Marina, morena Marina, o que você fez?
Rudá Ricci (*)
Marina caiu. Nada desesperador. Pode até recuperar. Mas o furacão Marina, a sensação desta eleição (eu mesmo a denominei assim por diversas vezes), perdeu gás. E perdeu precocemente. O que teria feito de errado?
Minha principal hipótese é: não leu as pesquisas de intenção de votos.
O que fez Marina crescer, de início, foram os indecisos. Na primeira pesquisa Datafolha, poucos dias depois de oficializada candidata a presidente da República pelo PSB, Marina já figurava em segundo lugar, com 21% da intenção de voto. Não havia tirado nada de Dilma ou Aécio. De onde, então, vieram seus votos?
Em especial, dos que votariam no Pastor Everaldo (a candidata furacão havia assimilado 2/3 do total de votos do líder evangélico) e metade dos indecisos, dos que diziam que anulariam seu voto e que votariam em branco. Marina tem seus pés fincados nesta terra dos frustrados, dos ressentidos, dos incrédulos com a política oficial brasileira.
Ela até entendeu o recado das pesquisas. Logo se auto intitulou candidata da nova política contra a velha. E o eleitorado que havia conquistado gostou do que ouviu. Marina era tão inovadora quanto foi Lula, mesmo tendo sido candidato em 1989, 1994 e 1998. Havia o frescor de quem era barrada no baile desde pequena.
Mas aí, veio o segundo salto de crescimento nos índices de intenção de votos. Marina ultrapassava a marca dos 25% e começava a encostar em Dilma Rousseff. Nesta segunda onda de crescimento, a maioria dos votos conquistados era de evangélicos. Alguns institutos de pesquisa desagregaram os dados por religião. Na última semana de agosto, Marina saltou de 37% de intenção de votos dos eleitores evangélicos para 43%, segundo o Ibope. Mas, daí, caiu para 41% no final da primeira quinzena de setembro.
Marina, neste intervalo, focou no eleitorado evangélico, imaginando que garantiria a onda de crescimento a partir deste segmento. Cedeu à pressão – possivelmente ensaiada – do Pastor Malafaia em relação à parte de seu programa dedicada aos direitos LGBT e, assim, acenou ao eleitorado religioso. Acabou perdendo consistência. Marina não percebeu que a base de seu eleitorado é mais difusa, difícil de ser estratificado por sexo, renda ou credo.
São cidadãos desencantados com a política formal tupiniquim. Parte saiu às ruas em junho ou vibrou silenciosamente em sua residência. Parte dizia que não votaria ou anularia seu voto. Trinta por cento dos eleitores de Aécio, até o anúncio da candidatura de Marina à Presidência, não tinham segurança no voto no senador mineiro. Queriam votar na oposição, mas não sabiam se este era o candidato ideal. Com Marina, metade desses eleitores pouco fidelizados ao candidato tucano migraram para a líder da Rede.
Mas Marina não leu os dados. Preferiu dar um looping ou acelerar o jogo. Pegou um atalho e não chegou ao lugar desejado.
Ao contrário, pressionada pelo PSB e financiadores de campanha, ao mesmo tempo que correu atrás dos evangélicos, começou a se identificar com setores do empresariado que pareciam distante de sua história e convicções: acenos para banqueiros e empresários do agronegócio. A grande imprensa adorou. Mas o eleitorado original de Marina – aquele que já estava próximo dela em 2010 – estranhou. Marina começou a se parecer com a velha política.
Agora, imagine você, desiludido com tudo o que via na política brasileira achar alguém que parecia diferente. O que sentiria ao perceber que os movimentos desta novidade se aproximavam do velho jeito de fazer política?
Pois é. Foi isto que Marina, morena Marina, fez.
(*) Rudá Ricci é cientista social. (Com De Esquerda em Esquerda/Diário Liberdade)
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