Dar a cara a tapa
José Carlos Alexandre
Lembranças de 1985/1986 (muitos dos meus amigos nem eram nascidos)...
Desde que, saído de "Novos Rumos", o jornal do PCB que tinha sucursal em Belo Horizonte, na Rua Carijós, 121, entrei no então "Diário da Tarde", tinha por hábito passar na redação no horário da manhã, quando o jornal era fechado, isto é, a edição era encerrada e enviada as últimas páginas para a Oficina.
Passava um pouco à tarde, distribuía o roteiro ( a pauta do dia) e saia ora para um cineminha, nas imediações, ora para uma sauna ( a Cascata).
(Quando ainda não era chefe de Reportagem e depois editor, cobria normalmente os sindicatos e passava rigorosamente todos os dias na então Delegacia Regional do Trabalho e no Tribunal Regional do Trabalho),
Estava de volta à redação às 18h, l8h30 para os fechamentos das páginas e ia ate meia-noite, uma hora.
Uma tardinha de 1986 o PCB saiu às ruas, "mostrando sua cara", novamente, depois da cassação antidemocrática de 1947, quando tinha 15 deputados federais e o senador Luiz Carlos Prestes, além deputados estaduais, como Armando Zilller em Minas Gerais.
A população foi surpreendida com um grupo de comunistas com as bandeiras vermelhas tendo como destaque a foice e o martelo, símbolo da aliança operários-camponeses, e gritando palavras de ordem do tipo "Aqui é o Partidão".
Quando cheguei à redação, por volta das 19h, foram aqueles comentários...
Todo mundo se surpreendo, já que sempre levei em conta o fato de ter ação política fora no local de trabalho e fora do Sindicato, onde sempre atuei, participando nas comissões de salário, assembleias e da única greve da categoria , em 1963...
Eu, apertado em cumprir minhas tarefas normais , embora pensando em ações a serem desenvolvidas em assembleias de trabalhadores, de favelados, entre os ex-combatentes e e até entre a burguesia dita progressista ( era a linha política da época), através de promoção de combate ao desemprego no Vale do Paraopeba, criação da Açominas, da Utramig,seminários de combate à exportação indiscriminada de nossas riquezas minerais etc.
Parecia muita tarefa para alguém sempre ligado à classe operária desde criancinha, em Nova Lima...
Mas era novo e dava conta do recado... A ponto de sair candidato pelo Partido.
Todos nós, inscritos no PCB, praticamente disputamos um cargo público, pois era um meio de gritar ao país que o Partido Comunista Brasileiro não se extinguia com cassação em 1947 nem com a morte de metade de seu Comitê Central na ditadura cívico-militar, fora a perseguição geral contra comunistas e simpatizantes.
Tempos de desemprego e repressão. Tempos de resistência de atuação "legal e ilegal", de viagens de militância misturadas com as de trabalho...
Somos homens e mulheres comuns...Mas temos histórias de espantar e de arrepiar...
Afinal alguém tem de pôr a cara a tapa...
Como é bom recordar, nestes tempos de mudanças abruptas de governo, impeachment, movimentos de rua e tudo o mais...
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