Nos tempos da censura
José Carlos Alexandre
Um dia alguém me perguntou se fui vítima de censura em meu trabalho ao longo de quase 50 anos de vida jornalística.
Claro. E muitas vezes.
A começar bem antes da dolorosa, antes de 1964.
E no jornal do PCB...
Um dia publiquei em minha coluna nas páginas correspondentes à Sucursal mineira de Novos Rumos, que comerciários da, à época, maior loja de venda de móveis e eletrodomésticos mineiros, reclamavam de falta de assentos nos locais de trabalho, do cansaço da jornada...
O resultado não se fez esperar; fui destituído da coluna sindical (assinada com o pseudônimo de Carlos Basílio) e estreei uma coluna dedicada aos camponeses que não cheguei nem a ver publicada.
Isto porque em 1º de abril de 1964 veio a dolorosa e o jornal foi fechado...
Já no jornal burguês, onde defendia o pão de cada dia, ao escrever camponês, a censura (ou a autocensura interna) substituía a palavra por "rurícola"...
Sem se falar que eram proibidas menção aos nomes, por exemplo, do bispo dom Hélder Câmara...
Para se ter ideia da falta de critério dos censores, basta dizer que durante o período de 1963-1964 e no ano de 1968 (até a decretação do AI-5, em dezembro) dava sucessivas manchetes com assuntos ligados às lutas dos trabalhadores sem que houvesse a mínima interferência em meus textos...
O mesmo devo dizer dos editoriais e artigos que nunca deixei de escrever até que em 2007 o jornal encerrou suas atividades...
Ficou entretanto, a marca da censura ocorrida no jornal do PCB.
E por uma questão muito simples: a linha política equivocada, de alinhamento à chamada burguesia progressista...
No fundo, empresários que contribuíam para o partido em Minas...
Mexer com eles, ainda que defendendo os trabalhadores vilmente explorados, era assunto proibido...
Era como que retirar parte do "dinheiro de Moscou" que sustentava as ações do Partidão...
Eu, por exemplo, nunca mais exerci qualquer atividade remunerada no PCB...
E olhe que Lenin foi um dos defensores de quadros profissionais no âmbito dos partidos comunistas...
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