A crise no Brasil: bolha imobiliária?
Foto: Mateus Pereira/Secom Governo da Bahia (CC BY 2.0) |
Alejandro Acosta
A caderneta da poupança tem registrado o maior volume de saques dos últimos 20 anos. Neste ano, até o mês de maio, as retiradas somaram R$ 32,3 bilhões
Por que aumentam os saques da poupança?
Em torno de 65% dos recursos da poupança são usados pelos bancos para o crédito imobiliário. O rendimento da poupança, abaixo da inflação oficial, representa um dos motivos das retiradas. Mas há ainda o aprofundamento da crise capitalista que tem obrigado os brasileiros a recorrerem à poupança para pagar dívidas.
À queda da poupança se soma a saída dos fundos estrangeiros do Brasil, nos últimos dois anos, devido ao aumento do risco. O financiamento dos imóveis ficou concentrado nas mãos dos bancos públicos, principalmente a CEF (Caixa Econômica Federal), que passou a fornecer, de R$ 70 bilhões em 2011, para mais de R$ 140 bilhões em 2014.
Até o ano passado, a CEF financiava até 80% do valor dos imóveis. Agora só financia a metade e, no caso dos imóveis com valor superior aos R$ 750 mil, somente 40%.
Os bancos privados aumentaram os juros do crédito imobiliário, em maio, que passaram para taxas entre 10,3% e 11,6%.
Aonde conduz a contração do crédito imobiliário?
Os efeitos da contração do crédito imobiliário se traduzem na contração do setor da construção civil que hoje emprega mais de quatro milhões de trabalhadores.
Junto com o aumento da desaceleração industrial, representa um dos fatores relacionados com o aumento do desemprego.
O aprofundamento generalizado da crise econômica conduz, inevitavelmente, ao aumento da inflação, da carestia da vida e do desemprego. Ao mesmo tempo, para quem já possui financiamento imobiliário, o valor das parcelas aumentou e deverá aumentar ainda mais no futuro.
A redução da procura colocará em xeque os valores dos imóveis, que triplicaram nos últimos cinco anos. Gigantescos volumes de capitais especulativos migraram, dos países centrais para os chamados países emergentes, em busca de lucros.
Mas, conforme tem aumentado a tendência a esses países serem atingidos pela crise capitalista, esses capitais têm buscado o “porto seguro” das dívidas públicas ou quando ficam, exigem altas taxas de juros.
A queda dos preços provocará a repetição das situações que se tornaram muito comuns a partir de 2008, as mesmas que já tinham sido vistas antes no nosso hemisfério, principalmente após a bancarrota da Argentina em 2001.
Os preços dos imóveis caem (às vezes violentamente) e os compradores são obrigados a pagar financiamentos maiores que o valor dos imóveis, apesar de já terem feito pagamentos durante vários meses ou mesmo anos. Se a essa situação somarmos a piora das condições de vida, e ainda o desemprego, que estão colocados para o próximo período, a inadimplência tende a disparar.
No Brasil, mesmo não existindo a especulação com os nefastos derivativos financeiros nos níveis dos países centrais, a bolha imobiliária existe e tem uma origem clara. O principal fator é que o governo carrega o crédito imobiliário nas costas. Agora, o dinheiro da poupança, que fornece algum capital privado, está ficando cada vez mais enxuto.
Há uma encruzilhada imposta pelas próprias contradições do “nosso sistema capitalista tupiniquim”. O imperialismo exige um maior saque dos países latino-americanos, principalmente, por meio de mecanismos financeiros altamente parasitários, como a ultra podre dívida pública.
Ao serem tirados recursos do mercado imobiliário, a crise no setor produtivo acaba acelerando, ao mesmo tempo que se acentua a tendência ao estouro de bolhas financeiras com o potencial de gerar enormes rombos nos bancos.
Mas quais seriam as alternativas? Na realidade, o capitalismo parasitário não tem alternativas. Trata-se da conhecida, e muito atual, política do “salve-se quem puder”.
A única saída passa pelo rompimento com o imperialismo. Pelo desconhecimento da dívida pública e a estatização dos bancos, em primeiro lugar. Essa tarefa somente pode se realizar sobre a base de uma ampla mobilização popular, que é a única maneira possível para enfrentar, e derrotar, o imperialismo.
O estado burguês ainda pode continuar garantindo os lucros do capital financeiro, mas as consequências inevitáveis são o aumento da inflação, com mais recessão, e desemprego. Ou seja, ingredientes altamente explosivos que conduzem a um novo ascenso operário. (Com o Diário Liberdade)
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