ABSENTEÍSMO & TÉDIO
O ‘jornalismo de feriado’ veio para ficar
Alberto Dines na edição 778
Entre as formidáveis criações da Folha de S.Paulo, a “edição de feriado” começou como desculpa envergonhada e foi tão bem aceita pelo leitorado que acabou por converter-se num modelo de negócio e paradigma jornalístico para o resto da mídia.
A ideia é genial: o público paga pelo produto inteiro, mas só recebe parte dele. E ninguém chia, acha perfeitamente natural ser lesado. Os primeiros testes nas edições de domingo ao longo de anos não produziram reações significativas.
O leitor foi se acostumando a receber no dia mais nobre da semana (quando dispõe de tempo e disposição para a leitura) uma edição sem atualidade e, portanto, com menor qualidade embora recheada de publicidade. O jornal ganha duas vezes: cobra mais na edição dominical e oferece menos conteúdo.
Semana breve
A experiência foi replicada nos feriadões, fins de semana prolongados e logo nos recessos de fim de ano e de carnaval. Suprimem-se cadernos, páginas, colunas, atrações e o leitor (ouvinte e telespectador) até agradece pelo logro – sente-se menos culpado por deixar de saber coisas que, de outra forma, exigiriam sua intervenção.
Coisas do Brasil: o verdadeiro “custo Brasil” está neste absenteísmo federal, monumental desapego à assiduidade que uma imprensa enfadada, desmotivada, longe de corrigir e compensar, só exacerba.
Compare-se este jornalismo de lapsos, esburacado, com a opção esmerada adotada há anos pelo The Economist na quinzena festiva do fim do ano: a revista oferece prazerosa opção – uma edição dupla, substanciosa, primorosamente concebida e escrita. Um bônus que o leitor lê com mais interesse e prazer do que as duas edições normais que substitui.
Nossa indústria jornalística até hoje não conseguiu adaptar-se ao princípio da qualidade contínua, prefere a intermitência, a gangorra dos plantões. Nos fins de semana, âncoras televisivos e radiofônicos vão descansar e as atrações mais densas e qualificadas vão para o estaleiro. Isso explica os estouros e sacolejos – nem sempre justificados – para recuperar as atenções. Explica também a brevidade da nossa semana jornalística: começa terça e vai até sexta.
Ninguém é de ferro.
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