Afinal, foi mesmo o petróleo que causou a invasão do Iraque?
Luiz Eça
A ideia de que os norte-americanos e ingleses atacaram o Iraque por causa do seu petróleo foi muito divulgada em todo o mundo. E ridicularizada como mais uma fantasia esquerdista.
O Relatório Chilcot, que investigou a atuação do governo inglês nesse episódio, provou que podia ser correta. E o The Guardian de 7 de julho conta tudo.
Em 23 de janeiro de 2003, dois meses antes da invasão, membros do governo inglês convocaram uma equipe da British Petroleum para fazer um relatório sobre as perspectivas do setor petrolífero iraquiano.
No mês anterior, em Washington, sir David Manning, assessor de Tony Blair em política externa, em reunião com Condolezza Rice, assessora, de segurança nacional dos EUA, foi curto e grosso: o Reino Unido queria uma parte maior dos despojos.
Os dois países vinham disputando acremente o controle do petróleo iraquiano após a queda de Saddam Hussein.
Talvez lembrando que um gentleman não deve ser rude com damas, Manning moderou seu tom no, digamos, colóquio com Condolezza. “Não seria apropriado para o governo de Sua Majestade”, disse ele, “entrar em discussões sobre qualquer divisão futura da indústria petrolífera iraquiana”.
Mas concluiu de forma extremamente objetiva: “Todavia é essencial que seja dado a nossas companhias acesso em condições de igualdade a este e outros setores”. E assim foi.
Naquele mesmo ano, a British Petroleum (BP) iniciou um estudo técnico do campo Rumaila, o segundo maior do mundo. Em 2009, a BP ganhou um contrato de serviços para elevar a produção nesse campo.
Foram úteis as negociações de Edward Chaplin, embaixador inglês no Iraque já ocupado, com o primeiro ministro Ayad Allawi sobre como aumentar os interesses da BP e da Shell no país, em dezembro de 2004.
Depondo no Inquérito Chilcot, Tony Blair informou ter falado a Bush sobre seus temores de que prosperasse o que ele chamava de “mito” do petróleo como motivador da guerra do Iraque.
Parece que o se presidente estadunidense não estava nem aí com os problemas de consciência do seu parceiro, pois Blair não referiu qualquer comentário de Bush sobre suas preocupações.
Se era mito ou realidade, as anotações feitas por Geoff Horn – então secretário da Defesa do Reino Unido – para uma reunião que teria com Donald Rumsfeld, secretário da Defesa dos EUA, são um tanto elucidativas: discutir a necessidade de igualdade de condições – grandes contratos para reconstruir o Iraque – e vidas inglesas postas em jogo – espera de condições de igualdade para os negócios do Reino Unido em óleo e outras áreas.
Não é de se dizer que o petróleo foi a única razão dos EUA de Bush e do Reino Unido de Blair invadirem e ocuparem o Iraque durante tantos anos. Mas que pesou bastante, as evidências do Inquérito Chilcot estão aí para comprovar.
Rebeldes sírios também torturam
A grande mídia está sempre pronta a publicar denúncias de torturas praticadas pelo exército do presidente Assad ou milícias que o apoiam.
A Anistia Internacional acaba de revelar (Sky News, Austrália) que as forças rebeldes sírias também fazem essas barbaridades.
Diz relatório da Anistia que, no norte e no noroeste da Síria, grupos rebeldes apoiados pelos EUA, Arábia Saudita, Qatar e Turquia são responsáveis por sequestros, torturas e execuções sumárias.
Foram documentados 24 casos de sequestro por grupos armados nas províncias de Aleppo e Idlib, entre 2012 e 2016.
Contam-se entre as vítimas ativistas, pacifistas, crianças e minorias religiosas, perseguidas apenas por não serem muçulmanos sunitas, como os milicianos rebeldes.
Os autores dessas violências pertencem às milícias Nour al-Din, Movimento Zanki, al-Nusra (filial da al-Qaeda), Frente Levante, 16ª Divisão e Ahrar al-Sham.
Segundo relatório do Instituto para o Estudo da Guerra (de Nova Iorque), publicado em fevereiro, o Nou, o Zanki e o Nusra recebem ou receberam armamentos dos EUA.
A Aliança Internacional comunica ainda que membros da minoria curda em Sheikh Maqsoud, distrito de Aleppo controlado por forças curdas, e padres cristãos foram sequestrados por grupos rebeldes que os levaram para áreas dominadas por eles.
Ali todos foram julgados de acordo com a sharia, lei islâmica criada na Idade Média, sendo em seguida executados sumariamente.
Entre os mortos havia muitos civis, inclusive um jovem de 17 anos, condenado por homossexualismo, e uma mulher, por adultério.
Depois de uma série de experiências negativas, os EUA passaram a selecionar os grupos rebeldes a quem vão fornecer armas e financiamentos, usando processos altamente rigorosos (segundo garantem).
No entanto, vários dos grupos qualificados como moderados, acabaram aderindo à al-Qaeda ou ao ISIS. O relatório da Anistia Internacional sugere que mesmo muitos daqueles que, depois de aprovados nos testes, continuam sob o guarda-chuva de Tio Sam, revelam-se autênticos criminosos de guerra.
Nesta guerra, good guys são poucos. Apesar da grande mídia, os bad guys continuam dominando em ambos os lados.
Luiz Eça é jornalista.
Website: Olhar o mundo.
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