O golpe na educação: a fábrica de autômatos de Temer
Foto: Imagem do videoclipe de “Another Brick In The Wall“, da banda inglesa Pink Floyd.
Sandro Ari Andrade de Miranda (*)
“Não! Não pense que eu preciso de alguma coisa afinal
Tudo era apenas um tijolo no muro
Todos são somente tijolos na parede”.
(Estrofe final do clássico “Another Brick In The Wall”, da banda inglesa Pink Floyd, tradução livre)
Se os filósofos gregos Aristóteles, Platão ou Sócrates vivessem no Brasil nos dias de hoje, e se oferecessem para ensinar em escolas públicas, nós teríamos essa oportunidade castrada. Se os sociólogos alemães Max Weber, Karl Marx ou o francês Émile Durkheim nos dessem a mesma oportunidade, também haveria recusa. Pior ainda, nem Leonardo da Vinci ou Michelangelo poderiam ser professores no mundo de Michel Temer (PMDB-SP), pois a arte também passou a ser tratada como disciplina de segundo nível.
A grande verdade é que o Brasil caminha, depois do golpe de estado executado por Michel Temer, pelo Congresso, com o apoio da mídia oligopolista e omissão do Supremo Tribunal Federal, para virar uma republiqueta de segundo escalão no mundo globalizado. Nossos potenciais Aristóteles, Platões, Sócrates, Da Vintis, Webers, ou tantos outros, somente poderão surgir por acaso, pois o alto comando do Ministério da Educação decidiu que investir em artes, educação física, sociologia ou filosofia não são mais objetivos do país. Ao contrário, estamos a um passo de receber, novamente, disciplinas como educação moral e cívica, que havia sido imposta pela nefanda ditadura militar, somente extinta com a democratização.
Numa análise pouco criterioso podemos classificar a atuação de Mendonça Filho (DEM) à frente do MEC apenas como trágica ou desastrada. Contudo, na verdade, há um nítido projeto de desmonte do sistema público de ensino e de construção de um modelo educacional de castas. Um verdadeiro golpe de estado contra o nosso sistema de educação! Portanto, a sua gestão é intencionalmente destinada à desconstrução dos avanços alcançados com a política educacional do país ao longo dos últimos 14 anos.
Estamos diante de uma retomada de modelos fracassados, como os acordos MEC/USAID, da ditadura militar, ou do projeto de fragmentação do ensino imposto por Paulo Renato de Souza na época de FHC, projetando a formação de estudantes sem conhecimento da sociedade onde vivem. Não podemos esquecer que foi na gestão de Paulo Renato/FHC (PSDB-SP) que as ciências humanas foram retiradas do ensino técnico, desqualificando o padrão de excelência que o país estava alcançando neste campo.
Também é visível a vontade da administração golpista de reduzir as despesas com educação pública, já incorporando o ideal de entrega do patrimônio público, especialmente do Pré-sal, ao capital financeiro internacional. O desenho educacional de Temer, Mendonça Filho, Samuel Pessoa e outros, é a formação de autômatos nas escolas, tal qual a paródia apresentada pelo Pink Floyd no clássico videoclipe de “Another Brick In The Wall”, no qual crianças são colocadas numa linha de montagem de uma máquina saindo sem personalidade, sem rosto, sem identidade, na medida em que, ao final da esteira, vão ser todas jogadas num moedor de carne…
Quando a agenda educacional é baseada no corte de verbas para a pesquisa na graduação demonstra que não tem preocupação com a autonomia científica do país e com a formação de pesquisadores. Quando esse mesmo modelo educacional afasta várias disciplinas do processo formativo de adolescentes no ensino médio há clara intenção de restringir a atuação cidadã bem na época em que a juventude está tomando consciência do mundo onde vive.
Aliás, caminhamos rapidamente para a privatização do ensino superior, e as universidades federais já sofrem com o corte dos seus orçamentos. Sem contar o absurdo projeto “Escola sem Partido” ou das “Escolas da Intolerância”.
Para que serve um Plano Nacional de Educação, construído de forma participativa, ouvindo toda a sociedade durante anos, se os próprios dirigentes do país não sabem o significado da palavra Democracia? Quem chega ao poder sem voto, sem legitimidade, sem compromisso social, não tem nenhuma preocupação em dar respostas aos anseios da sociedade. O abandono do Plano Nacional de Educação é apenas mais um exemplo do descaso dos usurpadores em relação aos direitos sociais durante conquistados ao longo de pouco mais de 30 anos de democracia.
O governo de Michel Temer é um dos mais violentos exemplos de como procede uma ditadura! Carrega um bem articulado projeto de desmonte de direitos e garantias constitucionais, da democracia e da soberania econômica e intelectual do país. É indiscutivelmente uma postura golpista que ataca os mais básicos sonhos da população, e ficar em silêncio diante dessa violência é sinal de cumplicidade e descaso com o futuro do país!
(*) Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado e mestre em Ciências Sociais.
(Com Democracia e Sustentabilidade/Diário Liberdade)
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