Sábado resistente homenageia três militantes políticos


                                                   
A mesa composta por René de Carvalho, Raphael Martinelli, Elza Lobo e Igor Grabois

Maria Carolina Bissoto (*)
           
            No último sábado (22/09), realizou-se no Memorial da Resistência, prédio do antigo DOPS de São Paulo, mais um Sábado Resistente. A atividade organizada pelo Núcleo de Preservação da Memória Política em parceria com o Memorial da Resistência, homenageou três militantes políticos que se estivessem vivos completariam cem anos neste ano: Apolônio de Carvalho, Rolando Frati e Maurício Grabois.


          A mesa, coordenada pela ex-presa política Elza Lobo, integrante do Núcleo de Preservação da Memória Política, contou com a participação de René Louis de Carvalho, filho de Apolônio; Raphael Martinelli, amigo pessoal de Rolando Frati e Igor Grabois, neto de Maurício Grabois.

         René de Carvalho disse que Apolônio era um internacionalista, formado na prática já que participou da Guerra da Espanha com milhares de outras pessoas do mundo; que sempre se preocupava com a educação, a formação das pessoas. Acredita que seu pai foi mal aproveitado pelo Partido Comunista (PCB), pois cumpria mais funções burocráticas. Falou também que tanto a História quanto a memória social são construções políticas, e, portanto, o que se fala e o que se cala é decidido politicamente. Disse ainda que militantes como Apolônio, Frati e Maurício Grabois tinham um objetivo comum que era lutar por um mundo melhor, fazendo parte de uma mesma geração.

            Foi exibido um depoimento de Rui Frati , filho de Rolando Frati, diretor do Teatro do Oprimido em Paris, sobre a convivência com seu pai e sobre o centenário dos militantes, que apesar de não ser físico – visto que os três militantes já são falecidos – é político, pois o exemplo por eles deixado perseverou.

         Raphael Martinelli disse que Rolando Frati foi um quadro político importante do Partido Comunista e que não foi aproveitado adequadamente visto as suas críticas a algumas posições que o partido adotou. Destacou também a importância da formação dos quadros partidários para a militância política, pois Frati tinha participado de cursos de formação que eram realizados pelo Partido. Disse que Frati foi um importante militante que sempre preocupou-se com a formação das pessoas, que sempre foi um operário e lutou pelos operários.
           
          Igor Grabois disse que tanto Apolônio, quanto Frati e Grabois foram resistentes de duas ditaduras: do Estado Novo (1937- 1945) e da ditadura civil-militar (1964-1985). E que ele se questiona sobre o porquê da não-resolução da situação dos desaparecidos políticos e das próprias questões causadas pela ditadura após tantos anos de seu término. 

                Ele se pergunta porque não se cumpre a sentença da 1ª Vara Federal de Brasília (sentença da juíza Solange Salgado de 2005 que determinou a abertura dos arquivos referentes a Guerrilha do Araguaia em 120 dias), porque não se cumpre a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que condenou o Brasil sobre a Guerrilha.

           Para ele a resposta é que as duas ditaduras brasileiras se confundem com o projeto das classes dominantes no Brasil e que lembrar da ditadura atinge toda a herança que essas elites construíram, para ele a forma de governar e de oprimir está entranhada na elite brasileira e é por esse motivo que o problema dos desaparecidos não se resolve.
            A importância de um evento como este é demonstrar que militantes como os três homenageados faziam parte de uma mesma geração, uma geração que lutava por um ideal, por mudanças sociais, por uma vida mais digna para todos e que foram resistentes em toda a sua vida.

     (*)Maria Carolina Bissoto é advogada, Especialista em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, integrante do Núcleo de Preservação da Memória Política.


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