Grécia: Declaração de Delphi
"Ao negar ao povo grego qualquer saída pacífica e democrática da sua tragédia social e nacional, eles empurram a Grécia para o caos, se não para a guerra civil"
Peter Koenig
No fim-de-semana de 20 e 21 de Junho de 2015 reuniu-se em Delphi, Grécia, um fórum internacional de académicos, cientistas, sociólogos, analistas políticos a fim de discutir a Grécia e a Europa. Os organizadores da chamada "Iniciativa Delphi", patrocinada pela Lysarrides Foundation e Chipre, foram o Instituto Grego para Investigação sobre Estratégias Políticas, o Instituto para a Globalização e Movimentos Sociais; russo e o Fórum Mundial das Alternativas, francês.
O fórum concluiu com uma Conferência de Imprensa na segunda-feira 22 de Junho, https://youtu.be/AEALxsSWRC4 , e com a emissão da Declaração de Delphi – ver abaixo. O mundo deve perceber que a chamada troika – FMI, BCE e Comissão Europeia, está literalmente a chantagear a Grécia e a sujeitá-la à tortura económica absoluta.
Durante os últimos dias, o sr. Tsipras, primeiro-ministro da Grécia, fez consideráveis concessões aos credores em Bruxelas e em Washington – mas nenhuma foi suficiente. Ao invés, eles, a notória troika, apresentou à Grécia um pacote de austeridade que é simplesmente inaceitável para o governo – e para o povo.
As pensões já foram cortadas em cerca de 50%, até um nível abaixo do mínimo vital, especialmente para os pobres – a troika exige mais cortes. Agora a maior parte dos serviços e activos públicos já foi privatizada, hospitais e escolas encerrados – eles querem mais. A administração pública já foi reduzida a um mínimo, provocando enorme desemprego – eles querem mais. Eles também querem impostos adicionais os quais mais uma vez afectarão os pobres.
Em suma, eles querem provocar um levantamento político na Grécia, criando o caos – o que a gang de Bruxelas / Washington sabe fazer melhor e é famosa por isso – e, como de costume, o objectivo final é "Mudança de Regime". Como ousa o povo grego votar por um governo socialista numa Europa plenamente neoliberal, no mundo ocidental? Eles devem ser punidos.
Mas a Mudança de Regime não acontecerá. Acabei de publicar um artigo – Grécia, a saída – que apresenta outras soluções, soluções que lhe permitirão recuperar sua orientação e sua recuperação económica.
DECLARAÇÃO DE DELPHI
Sobre a Grécia e a Europa
Governos europeus, instituições europeias e o FMI, actuando em estreita aliança, se não sob controle directo de grandes bancos internacionais e outras instituições financeiras, estão agora a exercer o máximo de pressão, incluindo ameaças abertas, chantagem e uma campanha de difamação e terror contra o recém eleito governo grego e contra o povo grego.
Eles estão a pedir ao governo eleito da Grécia para continuar o programa de "salvamento" ("bail-out") e as supostas "reformas" impostas sobre este país em Maio de 2010, em teoria para "ajudá-lo" e "salvá-lo".
Em consequência deste programa, a Grécia experimentou de longe a maior catástrofe económica, social e política na história da Europa Ocidental desde 1945. Ela perdeu 27% do seu PIB, mais do que as perdas materiais da França e da Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial.
Os padrões de vida caíram drasticamente. O sistema de bem-estar social foi quase destruído. Os gregos viram anulados direitos sociais conquistados ao longo de um século de lutas. Todos os estratos sociais estão completamente destruídos, cada vez mais gregos estão a precipitar-se do alto dos seus terraços para acabar com uma vida de miséria e desespero, toda pessoa talentosa que pode abandona o país.
A democracia, sob o domínio de uma "Troika" a actuar como assassino económico colectivo, uma espécie de "Tribunal" de Kafka, foi transformada numa mera formalidade no próprio país onde nasceu! Os gregos estão a experimentar agora o mesmo sentimento de insegurança acerca de todas as condições básicas vitais que os franceses experimentaram em 1940, os alemães em 1945, os soviéticos em 1991. Ao mesmo tempo, os dois problemas que se suponha que este programa tratasse, a dívida soberana grega e a competitividade da economia grega, deterioram-se drasticamente.
Agora, instituições e governos europeus estão a recusar mesmo as mais razoáveis, elementares e menores das concessões ao governo de Atenas, eles recusam mesmo a mais ligeira fórmula para salvar aparências que possa haver. Eles querem uma rendição total do SYRIZA, querem a sua humilhação, sua destruição.
Ao negar ao povo grego qualquer saída pacífica e democrática da sua tragédia social e nacional, eles empurram a Grécia para o caos, se não para a guerra civil. Na verdade, mesmo agora, uma guerra civil social não declarada de "baixa intensidade" está a ser travada dentro deste país, especialmente contra os desprotegidos, os doentes, os jovens e os muito velhos, os mais fracos e infelizes. Será isto a Europa que queremos em que nossos filhos vivam?
Queremos manifestar nossa solidariedade total incondicional com a luta do povo grego pela sua dignidade, pela sua salvação nacional e social, pela sua libertação do inaceitável domínio neocolonial que a "Troika" está a tentar impor sobre este país europeu.
Denunciamos os ilegais e inaceitáveis acordos que sucessivos governos gregos foram obrigados, sob ameaça e chantagem, a assinar, em violação de todos os tratados europeus, da Carta da ONU e da Constituição grega.
Conclamamos governos e instituições europeias a travarem de imediato sua política irresponsável e/ou criminosa em relação à Grécia e a adoptar um generoso programa de emergência para apoio à reparação da situação económica grega e para enfrentar o desastre humanitário já a desenrolar-se neste país.
Apelamos a todos os povos europeus a perceberem que o que está em causa na Grécia não são apenas salários e pensões gregas, escolas e hospitais gregos ou mesmo o destino desta nação histórica onde a própria nasceu a própria noção de "Europa". O que está em causa na Grécia são também salários e pensões espanhóis, italianos e mesmo alemães, o bem-estar, o próprio destino do bem-estar europeu, da democracia europeia, da Europa como tal.
Parecem de acreditar nos vossos media, o quais contam-lhe factos só para distorcer o seu significado, verifiquem independentemente o que os vossos políticos e os vosso media estão a dizer. Eles tentam criar, e criaram, uma ilusão de estabilidade. Quem vive em Lisboa ou em Paris, em Frankfurt ou Estocolmo, pode pensar que vive em relativa segurança.
Não mantenha tais ilusões. Deveria olhar para a Grécia para ver ali o futuro que as vossas elites estão a preparar-lhe, para todos nós e para nossos filhos. É muito mais fácil e inteligente travá-los agora e não mais tarde. Não só os gregos mas todos nós e os nosso filhos pagarão um preço enorme se permitirmos que os nossos governos completem a carnificina social de toda uma nação europeia.
Apelamos em particular ao povo alemão. Não pertencemos àqueles que estão sempre a recordar os alemães do passado a fim de mantê-los numa posição "inferior", de segunda classe, ou a fim de utilizar o "factor culpa" para seus dúbios fins.
Apreciamos as qualificações organizações e tecnológicas do povo alemão, suas demonstradas sensibilidades democrática e especialmente ecológica e pacífica. Queremos e precisamos que o povo alemão seja o principal campeão na construção de uma outra Europa, de uma Europa próspera, independente e democrática, num mundo multipolar.
Os alemães sabem melhor do que qualquer outro povo na Europa para onde a obediência cega a líderes irresponsáveis pode levar e na verdade levou, no passado. Não cabe a nós ensinar-lhe tal lição. Eles sabem melhor do que ninguém quão fácil é começar uma campanha com retórica triunfalista, só para terminar em meio a ruínas.
Não os convidamos a seguirem nossa opinião. Pedimos simplesmente que pensem a fundo na opinião de líderes notáveis como Helmut Schmitt por exemplo, pedimos que ouçam a voz do maior dos poetas alemães modernos, Günter Grass, a terrível profecia que emitiu acerca da Grécia e da Europa alguns anos antes de morrer.
Apelamos a si, povo alemão, para travar uma tal aliança faustina entre as elites políticas alemãs e a finança internacional. Apelamos ao povo alemão para não permitir que o seu governo continue a fazer aos gregos exactamente os que os aliados fizeram aos alemães após a sua vitória na Primeira Guerra Mundial. Não deixem suas elites e líderes transformarem todo o continente, em última análise incluindo a Alemanha, num domínio da Finança.
Mais do que nunca temos necessidade urgente de uma reestruturação radical da dívida europeia, de medidas sérias para controlar as actividades do sector financeiro, de um "Plano Marshal" para a periferia europeia, de um corajoso repensamento e relançamento de um projecto europeu o qual, na sua forma actual, demonstrou-se insustentável. Precisamos encontrar agora a coragem para fazer isto, se quisermos deixar uma melhor Europa aos nossos filhos, não uma Europa em ruínas, em contínuos conflitos financeiros e mesmo abertamente militares entre suas nações.
Delphi, 21 de Junho de 2015
A declaração acima foi aprovada por quase todos os participantes na conferência de Delphi sobre a crise, sobre alternativas ao euroliberalismo e sobre as relações UE/Rússia, efectuada em Delphi, Grécia, em 20-21 de Junho. Ela também apoiada por algumas pessoas que não puderam estar presentes. A lista de pessoas que a assinaram segue-se abaixo. Nela há não só cidadãos de países da UE, mas também da Suíça, EUA, Rússia e Índia.
Muitos notáveis académicos americanos parecem mais sensíveis quanto à crise europeia, do que ... os próprios líderes políticos da UE! Quanto aos russos, é apenas normal e natural que sigam com grande interesse o que está a ocorrer na UE, pois cidadãos da UE também seguem com interesse o que está a ocorrer na Rússia.
Todos os participantes na conferência de Delphi partilham a forte convicção de que a Rússia é uma parte integral da Europa, que há uma forte interconexão entre o que acontece na UE e na Rússia. Eles opõem-se categoricamente à histeria anti-russa, a qual é de facto nada menos do que a preparação de uma nova, ainda mais perigosa, guerra fria – se não guerra quente.
Altvater Elmar, Germany, Member of scientific community of ATTAC. Retired Professor of Political Science, Free University of Berlin.
Amin Samir, Egypt/France, Economist, President of the Forum Mondial des Alternatives
Ayala Iván H., Spain, Researcher, Instituto Complutense de Estudios Internacionales
Arsenis Gerasimos, Greece, Åconomist, ex-minister of Economy, of Finance, of National Defense and of Education, ex-UN official and ex-director of UNCTAD
Artini Massimo, Italy, Member of Parliament
Bellantis Dimitris, Greece, Lawyer, PHD in Constitutional Law, Member of the Central Committee of SYRIZA
Black William, USA, Professor of Economics, University of Missouri (Kansas City)
Cassen Bernard, France, Professor Emeritus, Université Paris 8, secretary general of ”Mémoire des luttes”
Chiesa Giulietto, Italy, Politician, journalist and author, ex MEP, president of the "Alternativa" association
Freeman Alan, Canada/UK, Geopolitical Economy Research Group , Business School , Director
Gabriel Leo, Austria, Director of the Institute for Intercultural Research and Cooperation (IIIC), Vienna, Member of the International Council of the World Social Forum, Coordinator of the NGO Committee for Sustainable Development of the United Nations
George Susan, France, Political and social scientist, writer, President of the Transnational Institute
Georgopoulos Dimosthenis, Greece, Economist, sociologist, political scientist, Secretariat on Industrial Policy, SYRIZA
German Lindsey, UK, Convenor, Stop the War Coalition
Graeber David, UÊ, Professor of Anthropology, London School of Economics. Author of "Debt: The First 5,000 Years"
Hudson Michael, USA, Professor of economics, University of Missouri (Kansas City), UMKC. President, Institute for the Study of Long-term Economic Trends (ISLET)
Irazabalbeitia Inaki, Spain. Former MEP / responsible for International Relationships for the party ARALAR, Basque Country
Jennar Raoul Marc, France, Dr. in political sciences, specialist on European law and on WTO regulations, writer of twenty books, among them "Europe, la trahison des élites"
Kagarlitsky Boris, Russia, Director of the Institute for globalization studies and social movements (IGSO)
Kalloniatis Costas , Greece, Phd on macroeconomics, adviser to the Ministry of Labour, researcher in the Labor Institute of the General Confederation of Workers of Greece
Kasimatis Giorgos, Greece, Prof. Emeritus of Constitutional Law, University of Athens. Founder and Honorary President of the International Association of Constitutional Law, ex-advisor to PM Andreas Papandreou.
Koenig Peter, Switzerland, Åconomist / geopolitical analyst
Koltashov Vasiliy, Russia, Head of the economic research unit of the Institute for Globalisation and Social Movements
Konstantakopoulos Dimitris, Greece, Journalist, Writer, Coordinator of the Delphi Initiative
Koutsou Nikos, Cyprus, Member of Parliament from Famagusta
Kreisel Wilfried, Germany, Former Executive Director, World Health Organization
Mavros Giannis, Greece, Member of the National Council for the Claiming of Germany's Debts to Greece
Mityaev Dmitry A. , Russia, Deputy Chairman of the Council for Study of Productive Forces of the Ministry of Economic Development and the Russian Academy of Sciences on Development Issues
Ochkina Anna, Russia, Head of Department of social theory at Penza State University
Pantelides Panagiotis, Greece, Economist, senior researcher, European Institute of Cyprus
Petras James, USA, Bartle Professor Emeritus , Binghamton University
Ex-Director of the Center for Mediterranean Studies (Athens), ex-adviser to the Landless Rural Workers Movement of Brasil and the Unemployed Workers Movement in Argentina
Pinasco Luca, Italy, National coordinator of Proudhon Circles-Editor for foreign policy of the journal "L'intellettuale dissidente".
Radika Desai , USA, Professor, Director of the Geopolitical Economy Research Group , University of Manitoba
Rees John, UK, Co-founder, Stop the War Coalition
Roberts Paul Craig, USA, Former Assistant Secretary of the US Treasury for Economic Policy, Associate Editor, Wall Street Journal, Senior Research Fellow, Stanford University, William E. Simon Chair in Political Economy, Center for Strategic and International Studies, Georgetown University, Washington, D.C.
Sideratos Aggelos, Greece, Publisher
Sommers Jeffrey , USA, Senior Fellow, Institute of World Affairs, Professor, University of Wisconsin-Milwaukee
St Clair Jeffrey , USA, Editor, CounterPunch, author, Born Under a Bad Sky
Stierle Steffen, Germany, Åconomist, ATTAC Germany
Syomin Konstantin, Russia, Author, TV host at All-Russia State Television ( VGTRK.com )
Tombazos Stavros , Greece, Professor of Political Economy, University of Cyprus, member of the international "Committee of Truth on Greek Sovereign Debt" (debt auditing committee) created by the Greek parliament
Vanaik Achin, India, Retired Professor of International Relations and Global Politics, University of Delhi
Xydakis Nikos, Greece, Minister of Culture
Zachariev Zachari, Bulgaria, President of the Slaviani Foundation
Zdanoka Tatjana, Latvia, Member of European Parliament
27/Junho/2015
O original encontra-se em www.globalresearch.ca/greece-the-delphi-declaration/5458742
Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .
Comentários