Para evitar conflitos no campo, será preciso enfrentar os três grupos mais poderosos do Pará: a Vale, a Agropecuária Santa Bárbara e o grupo Quagliato
Brasil - MST - O conflito ocorrido no final da semana passada na fazenda Cedro, envolvendo famílias ligadas ao MST, onde 15 pessoas (entre elas uma criança de 2 anos) foram feridas à bala por "seguranças" do grupo Santa Bárbara, do Banqueiro Daniel Dantas, poderá se estender para outros acampamentos do movimento caso o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) não dê resposta positiva à pauta apresentada na sexta feira à Ouvidoria Agrária e Superintendência de Marabá.
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O MST possui 5 acampamentos nas regiões sul e sudeste do Pará (região norte do país), onde estão acampadas 1.300 famílias. Para solucionar os conflitos e assentar as famílias, o Incra precisa enfrentar os três grupos mais poderosos da região: a VALE, a Agropecuária Santa Bárbara e o grupo Quagliato.
Os acampamentos do MST em área de interesse da VALE e do grupo Quagliato poderão seguir o mesmo exemplo adotado em relação ao grupo Santa Bárbara no último final de semana. Essas famílias também aguardam o cumprimento de acordos não cumpridos entre o Incra e os referidos grupos econômicos para a liberação de fazendas para assentamentos rurais.
Nos últimos dois anos, o Movimento manteve as famílias acampadas e participou de mais de uma dezena de audiências na Vara Agrária e com a Ouvidoria Agrária Nacional, cumprindo com sua parte nos acordos. Durante todo esse tempo, o grupo do banqueiro Dantas vem, cada vez mais, expandindo suas propriedades na região a custa de desvio do dinheiro público contando com a conivência do Incra e da Justiça.
Além disso, foi o Grupo Oppotunity que não cumpriu com os acordos firmados e não compareceu na última reunião, mostrando descaso. Por isso, o MST não voltará atrás em relação aos imóveis do grupo Santa Bárbara e não se retirará mais da Fazenda Cedro.
O caso da Fazenda Cedro é um exemplo desse desmando. 90% da floresta da propriedade foi derrubada. O antigo castanhal existente ali foi totalmente destruído. Calcula-se que metade de seus 10 mil hectares sejam constituídos de terras públicas, mas, até agora, o Incra retomou apenas 900 hectares.
A fazenda foi embargada pelo Ministério Público Federal por crime ambiental, mas a Justiça, atendendo ao pedido do grupo do banqueiro, determinou o desembargo. Durante todo esse tempo e frente a tantas ilegalidades, o Incra sequer fez um estudo sobre a situação da área. Além disso, a Agropecuária Santa Bárbara tem várias ações e processos referentes à trabalho escravo, desmatamento, uso intensivo de agrotóxicos (com pulverização aérea), grilagem de terra e violência contra trabalhadores e trabalhadoras na região.
As famílias do MST que estão acampadas em áreas públicas griladas pelo grupo sentem intimidação e violência permanentemente. Nos últimos três anos, apenas na região sudeste, a escolta armada "Atalaia" - pistoleiros autorizados pelo Estado, travestidos de segurança -, já feriu à bala 38 trabalhadores rurais sem terra e assassinou um jovem trabalhador (Wagner).
Com frequência, rondam os acampamentos, atiram pela noite, ameaçam os trabalhadores quando estão plantando suas roças, sobrevoam constantemente os acampamentos intimidando e promovendo violência psicológica nas famílias que lutam pelo justo direito à terra. Nenhum "segurança" foi preso ou punido por esses crimes.Por essas e por outras razões é que não esperaremos mais e não daremos mais um passo atrás sobre a Fazenda Cedro e as demais fazendas onde as 1.300 famílias do MST terão que ser assentadas. Não aceitaremos despejos em nossas áreas, intimidações e prisões, bem como a criminalização das lideranças e do movimento. (Com o Diário Liberdade)
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