17 de abril de 1996:NOSSA HOMENAGEM AOS MARTIRES DE CARAJAS !
Da Secretaria Geral do MST
Homenagem aos mártires de carajás, nossos 19 trabalhadores rurais brutalmente assassinados pela Policia Militar do Pará, quando era Presidente Fernando Henrique Cardoso e governava o estado do Para, o senhor ALMIR GABRIEL (PSDB), já falecido.
Não podemos nos esquecer jamais.
Não podemos esquecer que até hoje nenhum dos responsaveis foi punido por aquele crime.
Não podemos esquecer que as dezenas de soldados e oficiais, sairam de seus quarteis de Paraupebas e Marabá, com munição real, armados de fuzis e sem identificação nas fardas, prenunciando o massacre, cercaram os caminhantes e impediram a continuidade da marcha que o MST estava fazendo até Belém.
Todos eles foram todos absolvidos. Alguns morreram assasinados pela violencia social. Outros devem estar remoendo o remorso até hoje.
Não podemos esquecer que comandaram a tropa o Coronel Mário Pantoja e o Major José de Oliveira. Ambos foram condenados a 228 anos de prisão cada. Porém, estão recolhidos a apartamentos privativos de oficiais em algum quartel de Belém.
Não podemos esquecer, que consta nos autos processuais, denunciada pelos advogados da Policia Militar, de que a operação militar foi custeada com recursos da mineradora VALE DO RIO DOCE, que não queria ter caminhantes atrapalhando a passagem dos seus lucros.
Não podemos esquecer que há entre as vítimas 69 feridos com sequelas, a maioria impossibilitados para o trabalho agricola. As viuvas foram indenizadas pela Assembleia Legislativa do Para e recebem um salario minimo mensal.
As centenas de familias que resistiram e sobreviveram, estão finalmente assentadas, na area que reivindicavam desapropriação. Um latifundio improdutivo de 50 mil hectares, que o então presidente do Incra, Francisco Graziano considerava antes produtiva.
Agora, são o assentamento 17 de abril. Sua agrovila, progressista, se transformou em distrito do municipio de Eldorado de Carajas. Vivem muito bem, e só a produção de leite atingem mais de 30 mil litros diários para abastecer a população da região.
Há até uma biblioteca com o nome JOSE SARAMAGO, em agradecimento ao seu depoimento solidario.
Por isso as dezenas de organizações campesinas de todo mundo, da VIA CAMPESINA INTERNACIONAl, reunidas na II conferencia mundial em abril de 1996, no Mexico, institutiram o dia 17 de abril: Dia mundial de luta camponesa!
A sociedade brasileira reagiu indignada. O MST fez entre março aabril de 1997 uma longa marcha de 1500 quilometros até Brasilia, para exigir justiça, A cidade parou e fomos recebidos por milhares de trabalhadores.
Envergonhado por sua resposabilidade indireta, em novembro de 2002, o então presidente Fernando Henrique Carodoso, sancionou projeto de inciativa da Senadora Marina Silva, que decretou 17 de abril: dia nacional de luta pela reforma agraria!
Queremos denunciar e lembrar os fatos, através da poesia de PEDRO TIERRA, escrita em homenagem aos mártires. logo após o ocorrido.
A Pedagogia dos Aços
Candelária,
Carandirú,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajas ...
A pedagogia do aços
golpeia no corpo
essa atroz geografia ...
Há cem anos
Canudos,
Contestado
Caldeirão ...
A pedagogia dos aços
golpeia no corpo
essa atroz geografia ...
Há uma nação de homens
excluídos da nação.
Há uma nação de homens
excluídos da vida.
Há uma nação de homens
calados,
excluídos de toda palavra.
Há uma nação de homens
combatendo depois das cercas.
Há uma nação de homens
sem rosto,
soterrado na lama,
sem nome
soterrado pelo silêncio.
Eles rondam o arame
das cercas
alumiados pela fogueira
dos acampamentos.
Eles rondam o muro das leis
e ataram no peito
uma bomba que pulsa:
o sonho da terra livre.
O sonho vale uma vida?
Não sei. Mas aprendi
da escassa vida que gastei:
a morte não sonha.
A vida vale tão pouco
do lado de fora da cerca ...
A terra vale um sonho?
A terra vale infinitas
reservas de crueldade,
do lado de dentro da cerca.
Hoje, o silêncio
pesa como os olhos de uma criança
depois da fuzilaria.
Candelária,
Carandirú,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajás não cabem
na frágil vasilha das palavras ..
Se calarmos,
as pedras gritarão ...
Brasília,
25/04/96
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