"De Menor" prova que há necessidade de se democratizar meios de viabilizar os filmes

                                                       
              Foto: cena entre Helena (Rita Batata) e Caio (Giovanni Gallo).

Bruno Pavan


O filme De Menor, dirigido por Caru, estreia nos cinemas de todo o Brasil no próximo dia 4 de setembro.A diretora Caru Alves poderia partir pro caminho fácil de fazer cinema para garantir uma boa bilheteria. Preferiu partir pelo caminho mais difícil: o do questionamento. "De menor", vencedor do festival do Rio, marca a sua estreia nos longas metragens e fala sobre a realidade dos jovens infratores no Brasil.

A história conta a saga da defensora pública Helena, que trabalha com crianças de adolescentes infratores e de sua relação com o irmão Caio. Caru diz que a inspiração para o filme veio de sua prima Michaela Alves de Sousa.

"Minha prima contava as história dela na defensoria em Santos, onde ela trabalhava. Explicava os casos que ela cuidava. Ela ficou bastante famosa porque não media esforços, fazia muito além do trabalho dela, organizava caravanas de São Paulo até Santos pras mães visitarem os filhos", afirmou.

O filme retrata mais profundamente a situação em São Paulo. A antiga FEBEM (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor) sempre foi alvo de muitas críticas por não socializar os jovens infratores da maneira correta e em 2006, foi substituída pela Fundação Casa.

Para Caru, a situação de hoje é melhor do que há dez anos, quando a própria cidade de Santos não tinha um defensor público da criança e do adolescente, mas que ainda está muito longe da ideal.

"Hoje alguns fóruns já funcionam de uma maneira mais horizontal do que antes, e o juíz, a acusação e o defensor trabalham de um modo mais conjunto e não tratam o jovem como um inimigo. Mas ainda está muito longe do que tem que ser. As unidades da Fundação Casa, por exemplo, ainda estão nos mesmos prédios que a Febem, com a mesma arquitetura. Se você não mudar essa estrutura, você dificilmente muda algo de fato", criticou.

O cinema como contraponto a mídia tradicional

A mídia cada vez mais vem alimentando o debate acerca da diminuição da maioridade penal e a adoção de penas mais duras contra jovens infratores. Vale lembrar do caso em que a apresentadora Rachel Sheherazade tratou como "compreensível" a atitude de um grupo de vingadores que amarrou um suposto infrator no poste na capital do Rio de Janeiro e gerou uma onda de casos de linchamentos por todo o país.

Caru aponta que a posição dos grandes grupos de mídia acerca do assunto também foi umincentivador para a realização do filme e acredita que o cinema pode servir como uma espécie de contraponto a opinião hegemônica da imprensa.

"O interesse comercial e político da grande mídia está claríssimo. No cinema há um espaço maior pra você fugir disso, mesmo que ele ainda dependa de financiamentos de governos de estados. Mesmo assim, não há um atrelamento tão direto entre a comissão que libera a verba pros filmes e ideologia do governo. 

O De menor mesmo teve dinheiro do governo do estado de São paulo, que muitas vezes age de maneira contrária ao que a mensagem do filme quer passar. Precisa acontecer, no entanto, uma socialização maior dos recursos existentes. Muitas vezes a maior parte deles ficam com comédias que nada mais são do que um extensão do que se passa na TV aberta ", disse.

A diretora acredita no cinema como arte de massa, por mais que no Brasil ela acabe se tornando mais elitizada por conta do alto preço e da localização das salas pelas cidades. Caru, porém, já sabe bem o caminho que quer seguir: "a função do cinema deve ser provocar o pensamento, a reflexão e a contestação ao telespectador. As pessoas precisam ir ao cinema pensar e não se desligar do mundo, como acontece hoje", concluiu. (Com o Diário Liberdade)

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