Tropa de Elite, só veneno
O veneno da mensagem em Tropa de Elite 1 e 2
A primeira vista Tropa de Elite 2 não nos diz nenhuma novidade. Nem sobre a realidade social, nem sobre os próprios produtores do filme. Se o Tropa 1 causou empolgação na direita e enjôos na esquerda, este agora parece (mas só parece) o arroz com feijão dos filmes de denúncia da corrupção. Para entender, primeiro é bom lembrar quem é, e de onde vem, o diretor (e produtor) José Padilha. Filho da alta burguesia carioca e morador da Zona Sul do Rio ele se encaminhava para ser um administrador de empresas quando decidiu sair do tédio e brincar um pouco de cineasta, ou melhor, de ganhar muito dinheiro como empresário do entretenimento comercial. Afinal ele é dono da produtora de filmes que está enchendo os bolsos. Por isso tanta preocupação em evitar a “pirataria”. Mas não somente isto, ele também cumpre outro papel.
Padilha é um tipo que percebeu que pode ganhar dinheiro porque tem talento para “traduzir” os problemas sociais na linguagem para e da “classe média” e da própria “elite” (que estão longe destes problemas, mas se “incomodam” com eles). Ele então vai “traduzir” para o idioma da ideologia burguesa que mistifica a realidade, primeiro sobre o que se passa de horroroso e “desconhecido” no submundo das favelas e depois nos meandros daquela coisa misteriosa que ele chama de “sistema” ou de “política”. Sem falar no drama da fome e miséria que ele buscou retratar no sertão do Ceará no documental Garapa (não precisava ir tão longe para encontrar famintos neste país). Para a maioria trabalhadora do povo brasileiro, o filme não traz nada de novo. Não é preciso ver numa tela o que se sofre todos os dias. Aliás, seria até de mau gosto.
O discurso de Padilha tem a pretensão de crítica isenta, mas suas entrevistas e os próprios filmes autorizam a conclusão de que ele não é imparcial como quer aparecer. No caso do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), por exemplo, é nítido seu elogio e mesmo quando criticado por isso, se desconcerta, mas não recua. Ele se coloca atrás da cortina e não assume explicitamente insistindo que está mostrando o que pensam os integrantes do BOPE. Mas na arte como na propaganda os criadores falam através de seus personagens. Padilha diz que entrevistou policiais do BOPE para saber como eles pensam. Mas, porque será que ele não entrevistou os moradores das comunidades e favelas que convivem com os Caveiras e Caveirões, para saber o que pensam a respeito do BOPE?
Simples, porque embora ele seja obrigado a tergiversar, o que lhe interessa é reforçar a instituição do BOPE e garantir sua legitimidade. Porque ele representa sua classe social e seus interesses, que são os mesmos do próprio governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), conhecido por seu discurso reacionário, preconceituoso e pela política repressiva de “segurança pública” acima de tudo, inclusive das próprias pessoas. Daí a importância de legitimar o BOPE, instituição esta que se pensa “nobre” por cumprir tarefa “importante” a sociedade: perseguir, torturar e matar qualquer um que saia correndo nas favelas (e como não correr de Caveiras e Caveirões?). Tudo com o pretexto de combate ao narcotráfico e às milícias da polícia corrupta. Porque se houvesse de fato interesse em acabar com isto estariam preocupados com educação e empregos e não com a “segurança”. A pergunta é, “segurança” para quem?
Já estava claro como Tropa 1 cumpre a tarefa de legitimar a violência do BOPE transformando o Capitão/Coronel Nascimento em herói da burguesia e da classe média que a acompanha. Agora, com Tropa 2, fica claro também outra questão. Diante do crescimento do batalhão, da corrupção nele próprio, dos absurdos cometidos a luz do dia (como o caso do trabalhador que teve a furadeira “confundida” com uma metralhadora e foi assassinado à distância) e do crescimento proporcional do rechaço popular contra o BOPE, o discurso de Padilha serve bem para desviar o olhar e ao mesmo tempo dar respaldo auto-afirmativo, e social aos quadros de uma instituição em crise. Ou seja, “levantar o moral” da tropa.
Instituição que, para funcionar e obter comprometimento de seus policiais com o serviço de matar sem critério e sem culpa, aplica técnicas de lavagem cerebral, humilhação e selvageria dignas dos exércitos norte-americano, israelense e fascista. Recentemente, um policial do BOPE morreu de desidratação durante o treinamento. A família está inconformada e tentando entender. Mas aos jornais, um ex-aluno do curso da “tropa de elite” explicou que “a preparação é cruel e os instrutores usam a falta d’água como punição”. Treinamentos e ideologia que exigem a conversão dos soldados até o ponto de que estejam suficientemente despojados de sua humanidade e dignidade para se tornar assassinos profissionais e sínicos. Processo que envolve estresse e sofrimento psicológico, o que só é minimizado pelo fato de que o recrutamento se dá entre os policiais mais propensos a esta conversão. E para não enlouquecê-los faz-se acreditar que seu trabalho é “nobre”.
Por isso, neste novo filme o “inimigo é outro”. Se em Tropa 1 o inimigo dos nobres soldados do BOPE era o tráfico, e acabou se tornando o próprio BOPE para parte da crítica e do público que não vive de hipocrisias, em Tropa 2 a coisa muda. O elogio agora pega mais leve, para ver se desta vez convence mais gente. Para salvar a mensagem fascista impregnada sai do foco o BOPE e entra o esquema das milícias com a “política”, corrupta por natureza na cabeça de Padilha. Sobra até para a esquerda, que ele pinta de “maconheira”. Ele próprio defensor da liberação de todas as drogas como afirmou no programa de Jô Soares. Ignorando o problema que as drogas representam a saúde pública, a explosão do consumo de Crack e outras drogas pesadas pela venda combinada e obrigatória com a Maconha.
Mas Padilha vai eternamente dizer que só está querendo “entender e explicar o que leva as pessoas a se tornarem traficantes assassinos e policiais corruptos”. Ótima estratégia para evitar críticas ao filme por sua reverência ao BOPE, ao mesmo tempo em que livra a cara do próprio BOPE, deslocando a crítica para o esquema de colaboração entre milícias, traficantes e políticos corruptos.
Padilha é um tipo que percebeu que pode ganhar dinheiro porque tem talento para “traduzir” os problemas sociais na linguagem para e da “classe média” e da própria “elite” (que estão longe destes problemas, mas se “incomodam” com eles). Ele então vai “traduzir” para o idioma da ideologia burguesa que mistifica a realidade, primeiro sobre o que se passa de horroroso e “desconhecido” no submundo das favelas e depois nos meandros daquela coisa misteriosa que ele chama de “sistema” ou de “política”. Sem falar no drama da fome e miséria que ele buscou retratar no sertão do Ceará no documental Garapa (não precisava ir tão longe para encontrar famintos neste país). Para a maioria trabalhadora do povo brasileiro, o filme não traz nada de novo. Não é preciso ver numa tela o que se sofre todos os dias. Aliás, seria até de mau gosto.
O discurso de Padilha tem a pretensão de crítica isenta, mas suas entrevistas e os próprios filmes autorizam a conclusão de que ele não é imparcial como quer aparecer. No caso do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), por exemplo, é nítido seu elogio e mesmo quando criticado por isso, se desconcerta, mas não recua. Ele se coloca atrás da cortina e não assume explicitamente insistindo que está mostrando o que pensam os integrantes do BOPE. Mas na arte como na propaganda os criadores falam através de seus personagens. Padilha diz que entrevistou policiais do BOPE para saber como eles pensam. Mas, porque será que ele não entrevistou os moradores das comunidades e favelas que convivem com os Caveiras e Caveirões, para saber o que pensam a respeito do BOPE?
Simples, porque embora ele seja obrigado a tergiversar, o que lhe interessa é reforçar a instituição do BOPE e garantir sua legitimidade. Porque ele representa sua classe social e seus interesses, que são os mesmos do próprio governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), conhecido por seu discurso reacionário, preconceituoso e pela política repressiva de “segurança pública” acima de tudo, inclusive das próprias pessoas. Daí a importância de legitimar o BOPE, instituição esta que se pensa “nobre” por cumprir tarefa “importante” a sociedade: perseguir, torturar e matar qualquer um que saia correndo nas favelas (e como não correr de Caveiras e Caveirões?). Tudo com o pretexto de combate ao narcotráfico e às milícias da polícia corrupta. Porque se houvesse de fato interesse em acabar com isto estariam preocupados com educação e empregos e não com a “segurança”. A pergunta é, “segurança” para quem?
Já estava claro como Tropa 1 cumpre a tarefa de legitimar a violência do BOPE transformando o Capitão/Coronel Nascimento em herói da burguesia e da classe média que a acompanha. Agora, com Tropa 2, fica claro também outra questão. Diante do crescimento do batalhão, da corrupção nele próprio, dos absurdos cometidos a luz do dia (como o caso do trabalhador que teve a furadeira “confundida” com uma metralhadora e foi assassinado à distância) e do crescimento proporcional do rechaço popular contra o BOPE, o discurso de Padilha serve bem para desviar o olhar e ao mesmo tempo dar respaldo auto-afirmativo, e social aos quadros de uma instituição em crise. Ou seja, “levantar o moral” da tropa.
Instituição que, para funcionar e obter comprometimento de seus policiais com o serviço de matar sem critério e sem culpa, aplica técnicas de lavagem cerebral, humilhação e selvageria dignas dos exércitos norte-americano, israelense e fascista. Recentemente, um policial do BOPE morreu de desidratação durante o treinamento. A família está inconformada e tentando entender. Mas aos jornais, um ex-aluno do curso da “tropa de elite” explicou que “a preparação é cruel e os instrutores usam a falta d’água como punição”. Treinamentos e ideologia que exigem a conversão dos soldados até o ponto de que estejam suficientemente despojados de sua humanidade e dignidade para se tornar assassinos profissionais e sínicos. Processo que envolve estresse e sofrimento psicológico, o que só é minimizado pelo fato de que o recrutamento se dá entre os policiais mais propensos a esta conversão. E para não enlouquecê-los faz-se acreditar que seu trabalho é “nobre”.
Por isso, neste novo filme o “inimigo é outro”. Se em Tropa 1 o inimigo dos nobres soldados do BOPE era o tráfico, e acabou se tornando o próprio BOPE para parte da crítica e do público que não vive de hipocrisias, em Tropa 2 a coisa muda. O elogio agora pega mais leve, para ver se desta vez convence mais gente. Para salvar a mensagem fascista impregnada sai do foco o BOPE e entra o esquema das milícias com a “política”, corrupta por natureza na cabeça de Padilha. Sobra até para a esquerda, que ele pinta de “maconheira”. Ele próprio defensor da liberação de todas as drogas como afirmou no programa de Jô Soares. Ignorando o problema que as drogas representam a saúde pública, a explosão do consumo de Crack e outras drogas pesadas pela venda combinada e obrigatória com a Maconha.
Mas Padilha vai eternamente dizer que só está querendo “entender e explicar o que leva as pessoas a se tornarem traficantes assassinos e policiais corruptos”. Ótima estratégia para evitar críticas ao filme por sua reverência ao BOPE, ao mesmo tempo em que livra a cara do próprio BOPE, deslocando a crítica para o esquema de colaboração entre milícias, traficantes e políticos corruptos.
Como se fosse grande novidade. Com exceção de que Padilha também ignora os grandes empresários que encabeçam o tráfico e a combinação de interesses entre capitalistas e os órgãos do Estado, típica da sociedade capitalista.
No fim das contas, para quem assiste ao filme desavisado, parece que Nascimento é um Caveira ingênuo que de repente vai descobrindo a podridão do mundo em que vive e que finalmente dá as mãos aos defensores dos direitos humanos. Que ironia! E assim, pretende-se dar a impressão ao público de que a descoberta de Nascimento é uma boa didática sociológica. Mistifica a sociedade capitalista como um corpo que só não é saudável e funcional porque ainda não se livrou das doenças que só o remédio dos Caveiras pode curar-lhe, por baixo exterminando a escória, e por cima denunciando os esquemas.
No fim das contas, para quem assiste ao filme desavisado, parece que Nascimento é um Caveira ingênuo que de repente vai descobrindo a podridão do mundo em que vive e que finalmente dá as mãos aos defensores dos direitos humanos. Que ironia! E assim, pretende-se dar a impressão ao público de que a descoberta de Nascimento é uma boa didática sociológica. Mistifica a sociedade capitalista como um corpo que só não é saudável e funcional porque ainda não se livrou das doenças que só o remédio dos Caveiras pode curar-lhe, por baixo exterminando a escória, e por cima denunciando os esquemas.
Os filmes até parecem que fazem crítica ao BOPE em certos momentos, mas somente para reiterar seu caráter de mal necessário logo em seguida, como na passagem onde são os próprios do batalhão que salvam Nascimento da emboscada com os milicianos.
Seguindo esta linha, não será estranho se num Tropa 3 futuro o Coronel Nascimento aparecer como herói da direita, da burguesia e da classe média desesperadas pela crise mundial, sendo alçado ao poder mediante golpe de Estado, como chefe de uma ditadura militar “honesta e dura” como o próprio BOPE. E tudo como se fosse natural e politicamente correto. A moral da história é que Padilha aprendeu bem com o BOPE como se faz lavagem cerebral.
Não há que defender os 400 picaretas de Brasília e os políticos em geral, mas desmoralizar a democracia por mais entre aspas que ela esteja, e baseado na dualidade entre corrupção e moralidade, é preparar o terreno para o fascismo.
Seguindo esta linha, não será estranho se num Tropa 3 futuro o Coronel Nascimento aparecer como herói da direita, da burguesia e da classe média desesperadas pela crise mundial, sendo alçado ao poder mediante golpe de Estado, como chefe de uma ditadura militar “honesta e dura” como o próprio BOPE. E tudo como se fosse natural e politicamente correto. A moral da história é que Padilha aprendeu bem com o BOPE como se faz lavagem cerebral.
Não há que defender os 400 picaretas de Brasília e os políticos em geral, mas desmoralizar a democracia por mais entre aspas que ela esteja, e baseado na dualidade entre corrupção e moralidade, é preparar o terreno para o fascismo.
A dualidade capitalista está entre os empresários capitalistas e latifundiários no poder contra o povo trabalhador do campo e da cidade (e não só no Brasil). O narcotráfico é só mais um negócio lucrativo baseado na exploração direta do trabalho e indireta pelo consumo dos trabalhadores e da juventude em face do desemprego e falta de perspectivas. Que aliás, também atinge a própria “classe média”. A contradição só pode ser resolvida por quem opera os botões e as engrenagens que fazem o mundo andar e parar: os trabalhadores. Portanto, já temos nossos heróis. Não precisamos de outros, muito menos daqueles que nos sufocam até a morte com sacos plásticos, fuzis e filmes de ideologia venenosa, que legitima a violência.
Escrito por Por Movimento das Fábricas Ocupadas Em novembro - 16 - 2010
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