Aliança bem estranha: Grécia e Israel
Grécia - Esquerda Diário - [Josefina L. Martínez]
O governo de Syriza-ANEL assinou novos acordos de cooperação com o exército de Israel, quando se cumpre um ano dos massacres de Israel em Gaza. A permanência da Grécia na OTAN e sua política externa constitui outra capitulação do Syriza.
No dia seguinto do referendo de 5 de julo, o Ministro de Assuntos Exteriores nomeado pelo Syriza, Nikos Kotzias (foto), se encontrava em Israel. Em sua reunião com Netanyahu, o ministro grego reafirmou a continuidade da aliança privilegiada entre os dois países.
“Vivemos em um triângulo de desestabilização: pela mão esquerda temos à Líbia, pela mão direita o Oriente Médio, Iraque e Síria; temos que criar um marco de estabilidade e segurança dentro deste triângulo,” disse Kotzias, depois de seu encontro com Netanyahu.
“A reunião entre Israel, Chipre e a Grécia é muito importante. Temos um interesse comum na estabilidade e na segurança. Temos outras diferenças em muitos outros problemas, mas nossa crença central é que temos um mesmo interesse: a segurança, a paz e a estabilidade dentro desse triângulo”.
Os ministros falaram sobre a possibilidade de criar um “corredor energético” entre Israel, Chipre e Grécia, com um gasoduto que conete os três países, outra porta aos mercados europeus para Israel.
Há apenas alguns dias, a 19 de julo, foi a vez do Ministro de Defesa grego, Panos Kammenos, do partido nacionalista ANEL, que esteve de visita oficial em Israel. Kammenos disse então que o “povo grego está muito próximo do povo de Israel”.
De acordo com o site em inglês do Ministério de Defesa da Grécia, durante a reunião de ministros debateram sobre questões de segurança marítima, recursos energéticos, cooperação na área da indústria militar e transferência de energia. Também trataram outros assuntos de “interesse comum” como as questões de segurança no Oriente Médio e no Norte da África.
Os ministros assinaram ademais um acordo regulamentando a situação do pessoal militar que viaje ou resida em outro país enquanto participam de exercícios militares ou de cooperação.
Um acordo de alta prioridade militar e de cooperação com o exército de ocupação de Israel, assinado pelo governo Syriza-ANEL quando se cumpre um ano dos massacres de Israel em Gaza, onde morreram mais de 2300 palestinos, entre eles centenas de mulheres e crianças.
A permanência da Grécia na OTAN
Tessalônica, Larissa, Preveza, SoudaBay. São localidades gregas? Sim, mas ademais são os lugares onde se situam quatro bases da OTAN nesse país.
A localização da Grécia, às portas do Oriente Médio e do Norte da África, a converte numa praça estratégica para a OTAN, coalizão militar imperialista à qual pertence desde 1952.
Estes são os elementos geopolíticos de grande importância que explicam , junto às variáveis econômicas, as pressões norteamericanas para evitar um Grexit. Em um momento marcado pelos conflitos na Síria e na Líbia, a emergência dos Estado Islâmico e as tensões crescentes com a Rússia, qualquer mudança nos débeis equilíbrios geopolíticos poderia aprofundar a crise.
Durante os dias em que Tsipras negociava com o Eurogrupo o novo programa de reformas, desde a UE se sugeriu um maior corte dos gastos militares, o terceiro mais alto da OTAN em relação ao PIB, depois dos Estados Unidos e do Reino Unido.
O que se opôs a isso foi ninguém menos que o secretario geral da OTAN, Jens Stoltenberg, que disse que “os gastos em defesa não são a causa dos problemas da Grécia, os problemas são mais complicados que o fato de que a Grécia tenha aceitado manter seus compromissos” de financiamento da OTAN. Stoltenberg destacou também o papel da Grécia para a OTAN no sul da Europa.
Quando o Syriza formou governo com o partido Gregos Independentes (ANEL), alguns na esquerda europeia quiseram minimizar esta decisão, sustentando que não teria maior transcendência.
Não obstante, essa aliança significou uma enorme vacilação do Syriza no terreno da política militar e de defesa. Colocava-se à frente do conservador exército grego “um dos seus”, um nacionalista patriota como Kammenos, que mostrou sempre um grande entusiasmo pelas forças armadas na Grécia.
A capitulação do Syriza diante da Troika não se limita à questão do novo resgate e às medidas de austeridade, mas que também se mostra em sua política externa, mantendo a subordinação político-militar do país às diretivas da OTAN.
A exigência da saída da Grécia da OTAN e o fechamento de suas bases militares na Grécia foi uma reivindicação histórica da esquerda e dos movimentos sociais na Grécia. Da mesma forma que o rechaço aos massacres do Estado de Israel e o pedido de ruptura de relações políticas e militares. Estas exigências hoje devem enfrentar diretamente à política do Syriza no governo.
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