O SOCIALISMO ESTÁ NA GENTE

Dilbert Reyes Rodríguez/Granma

EXISTEM diversas maneiras de validar as hipóteses teóricas e, para nós, os cubanos, o dia-a-dia tem sido o melhor laboratório onde aprendemos a construirmo-nos como sociedade.

Há exatamente 50 anos, escolhemos o caminho quando colocamos o sobrenome de "socialista" a nossa Revolução. A partir dessa data, este propósito tornou-nos singulares. Hoje, muitos podem repetir o conceito científico textual e friamente, mas o cotidiano oferece-nos novamente as melhores versões de como, meio século depois, continuamos construindo nossa Ilha e nosso próprio socialismo.
PALAVRAS SIMPLES
"O socialismo está em tudo o que a gente faz. É o máximo. Foi, por exemplo, minha garantia de trabalho por mais de 25 anos no estaleiro, de todos os benefícios sociais para minha família. Mas também é proteger os bens coletivos do povo, contribuir para tornar mais forte a economia e a defesa nacional." (Juan Jesús Fernández, soldador).
"Considero que, mesmo como dissera José Martí a respeito da Pátria, o socialismo é também Humanidade. Vejo-o cada dia expresso no relacionamento entre as pessoas, dando um bom tratamento aos passageiros, fazendo-os sentir que trabalho para eles, que o ônibus é também um bem social e, por isso, exijo o pagamento do ônibus e o cuidado dele. Compartilhar benefícios e deveres também faz parte do socialismo." (Orestes Aguilar, motorista de ônibus local).
"O socialismo no campo demonstra-se na produção de alimentos. Todo mundo fala dos privilégios da saúde e da educação (são gratuitas). Cabe-nos manter isso, mas é preciso levar alimentos aos hospitais, aos lares maternos, às escolas com regime de semiinternato, às creches, porque o Estado não se esquece nem cobra nada a nenhuma família camponesa na hora de oferecer as bondades sociais." (Ricardo Serrano, camponês).
"O transporte urbano é insuficiente e, com minha carruagem, eu presto um serviço útil ao povo. A gente paga um pouco mais, mas agradece o serviço, e enquanto eu não fixe preços elevados, trate bem o cliente e respeite as leis, penso que eu também estou fazendo socialismo, como mesmo faz o médico, o construtor, o professor ou outro trabalhador qualquer." (Agustín Aceo, cocheiro).
"O sacrifício do pescador combina-se com o desenvolvimento social e econômico. Em boa medida, a saúde e educação gratuitas, previdência social e todos os benefícios da Revolução dependem de nós. Por isso, quando estou no alto mar por vários dias, estou tranquilo, porque sei que meus três filhos recebem educação e quando adoecem, recebem serviços médicos de graça. O socialismo me dá essa oportunidade." (Miriel Ginarte, pescador).
"Em minha opinião, o socialismo é agradecimento do povo. No setor da saúde demonstra-se cada dia, pois, apesar de 50 anos de atendimento gratuito e de as pessoas às vezes não perceberem quanto custa isso, elas sempre agradecem ao pessoal da saúde." (Yusneidis Aleaga, médico).
"No socialismo, a pessoa é o primeiro, e em virtude desse princípio, devemos ainda melhorar e aperfeiçoar muitas coisas. Por exemplo, o tratamento ao paciente e prestar serviços médicos de maior qualidade. Nunca devemos esquecer por que foi que pudemos nos formar como médicos ou enfermeiras, como profissionais, em geral, e nenhum diploma nem possibilidade econômica nos dá direito a sentirmo-nos superiores a outros. A humildade é também uma aprendizagem do socialismo que todos nós juntos construímos." (Adisleydis Pino, dentista)
"Há pouco, estávamos num círculo de interesse e talvez quando nós sejamos adultos trabalhemos aí. Ninguém cobra por isso, nem as aulas, nem os livros, e os professores se preocupam pelos problemas familiares. Eles dizem que nós lhes pagamos fazendo as tarefas, cuidando os materiais escolares, sendo amáveis e comportando-nos bem na sala de aulas e em casa. Graças ao socialismo e à Revolução, somos felizes, vivemos sem guerras e podemos brincar onde quisermos." (Iviana, Marisleydis, William Daniel e Maryiné, pioneiros).
NUNCA VAMOS RECUAR
O estudo do socialismo cubano ocupou parte do tempo de Fernando Martínez Heredia, Prêmio Nacional de Ciências Sociais (2006) e, entre todas as visões, considera interessante a assimilação popular do termo.
O jornal Granma o entrevistou a respeito do assunto:
Como o povo assimilou, no início, o termo socialismo?
O socialismo em Cuba foi assimilado pelo povo — e refiro-me à maioria — como o modo superior de sua libertação. O socialismo não era já simplesmente derrotar a tirania de Batista, apoderar-se das propriedades usadas pelos ricos para submeter a maioria à miséria ou tirar aos norte-americanos o poder que tinham em Cuba.
Assim sendo, o socialismo foi considerado como forma da dignidade humana, de assumir, afinal, a condição humana: não ser o lobo dos outros para sobreviver; sentir-se companheiro de outros; para a mulher, o fato de não ter sido mais considerada inferior ao homem; não considerar o ofício mais simples como uma desonra, e outras coisas que foram surgindo de maneira mais humana para as pessoas.
Além disso, significou levar um fuzil na mão e a possibilidade não só de se defender, mas de defender todos com uma arma, que já não era símbolo exclusivo dos corpos de repressão. Ter a capacidade de ler, escrever e estudar as séries escolares. Tudo isso, desde o início, foi o socialismo, e daí a imensa força dele hoje, na Ilha.
O socialismo foi assimilado de maneira maravilhosa pela maioria dos cubanos, ainda em meio a grandes lutas: as lutas de classes, as lutas contra o imperialismo, as inúmeras pessoas que, sem serem ricas, não entenderam a Revolução e abandonaram o país. Outros que chegaram também a lutar contra a Revolução e eram pobres, o que é ainda mais difícil.
Quer dizer, também não foi uma festa, mas de tudo isso, surgiu a fortaleza do socialismo em Cuba.
Considera que em 50 anos o socialismo evoluiu?
Em 50 anos, o socialismo, com certeza, foi mudando quanto a sentido e conteúdo. Eu acho que, de muitos pontos de vista, a mudança foi muito positiva.
Foi muito positivo quando tornou universais os serviços fundamentais, e os principais deles foram gratuitos.
Cuba é uma Revolução verdadeira e muito profunda, por meio da qual se apropriou das riquezas nacionais e depois, organizou a partilha. Em lugar de uma partilha efêmera e desorganizada, tornou-a um poder capaz de oferecer educação e saúde gratuitas, e oportunidades às pessoas de acordo com seus méritos e qualidades.
Alguma vez perguntaram a alguém qual o salário para poder receber algum tratamento? Não, e isso é resultado de uma sociedade superior. Daí provém a cultura socialista cubana e a capacidade de vencer e de resistir.
Há 20 anos, o socialismo colapsou em escala mundial. Quando a União Soviética se desintegrou, muitos pensaram que Cuba não conseguiria sobreviver porque dependia dela. Mas, em seguida, ficou demonstrado que isso não só era falso, mas também que o socialismo cubano tinha força e profundas raízes.
Hoje, nossos detratores não tiveram outra alternativa que acostumar-se a uma Ilha com um papel muito importante no continente, na nova onda de movimentos populares, nos milhares de internacionalistas de elevada qualidade profissional que colaboram em diversos países, que ajuda a que revoluções como as da Venezuela e Bolívia floresçam a partir de benefícios reais para o povo. Isto é, são benefícios do socialismo que se mantiveram.
Hoje, estamos em meio a um processo de recuperação do pensamento marxista e do conjunto de pensamentos revolucionários cubanos. O presidente Raúl Castro afirmou com clareza: "Estamos diante de um debate do povo e suas opiniões são alicerces do Congresso e da Conferência do Partido. Exercitamos a capacidade do povo cubano de participar de maneira autenticamente democrática, questão positiva e fundamental".
Deste debate também deve surgir, entre outras questões, a solução para mudar a opinião de que não devemos continuar sendo socialistas e devemos recuar.
Nós nunca vamos recuar para nos salvar. Conseguiremos salvar-nos indo para frente, e por isso, ainda restam dias de trabalho maravilhosos ao socialismo em Cuba.

Texto: / Postado em 18/04/2011 ás 18:20



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