Curadores da Bienal de SP apoiam protesto de artistas contra o patrocínio de Israel

                                                                   

                       
                                    Em nota, curadores  apoiam manifesto de artistas

Os curadores da 31ª Bienal de São Paulo manifestaram apoio aos artistas que pediram que a fundação responsável pela mostra devolva o dinheiro obtido por patrocínio do Estado de Israel, recusando o financiamento do país.

Na quinta-feira (28), 55 dos 86 artistas participantes da Bienal, entre entre eles israelenses, palestinos e libaneses, enviaram uma carta aos curadores e à direção da Fundação Bienal em que manifestavam o repúdio ao apoio financeiro de Israel.

"Enquanto o povo de Gaza retorna aos escombros de suas casas destruídas pelo Exército israelense, nós achamos inaceitável receber o apoio de Israel", dizia o texto.

Agora, os curadores responderam ao manifesto e, em nota, disseram "dar apoio" aos artistas e "entender" sua posição.

"Nós acreditamos que o manifesto e o pedido dos artistas também deveria servir para começar a pensar nas fontes que financiam os grandes eventos culturais", escreveram.

Segundo eles, diversas obras participantes da 31ª Bienal abordam a luta por justiça em diferentes partes do mundo. Por isso, questionam o modelo que está sendo usado na mostra, em que os curadores têm "liberdade artística", enquanto a fundação tem "responsabilidade pelos assuntos financeiros e administrativos".

"No entanto, como consequência dessa situação, assim como em outros incidentes em eventos similares ao redor do mundo, é claro que as fontes do financiamento cultural têm impacto dramático na suposta 'independência' da curadoria e na narrativa artística de um evento. O financiamento, seja ele estatal, privado ou corporativo, fundamentalmente molda a maneira com a qual o público recebe o trabalho dos artistas e dos curadores."

Com isso, pediram que a Fundação Bienal revise seu modelo de organização e patrocínio do evento.

RESPOSTA DA BIENAL

A fundação, por sua vez, afirmou em nota oficial que se compromete a "levar ao Conselho a discussão sobre os modelos de participação e captação de recursos internacionais para a realização das mostras futuras".

Antes da divulgação do manifesto, porém, Luis Terepins, presidente da Fundação Bienal, disse à Folha que não existe a possibilidade de devolver o dinheiro —cerca de R$ 90 mil de um orçamento total de R$ 24 milhões— a Israel.

"Nós somos uma instituição plural, não tomamos partido", afirmou Terepins. "Buscamos apoio de todos sem discriminação. Esse problema que existe entre Israel e palestinos fica lá. O grande exemplo que a temos de dar é o que buscamos construir."

O cônsul de Israel em São Paulo, Yoel Barnea, disse que também estava ciente do manifesto. "A arte é uma linguagem que aproxima os povos. Mas a atitude destes artistas só cria mais distância entre eles e não é construtiva para a paz no Oriente Médio."

(Com a Folha de São Paulo)

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