Crise das ciências humanas
Carlos Lúcio Gontijo
O poeta estará aniversariando dia 27/04/2011 |
O progresso tecnológico, além de ser responsável pelo avanço da produção mundial de bens de consumo, influi decisivamente para o enfraquecimento das ciências humanas, levando prejuízos a todas as sociedades, principalmente aos países do terceiro mundo e em desenvolvimento, nos quais as multinacionais instalaram suas indústrias mais poluidoras, aproveitando-se da ausência de legislação específica e desinformação do povo, que, mesmo quando instruído, recebe apenas o conteúdo básico ou técnico, não tendo acesso à conscientização por intermédio do ensino sociológico e mesmo filosófico.
Esse aviltamento (e até mesmo ridicularização) das ciências humanas – que normalmente colocam o homem mais consciente e sensível aos problemas sociopolíticos, econômicos, ecológicos, históricos e culturais do país – é bastante implementado e aplicado nos regimes autoritários (não raro o voto democrático costuma ungir administrações de orientação ditatorial), que, por instinto de autopreservação, tudo fazem para evitar a tomada de consciência da grande massa de desprivilegiados.
Reside exatamente no esvaziamento das ciências humanas, que perderam assento nos currículos escolares e universitários, a dificuldade de estabelecer-se agora a conscientização das pessoas quanto a problemas fundamentais para a manutenção das mínimas condições de equilíbrio social e até de vida no planeta Terra. A questão ecológica, por exemplo, se arrasta, apesar de ser, seguramente, a que mereça atenção prioritária, pois com ecossistema natural violentado e destruído não haverá futuro; o homem sucumbirá, levando o peso de sua tecnologia voltada exclusivamente para aspectos técnico-produtivos. Isso tudo apesar de a experiência nos ensinar que qualquer conhecimento humano que se esqueça do aspecto sociológico de sua aplicação acaba por desservir ao homem, conturbando seu convívio em sociedade e ferindo seu patrimônio cultural, ao desrespeitar seu padrão de comportamento e até princípios morais.
Talvez pela perda de sensibilidade despertada através do estudo das ciências humanas, estejamos assistindo à radicalização de todos os grupos, mesmo se fundamentados em idéias democráticas, pois o autoritarismo campeia como um inarredável vício no seio da sociedade.
Nossos líderes populares – não importa se de direita ou de esquerda – frequentemente se nos apresentam como donos de verdades absolutas. Basta ser militante de esquerda ou de qualquer movimento popular, para dormir com soluções prontas e indiscutíveis sob o travesseiro. As idéias, assim, deixaram de ser democráticas para cair no individualismo narciso-simplista e egoísta, em que os líderes e as autoridades da sociedade moderna se transformam em técnicos frios e calculistas, mesmo quando lidam com o pluralismo social. O plebiscito, se existe, é hoje apenas um mecanismo para “tomar-se” o poder legalmente, depois não importa muito. Ou seja, governa-se sozinho e para alguns, cercado de descompromissos e imoralidades por todos os lados.
Mas, mesmo assim, enquanto as ciências humanas não alcançam a merecida revitalização e os livros não são tomados como fonte de conhecimento e sensibilização da mente humana, só nos resta manter nossa caminhada em direção das urnas para o aprendizado da ação coletiva, sob a certeza de que somente através do voto livre, e apenas com as cores da consciência participativa, é que se dará a humana democratização de todos os poderes que nos regem.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br
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