolido pela guerra e o apoio aos pescadores até que este sector possa de novo erguer-se
6.- A supressão imediata e incondicional do bloqueio
¿Uma última palavra?
Apelo a todos os militantes do mundo a que apoiem materialmente e material de trabalho.
Entrevista realizada por JP Barrois com a ajuda de Ali Hached, tradutor. (Com o diario.info)
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