Argentino torturado e "desapaprecido"
  num "voo da morte" , reconhecido por
  filha criada por esbirro da ditadura


Em 1976, cadáveres começaram a ser encontrados no litoral uruguaio. Com indícios de que sofreram violência, por apresentarem feridas, hematomas e fraturas ósseas, os corpos foram enterrados como “anônimos” na cidade de Colônia. Em um período em que o Uruguai vivia sob uma ditadura perpetradora de crimes contra presos políticos, peritos alegaram que não havia elementos suficientes para saber quem eram as vítimas.

Nesta quarta-feira (24/05), 36 anos depois da chegada destes corpos à orla uruguaia, a identificação de um deles foi anunciada. Trata-se de Roque Orlando Montenegro, um jovem argentino de 20 anos que foi sequestrado em sua casa um mês antes do golpe de Estado em seu país, em 1976. Militante peronista, Montenegro foi brutalmente torturado em uma prisão clandestina ao lado da mulher, Hilda Torres, com quem participava da luta no período prévio à ditadura.

Após a exumação e repatriação do corpo, no ano passado, a análise dos antropólogos forenses levou a uma descoberta que comprova que Montenegro foi vítima de uma prática de extermínio da ditadura argentina anterior ao golpe. Ele teria sido morto, em data desconhecida, em um dos “Voos da Morte”, na qual prisioneiros políticos eram jogados, do alto de um avião, em alto mar.

As descobertas foram anunciadas pela filha da vítima, Victoria Montenegro, em uma entrevista coletiva. Levada a uma prisão clandestina quando tinha apenas 13 dias de vida, e apropiada ilegalmente pelo coronel que assassinaria seus pais, a mulher de 36 anos foi encontrada em 2000 pelas Avós da Praça de Maio, que lutam pela identificação dos cerca de 500 bebês nascidos em cativeiro e adotados ilegalmente por outras famílias durante a repressão.

“Precisei de vários anos para assumir minha identidade e tentar acomodar minha história. Meu apropriador tinha me dito, em relação aos meus pais, que tinham sido abatidos em um combate ocorrido em 1976”, afirmou Victoria ao revelar a identificação do pai, concluindo que a análise da Equipe Argentina de Antropologia Forense comprova “a existência de um plano sistemático [de extermínio] anterior ao golpe de Estado”. (Com Opera Mundi)

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