Morte de Jango será analisada pela Comissão Nacional da Verdade
Família entregou dossiê a integrantes do grupo e MPF irá a São Borja ouvir médico que acompanhou traslado do corpo
Dispostos a elucidar as circunstâncias da morte do ex-presidente João Goulart, familiares do político gaúcho entregaram segunda-feira, à Comissão Nacional da Verdade, um dossiê pedindo providências. Eles acreditam que Jango foi vítima de uma conspiração e voltaram a pedir que seu corpo seja exumado.
O ex-presidente morreu em 1976, em Corrientes, na Argentina. À época, a morte foi atribuída a um ataque cardíaco, mas os parentes sustentam que ele teria sido envenenado a mando do regime militar.
Além de pedir a autópsia, os familiares querem que o Ministério Público Federal (MPF) e a Comissão da Verdade recorram a Estados Unidos, Chile, Uruguai e Argentina para obter documentos e ouvir pessoas ligadas à Operação Condor — a aliança secreta entre as ditaduras militares da América do Sul para perseguir opositores.
— As dúvidas em torno da morte do meu avô existem desde sempre. Agora parece que finalmente estamos tendo um respaldo que não tínhamos antes — disse Christopher Goulart, neto do ex-presidente.
Responsável por um inquérito civil público aberto em 2007 no MPF, a procuradora Suzete Bragagnolo ouvirá em São Borja, o médico Odil Rubim Pereira, que acompanhou o traslado do corpo de Jango à época.
— Antes de pedir a exumação, como quer a família, precisamos ter mais subsídios — disse Suzete.
A AUDIÊNCIA NO ESTADO
— Relatório gaúcho:
O coordenador da Comissão Estadual da Verdade, Carlos Guazzelli, apresentou um relatório sobre as primeiras ações do grupo, criado em agosto. Até esta segunda-feira, seis pessoas haviam sido ouvidas no Estado, três homens e três mulheres. Para acelerar o trabalho, o grupo está fechando um convênio com o Departamento de História da UFRGS. Com isso, passará a contar com estagiários e pesquisadores voluntários a partir de abril.
— A revisão da lei:
Na abertura, o governador Tarso Genro criticou a interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à Lei da Anistia. Em 2011, a Corte decidiu que os agentes da repressão militar não poderiam ser penalizados.
— Esta decisão do STF pode ser mudada e aposto que vai ser mudada. Vozes importantes dentro do Supremo estão dispostas a rever aquela decisão — disse Tarso.
— Combate à tortura:
A ministra Maria do Rosário a importância de um projeto de lei que deve ir a votação nesta terça-feira, na Câmara. O objetivo da proposta, apresentada pela presidente Dilma Rousseff, é combater a tortura hoje. Para isso, o governo federal quer criar um grupo de peritos com autonomia para entrar em qualquer instituição — de presídios a casas geriátricas — para verificar a situação das pessoas.
— Queremos que as instituições tenham paredes transparentes — afirmou a ministra.
— Carimbo na carteira:
O ex-governador Olívio Dutra foi um dos mediadores do painel que reuniu ex-presos políticos na audiência. Ele contou sua história como sindicalista. Quando ainda era bancário, o missioneiro teve a carteira de trabalho carimbada. Mas não foi "promoção".
— Carimbaram "participou da greve" na minha carteira. Dá para acreditar? — brincou Olívio. (Com o Instituto João Goulart)
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