Manifestações no Haiti
Manifestações e repressões marcaram
o 18 de novembro: Batalha de Vertières
Karol Assunção (*)
A capital haitiana se transformou, ontem (18), mais uma vez, em um cenário de conflito. De um lado, haitianos e haitianas realizavam manifestações em celebração à Batalha de Vertières - última da guerra pela independência do país - e, de outro, policiais locais e tropas da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) tentavam reprimir os manifestantes. Isso foi o que relatou Batay Ouvriye (Batalha Operária) em comunicado divulgado ontem.
Segundo a organização, entidades sociais do Haiti sempre realizaram manifestações no dia 18 de novembro e, neste ano, não foi diferente. Cerca de dez organizações convocaram haitianos e haitianas para irem às ruas de Porto Príncipe para celebrar a Batalha de Vertières e denunciar o governo de René Preval, presidente do país caribenho.
De acordo com Batay Ouvriye, centenas de pessoas se concentraram em frente ao Ministério de Saúde Pública para rechaçar a falta de empenho do mandatário em melhorar a situação do povo haitiano. "Ademais, está também o temor [do Governo] característico em tratar de esconder a procedência da epidemia, enquanto várias pesquisas científicas e de peso já denunciaram: foram soldados da ONU [Organização das Nações Unidas] nepaleses, mais precisamente, que a difundiram, largando seus excrementos infectados no rio Artibonite", denunciou.
Conforme relato da organização, após o ato em frente ao Ministério da Saúde Pública, os manifestantes se dirigiram ao Palácio Nacional. Entretanto, lá encontraram soldados da Minustah com tanques, fuzis e gases lacrimogêneos. Os tiros disparados contra os manifestantes, segundo Batay Ouvriye, não foram suficientes para acabar com a mobilização, que respondeu o ataque com pedradas.
A multidão, então, foi para o acampamento Champs de Mars para prestar apoio à população local e continuar os protestos. "Alguns se somaram. Juntos foram para uma das principais ruas próximas, Lalue, que une a praça central a uma das bases da Minustah mais acima, em Bourdon. Em Lalue, todo o caminho foi de uma receptividade tremenda por parte da população que, aplaudindo, igualmente gritava: Abaixo a Minustah! Abaixo a cólera! Abaixo a Minustah-Cólera! Abaixo! Abaixo! Já Basta!", descreveu.
Apesar do apoio do povo haitiano, os manifestantes foram novamente atacados. Dessa vez, pela polícia nacional, o que gerou novo confronto. De um lado, policiais atiravam gases, enquanto, de outro, manifestantes lançavam pedras. A confusão fez com que os manifestantes de dispersassem.
Pouco depois, os participantes das mobilizações se reuniram novamente em frente a Chancelaria. Porém, mais gases e tiros foram lançados contra a multidão, que voltou para o acampamento Champs de Mars, onde também foi atacada por gases lacrimogêneos.
Após uma tentativa frustrada de abrigo na Faculdade de Etnologia, voltaram de novo para o acampamento, onde foram acolhidos pela população local. O povo do acampamento, por sua vez, segundo declarou Batay Ouvriye, tomou a frente da manifestação. E, juntamente com outras pessoas que chegavam, finalmente conseguiram - com gritos e lançamento de pedras - dispersar os repressores.
"Grande parte da população mobilizada ficou ali [no acampamento] toda a tarde e, em horas avançadas da noite, viam-se barricadas em fogo e ouviam-se ainda gritos por esta cidade abaixo. Não havia nem um soldado da Minustah nem um policial por toda a área", revelou.
(*) Karol Assunção é jornalista da Adital/Divulgação
(Imagem: Representação da Batalha de Vertières, em 1791/Google/Wikipédia/Divugação)
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