A REINVENÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA (1953-1964)
        
                                                   
                            

Murilo Leal, Ed. Unicamp


Com uma visão sensível sobre a luta de classes no Brasil, "A reinvenção da classe trabalhadora" apresenta de forma inovadora as conquistas do movimento operário, principalmente metalúrgico e têxtil, do ABC paulista. No livro, Murilo Leal busca interpretar o papel da classe trabalhadora enquanto sujeito político num contexto intenso de reestruturação industrial.
Da tradição teórico-metodológica inaugurada por E. Thompson, Leal percebe a cultura como dimensão constitutiva da realidade. Assim, ele dialoga com as “formas hegemônicas” segundo Raymond Williams, a “cultura da solidariedade” proposta por Rick Fantasia, a “ordem simbólica e sintomas” de Slavoj Žižek, a crítica ao populismo, entre outros debates correntes.
Ao aproximar-se do cotidiano operário, o autor humaniza a classe na perspectiva da “história vista de baixo”, engendrando relações de trabalho e sociais. Sua percepção heterogênea inclui mulheres e jovens nas articulações políticas, o movimento estudantil. Traz o universo popular nas representações do 1º de Maio, o samba e o futebol.
Na análise, enquanto jornais segmentários como O Metalúrgico e  buscavam denunciar o autoritarismo na medida do possível, o influente Última Hora, de Samuel Wainer, tanto recebeu Jean-Paul Sartre para entrevista como tentou suspender a “Greve da Fome” a pedido de Juscelino Kubitschek.A Seda
Ao delinear a “peleja” da auto-organização desde a “Primeira paralisação geral” (1953) à “Greve dos 700 mil” (1964), Leal compara resultados. Destaca-se a sindicância de Paul Singer na instituição do Dieese. A “nova arma operária nas lutas econômicas” envolveu 22 sindicatos e economistas independentes da Federação das Indústrias (Fiesp), que até então estipulava estatísticas, preços e custos de vida.
A leitura toca sobretudo na permanente questão periférica da capital-símbolo do progresso, onde paulistas, migrantes e imigrantes – ainda presentes nos bailes, bairros e discursos – podem identificar o memorável espírito de reinvenção trabalhista.

Marília Arantes
Jornalista, bacharel em História e Relações Internacionais pela PUC-SP e mestranda no Instituto de Relações Internacionais da USP.

Comentários