Estado palestino laico
Beth Monteiro (*)
Os palestinos precisam se unir em torno da retomada da luta por um Estado palestino laico, democrático e não racista
Durante a cerimônia de comemoração ao Dia da Árvore Judaico (30/01), na Cisjordânia ocupada, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que irá manter a Cisjordânia para sempre como parte de seu país “Nossa mensagem é clara: nós estamos plantando aqui, vamos construir aqui e ficar aqui. Este lugar será parte inseparável de Israel para toda a eternidade “, disse o primeiro-ministro.
Como consequência da grande perda de tempo que foram as negociações com Israel, os palestinos estão começando a vislumbrar outros horizontes para além dessa discussão sem fim da solução de dois Estados: a luta pela igualdade de direitos para todos os habitantes da Palestina histórica, adotando o programa semelhante ao dos negros na África do Sul do Apartheid para lograr a igualdade civil, religiosa, social e econômica num Estado democrático, laico e não racista. Estatística recentes confirmam o crescimento dessa visão entre os palestinos. Embora tenha exigido seu reconhecimento e se comprometido com a chamada solução de dois Estados, Israel fez o caminho contrário, destruindo todas as parcas possibilidades que existiam para isso.
As orientações políticas e ideológicas que predominam na sociedade israelense tornam cada vez mais distantes as condições para Israel aceitar as fronteiras estabelecidas pela ONU antes de 1967. Israel não quer negociar nada. Quer todas as terras da Palestina. Então deve se conformar que essas terras continuam a ter um povo e que milhões deles, que foram expulsos, têm o direito de retornar. Desde a fundação da OLP que foi, durante vários anos, a ferramenta que garantiu a sobrevivência e o reconhecimento da nacionalidade palestina em todo mundo, a Palestina tornou-se um Estado sui-generis - uma nação da qual roubaram as terras.Essa nacionalidade organizada em vários partidos conta com mais de 10 milhões de pessoas que vivem nos territórios ocupados de Gaza e Cisjordânia, nos acampamentos de refugiados em países do Oriente Médio e na Diáspora.
A capitulação de Arafat não mudou a essência da Nação Palestina, apenas postergou sua missão histórica, dando fôlego a Israel para implementar sua política genocida com um único objetivo: exterminar uma parte e expulsar outra parte dos palestinos que vivem nos territórios ocupados de Gaza e Cisjordânia, permitindo que um pequeno contingente de pessoas continue naquelas terras, um número bem reduzido que não ameace a superioridade populacional de Israel.
É a serviço dessa estratégia que se criou a “solução de dois Estados”. Contra a existência de um estado israelense, os palestinos precisam se unir em torno da retomada da luta por um Estado palestino laico, democrático e não racista. A luta inglória pela preservação de pequenos territórios palestinos ocupados por Israel acaba servindo a essa estratégia de Israel porque é uma luta sem fim.
O circo chamado Autoridade Palestina também serve a este objetivo de Israel, ou seja proporcionar ao estado judeu-nazi-sionista o prazo que necessita para exterminar uma parte dos palestinos e escravizar a outra parte.
O desmantelamento da AP em nada vai diminuir a representatividade da OLP e demais partidos junto aos povos e governos em todo o mundo. Não fará falta alguma, pois não possui poder algum, salvo o poder policial a serviço de Israel. Em que pese a traição da Fatah, a OLP continua a ser, juntamente com o Hamas e outros partidos menores , os representantes políticos dessa nação, desse Estado sui generis.
As diferenças políticas entre eles, que são profundas, devem se superadas democraticamente, através das eleições para o Governo da Palestina, e não para uma fictícia Autoridade Palestina. Este Estado sui generis, porque lhe roubaram o território, preservará assim as demais características de um Estado Nação: povo, idioma, cultura, tradições, Constituição e Forças Armadas.
Sua luta será pelo direito de viver com igualdade de condições em seu território usurpado, onde será reconstruída a Palestina. Que ela seja laica, democrática e não racista é o desejo de todos os povos de consciência do mundo. Assim, os palestinos estarão livrando o mundo do nazismo- a mais horrenda face do imperialismo.
Este pode parecer um caminho longo e demasiado penoso, pois Israel jamais aceitará pacificamente repartir os frutos de seu roubo com suas vítimas espoliadas. Entretanto, terá que se render às evidências, à situação real que ele mesmo criou: a existência de um único estado judeu- nazi-sionista cujo objetivo é exterminar parte de sua população: os palestinos.
A partir do momento que Israel não aceitou as fronteiras impostas pela ONU antes de 1967, ele criou, na prática, um único estado e jamais mudará de opinião. De fato, a realidade tem demonstrado que Israel ,como um engendro racista e genocida do imperialismo mundial, jamais aceitará um Estado palestino soberano e viável economicamente.
Depois de anos de negociações , de roubo sistemático de terras palestinas, de agressões, invasões, massacres, assassinatos, prisões, torturas, o máximo que Israel pensa em conceder são uns pedaços de terra isolados uns dos outros, totalmente militarizado, onde os palestinos serão trancados dentro dos limites do muro do Apartheid.
Para Israel deixar claro ao mundo suas intenções, falta esmagar a legítima resistência dos palestinos: as brigadas do Hamas, da FDLN, da FPLN, do PPP e da Jihard e impor o mesmo regime da Cisjordânia em Gaza: construir o último bantustão no que, agora, é o maior campo de concentração do mundo. Não é preciso esperar para o mundo inteiro ver a cara do novo Hitler, porque será tarde demais. Ainda é possível detê-lo.
Beth Monteiro (*) é do Comitê de Solidariedade aos Palestinos, em SantaCatarina
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