“É lamentável que continuemos a ​nos ​ ​​ matar no meio d​e uma negociação de paz”

                                                                     
   
ENTREVISTA EM HAVANA, CUBA, COM IVÁN MÁRQUEZ, CHEFE DA DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARCs-EP

O nosso colaborador Carlos Morais entrevistou, em Havana, Cuba, o comandante Iván Márquez, chefe da Delegação de Paz das FARCs-EP e membro do Secretariado da organização guerrilheira comunista colombiana. A conversa foi realizada em 5 de maio de 2015. Na capital cubana, as FARCs-EP negociam com o governo colombiano o fim do conflito armado. A entrevista vai aparecer no número 149 de Sermos Galiza, a sair do prelo nesta quinta-feira. Publicamos aqui uma parte da conversa.

Carlos Morais: Nos últimos anos, vocês consideraram a possibilidade de negociar com o governo colombiano um processo de paz que, de todos os outros, se destaca como o mais sério e no qual mais tempo vocês investiram.

Iván Márquez: Nós, quando surgimos, surgimos sempre pensando na paz. Fazemos sucessivos esforços para chegar a uma solução política deste conflito desde 1964.

Acumulamos 30 anos de busca pela paz, levando-se em conta os diálogos que realizamos em Caracas, Venezuela; em Tlaxcala, México; em San Vicente del Caguán, Colômbia, e, agora, este esforço que estamos realizando em Havana, Cuba. Esse processo já conquistou no papel alguns acordos que consideramos importantes para nos aproximar do objetivo que seria o acordo final.

CM: Qual é o balanço atual, quando foi concluída a rodada 35 das negociações?

IM: Conquistamos três acordos parciais: o primeiro, sobre a questão das terras. Parcial porque ainda apresenta dissensos, ora congelado para ser retomado mais adiante. O segundo acordo parcial refere-se ao aprofundamento da democracia, denominado participação política. E o terceiro assunto está vinculado à solução do problema das drogas de uso ilícito. 

Hoje estamos falando de vítimas e estamos avançando nessa temática após ouvir representantes das vítimas. Estamos analisando um assunto crucial – o fim do conflito –, ponto três da agenda, criando uma comissão técnica que busca identificar e aproximar entendimentos sobre temas fundamentais, como o cessar fogo bilateral e o abandono das armas. Fica pendente um ponto, o sexto, que é o referendo dos acordos, a implantação e a verificação.

CM: Um dos pontos mais conflitantes é o cessar fogo unilateral.

IM: É lamentável que continuemos a nos matar no meio de uma negociação de paz. Desde que chegamos a Havana, a nossa primeira proposta ao governo foi pactuar de imediato um cessar fogo bilateral que, em primeiro lugar, evite mais vítimas. Em segundo lugar, que construa na mesa de conversações um ambiente favorável para se poder avançar.

Em uma trégua, o que se busca é humanizar um conflito, construir um ambiente, uma atmosfera favorável para avançar na construção dos acordos. (Com o Site do PCB)

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