Luiz Carlos Azedo: “Crônicas de uma queda anunciada”
“O impeachment de Dilma Rousseff – Crônicas de uma queda anunciada”, de autoria do jornalista Luiz Carlos Azedo. Com longa experiência na cobertura da política, o autor faz uma análise refinada de um dos períodos mais conturbados da história democrática do nosso país. O livro será lançado no Rio nesta terça-feira, 21.
O impeachment de Dilma Rousseff foi o acontecimento mais marcante da história política brasileira nas últimas décadas. Equipara-se, paradoxalmente, mas com menos dramaticidade, com a eleição e posse de Luiz Inácio da Silva na presidência da República. Em ambos os fatos as instituições republicanas do Estado seguiram funcionando e mantiveram sua legitimidade. A democracia política superou mais uma prova de fogo e apresentou seu atestado de vitalidade.
Em 2014, já eram previsíveis turbulências e instabilidades logo após a vitória eleitoral que deu o segundo mandato a Dilma Rousseff: o país expressava nitidamente uma crise de esgotamento do modelo econômico adotado e o “estelionato eleitoral” praticado pela presidente reeleita ao montar a equipe do segundo mandato foi o sinal de que as promessas e o discurso de campanha eram ilusionismos de marketing, distantes da realidade.
A reação da sociedade, como se viu em 2015 e 2016, veio em ondas que levaram milhões à rua em todo o país. O vigor e a generalização das manifestações alteraram o comportamento dos atores políticos. Gradativamente, o Parlamento foi se tornando mais sensível ao clamor das ruas.
Por outro lado, o impacto das ações da chamada operação Lava Jato, na busca de corruptos e criminosos, muitos deles vinculados aos governos do PT, fez com que se operasse a reviravolta definitiva: as mobilizações de rua definiram que o caminho era o impeachment da presidente reeleita e, simultaneamente, por inabilidade política, Dilma Rousseff acabou entrando numa espiral de isolamento da qual não mais conseguiu sair.
Esse foi, sinteticamente, o pano de fundo que conduziu ao impeachment de Dilma Rousseff. Os fatos foram se sucedendo e foram acompanhados quase que diariamente pelas “colunas” publicadas por Luiz Carlos Azedo, no Correio Brasiliense, escritos que mostram, com riqueza de detalhes, as passagens de uma “queda anunciada”, como está assinalado no subtítulo deste livro.
A leitura das crônicas de Azedo não deixa dúvida de que o impeachment de Dilma está longe da chamada “narrativa do golpe” construída pelos apoiadores do governo deposto. Mostra que o impeachment foi um processo político, como não poderia deixar de ser – e todos sabiam disso –, sustentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que sancionou o rito jurídico a ser seguido, de acordo com a Constituição e a legislação correspondente a esse tipo de processo.
O livro que o leitor tem em mãos é uma análise refinada, concebida no calor da hora, que faz jus ao melhor do jornalismo político. Reler o impeachment de Dilma Rousseff pelas letras de Azedo ajuda a repensar esse processo tão cheio de controvérsias, mas que está longe de ser algo injusto ou despropositado. O país soube enfrentar aquela situação dramática e o fez democraticamente.
Alberto Aggio
Leia a entrevista com o autor:
ABI Online. Por que você resolveu publicar um livro sobre o impeachment de Dilma Rousseff somente agora?
Luiz Carlos Azedo. Na verdade, resisti um pouco a isso, mas os amigos insistiram, principalmente o Francisco Almeida, o editor da Fundação Astrojildo Pereira, e professor Alberto Aggio, diretor da fundação e meu amigo, que me convenceu a mostrar os textos para sua esposa, Hercídia Coelho, também historiadora, que organizou a edição e fez o desenho da capa. A produção gráfica foi de Tereza Vitali. O livro está muito bonito. Também pesou na decisão a opinião do Marcus Miranda, conselheiro aqui da ABI e um velho camarada, que leu todos os originais e checou as informações.
ABI Online. O impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe?
Luiz Carlos Azedo. Essa é a pergunta que o livro procura responder. Acompanhei o processo quase diariamente, escrevendo para os jornais Correio Braziliense e Estado de Minas, do grupo Diários Associados, dos quais sou colunista político. A ideia do golpe de estado é uma narrativa, um discurso político, não reflete o processo real, que se deu em bases constitucionais.
O julgamento foi presidido pelo ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto não foi um golpe que o PT e seus aliados participaram do processo, apresentaram defesa, fizeram discursos e compareceram à votação. Se fosse realmente um golpe, a primeira atitude seria denunciar a violação da Constituição e boicotar as sessões do impeachment. Isso não houve. A própria presidente Dilma participou de uma das sessões e se submeteu ao julgamento do Senado.
ABI Online. Como você explica a queda de Dilma Rousseff?
Luiz Carlos Azedo. Foi um naufrágio, em meio à tempestade perfeita. Mas, veja bem, Dilma poderia ter levado o barco ao porto seguro das eleições de 2018, como o Michel Temer está fazendo, em circunstâncias pessoais até mais difíceis, porque houve duas denúncias do Ministério Público Federal contra ele, ao contrário de Dilma Rousseff, que afastada da Presidência por causa das “pedaladas fiscais”.
Dilma cometeu muitos erros. Por exemplo, provocou uma onda de 13 milhões de desempregados, inflação de 10,5% e a maior recessão da nossa história republicana. Isso lhe tirou o apoio dos trabalhadores e dos empresários; a classe média já estava com o pé atrás desde 2013. Pior, porém, foi o abismo que cavou com os próprios pés, ao maltratar os aliados no Congresso, os mesmos que garantiram a permanência de Temer no poder. Não gosto de trabalhar com hipóteses, mas duvido que o impeachment fosse aprovado se o presidente fosse um petista mais habilidoso. Jaques Wagner, por exemplo. Lula nem se fala. O livro contextualiza esse processo e mostra seus bastidores.
(Com a ABI)
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