Oposicionistas também cometeram abusos na Síria, diz ONG

Atualizado em 20 de março, 2012 - 13:06 (Brasília) 16:06 GMT
Protesto contra Assad em Idlib | Foto: Reuters
Governo sírio teria colocado minas terrestres em rotas de refugiados

Membros de grupos oposicionistas da Síria, que há mais de um ano pedem a renúncia do presidente Bashar al-Assad, também cometem abusos e violações de direitos humanos como tortura, sequestros e execuções, acusou nesta terça-feira a ONG internacional Human Rights Watch (HRW).
Em carta aberta ao Conselho Nacional Sírio (CNS), que congrega os oposicionistas, a organização diz que as "táticas brutais" do regime não justificam os abusos cometidos pelos braços armados da oposição.
A HRW também deixa claro que não há indícios de que os responsáveis pelos abusos pertençam a estruturas organizadas da oposição ou que estejam seguindo ordens do CNS.
Sarah Leah Whitson, diretora de Oriente Médio da ONG, diz que o CNS deveria deixar claro que os rebeldes não deveriam, sob hipótese alguma, torturar, sequestrar ou executar.
Entre os alvos dos abusos estariam integrantes das forças de segurança do governo, apoiadores de Assad, e pessoas identificadas como membros das Shabiha, as milícias pró-regime acusadas de levar a cabo execuções de civis como parte das técnicas de repressão aos protestos.
Segundo a ONU, que já descreveu a crise no país como uma guerra civil, mais de 8 mil pessoas já morreram desde o início dos confrontos há mais de um ano.
Na esteira da Primavera Árabe, onda de protestos que derrubou os ditadores da Tunísia, Egito e Líbia e promoveu reformas no Marrocos, na Jordânia e a transição política no Iêmen no ano passado, os rebeldes sírios querem a saída de Assad do poder.
Embora as potências ocidentais venham pressionando o regime, esforços para condenar o governo na ONU vêm sendo barrados por China e Rússia.

Um ano

Na semana passada, quando a revolta completou um ano, 200 grupos humanitários de 27 países - entre eles Human Rights Watch, Christian Aid, Instituto de Estudos de Direitos Humanos do Cairo (CIHRS, na sigla em inglês), Civicus e a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) – apelaram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para se unir e aprovar uma resolução condenando o regime sírio pelo uso de violência, tortura e prisões arbitrárias de civis.

Cresce número de refugiados sírios na fronteira com a Turquia
Governo turco afirma que mais de 14 mil chegaram ao país; campos também foram abertos no Líbano.

"Durante um ano inteiro vimos o aumento do número de mortos na Síria, que chegou ao total horripilante de mais de 8 mil, incluindo centenas de crianças", disse Ziad Abdel Tawab, vice-diretor do CIHRS.
"Já não é chegada a hora de o mundo se unir e tomar medidas efetivas para interromper isso agora?", questiona.
Outro motivo de preocupação é a fuga dos sírios para países vizinhos, levando à formação de campos de refugiados.
"O número de refugiados sírios atualmente na Turquia aumentou em mil em apenas um dia e subiu para um total de 14.700", disse na última quinta-feira o porta-voz da diplomacia turca, Selcuk Unal.

Mediadores

Na segunda-feira, uma equipe de cinco mediadores despachada pelo enviado da ONU e da Liga Árabe à Síria Kofi Annan ao país para negociar um cessar-fogo diário. O objetivo é prestar auxílio humanitário no intervalo da ofensiva das tropas do regime.
Assad e Annan. AP
Assad recebeu o ex-secretário-geral da ONU, Koffin Annan, mas não fechou nenhum acordo

Jakob Kellenberger, chefe da Cruz Vermelha Internacional, disse que há indicativos de que a Rússia possa apoiar a iniciativa de um cessar-fogo diário de duas horas.
Suas declarações chegam após um encontro com o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Moscou.
Ainda na sexta-feira, uma semana após se reunir com o presidente sírio, Bashar al-Assad, o enviado das Nações Unidas manifestou que poderia enviar uma nova equipe de monitores ao país.
A Liga Árabe já enviou uma primeira missão de monitoramento ao país ainda no fim do ano passado, com espectro de ação limitado e sob intensa vigilância do regime.
As mortes de civis não foram interrompidas e, segundo ativistas, mais de 400 morreram durante a visita dos diplomatas.(Com a BBCBrasil)

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