Lenin: uma vida dedicada à Revolução

                                                                         
                                                                        
                                                                      
                                                                                  

O PODER POPULAR Nº 26 (EDIÇÃO COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA NA RÚSSIA)

Lenin foi, sem sombra de dúvida, a maior figura histórica do século XX, por ter sido a principal liderança da Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, o acontecimento que abalou as estruturas da sociedade capitalista, ao inaugurar a primeira grande experiência socialista no mundo. Era o exemplo que faltava aos trabalhadores de todos os países, para animar as lutas contra a exploração capitalista e em favor da alternativa socialista.

Vladimir Ilitch Ulianov, codinome Lenin, nasceu em 1870, em Simbirsk, no coração da Rússia. Os pais de Lenin eram professores e tiveram seis filhos, dos quais os cinco que sobreviveram, criados em meio à feroz repressão da década de 1870 na Rússia dos czares, tornaram-se revolucionários quase que automaticamente. O irmão mais velho, Alexandre, foi um ativista radical que se envolveu na trama para assassinar o Rei Alexandre III e morreu executado aos 19 anos de idade. Lenin tinha posição formada contra os métodos terroristas: “Não, não é esse o caminho que devemos seguir”.

Formado em Direito e vivendo em São Petersburgo, uniu-se a um grupo de intelectuais marxistas e participou da criação do Partido Social-Democrata (antiga denominação dada aos partidos operários) na Rússia. Perseguido pelo regime, foi exilado na Sibéria, onde conheceu e casou-se com Nadezhda Krupskaia, professora e militante revolucionária, também condenada ao exílio. Em 1900, o casal partiu para a Suíça, onde arranjou meios para publicação de um jornal clandestino, o Iskra (“A Centelha”).

Em 1903, realizou-se, fora da Rússia, o congresso do POSDR, no qual ocorreu a divisão entre bolcheviques (“maioria”), defensores da luta revolucionária contra o capitalismo, e mencheviques (“minoria”), que entendiam ser possível chegar ao socialismo por meio de reformas no interior do sistema capitalista. Líder da facção bolchevique, Lenin voltou a São Petersburgo durante a revolução popular de 1905, momento em que surgem os Sovietes, organizações de luta formadas pelos operários, camponeses e soldados. Mas, derrotado o movimento, Lenin foi obrigado a se exilar novamente.

Durante este período, Lenin publicou Materialismo e Empiriocriticismo

(1909), livro que aborda questões de ordem filosófica, atacou o reformismo da II Internacional e se opôs à participação dos trabalhadores e camponeses na Grande Guerra iniciada em 1914. Escreveu Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, descrevendo as características da nova etapa de desenvolvimento do capitalismo, marcada pela formação dos monopólios, pelo papel destacado do capital financeiro e pela disputa acirrada entre os interesses das grandes potências, na busca por novos mercados, em meio ao processo de expansão mundial do capital.

1917: o ano revolucionário

Lenin retornou à Rússia em abril de 1917, após a Revolução de Fevereiro, quando grandes manifestações populares, desencadeadas a partir da greve das operárias tecelãs, derrubaram Nicolau II. A ditadura dos czares foi substituída por um governo provisório, formado pelos partidos burgueses, com apoio dos mencheviques e “socialistas revolucionários”, grupos reformistas que dominavam os sovietes. O governo manteve o país na Guerra Mundial, aprofundando a miséria e a fome do povo, ao preferir garantir os acordos com os imperialistas ingleses e franceses do que fazer valer a vontade popular.

Em 16 de abril (3 de abril no calendário gregoriano), Lenin chegou à Estação Finlândia, em São Petersburgo. Suas Teses de Abril

acabavam de sair do forno: nelas, defendia abertamente que os bolcheviques começassem a organizar a revolução socialista. A partir daí, enfrentou resistências dos que não acreditavam nesta possibilidade e liderou os bolcheviques na preparação para a nova etapa da revolução, deixando claro que o poder soviético deveria significar uma mudança radical no exercício de governo. Era preciso derrubar todo o velho aparato de Estado, substituindo-o por um aparelho verdadeiramente democrático, a ser controlado pela maioria organizada e armada do povo.

Entre maio e outubro, os bolcheviques assumiram a dianteira das lutas contra o governo burguês e as forças reacionárias, conquistando o apoio dos sovietes para a Revolução Socialista. Vitorioso, o movimento tirou a Rússia da guerra, decretou a reforma agrária, nacionalizou os bancos e as empresas estrangeiras. Em seguida, Lenin liderou o governo bolchevique no combate à guerra civil provocada pelas forças conservadoras, com apoio das potências imperialistas (Inglaterra, França, Estados Unidos e Japão), até 1921, vencida pelo proletariado russo. Comandou a NEP (Nova Política Econômica) para tirar o país das condições de extrema miséria em que se encontrava. Vários acidentes vasculares cerebrais o prejudicaram, levando-o à morte em 21 de janeiro de 1924.

A teoria a serviço da revolução

A biografia de Lenin está diretamente ligada à luta política contra o reformismo no interior do movimento socialista mundial. Em Que Fazer?, publicado em 1902, ele já havia apontado, de forma categórica, a opção pelo caminho revolucionário contra a colaboração de classe praticada pela socialdemocracia. E destacou a necessidade e uma organização revolucionária, o Partido Comunista, para “ir a todas as classes da população”, fazendo o papel de propagandista, agitador, educador e organizador da luta proletária, expondo a todos os trabalhadores e às camadas populares os objetivos gerais do programa socialista.

Outra obra essencial é O Estado e a Revolução, escrita em agosto e setembro de 1917, às vésperas da revolução bolchevique. Lenin sistematizou as ideias de Marx e Engels sobre o Estado capitalista e a ditadura do proletariado, buscando atualizar a sua aplicação na luta política em tempos de expansão capitalista e imperialista. A consolidação do capitalismo monopolista e do imperialismo representou um retrocesso nas práticas democráticas conquistadas em vários países, resultantes das intensas lutas operárias travadas ao longo do século XIX. Ao caracterizar o Estado como instrumento a serviço do grande capital, Lenin projetou a tendência, hoje cada vez mais evidente, da total incompatibilidade entre a ordem capitalista e a democracia.

A Internacional Comunista

Após a Revolução de Outubro de 1917, o movimento socialista internacional acreditou que a ruptura histórica com o capitalismo estava na ordem do dia e que uma nova onda revolucionária iria varrer o mundo. Com o objetivo de organizar a revolução mundial, em março de 1919, realizou-se, em Moscou, a convite dos bolcheviques, o Congresso de fundação da III Associação Internacional dos Trabalhadores, também chamada de Internacional Comunista (IC) ou Komintern, constituída por representantes de numerosos pequenos grupos revolucionários europeus, aqueles que em seus países haviam rompido com a social-democracia, dando início à formação dos partidos comunistas. Mas o contexto internacional era de refluxo do movimento operário e socialista e de derrota de lutas populares e tentativas revolucionárias na Alemanha, na Áustria, na França, na Hungria, na Itália.

No III Congresso da IC, realizado em 1921, com base em seu texto Esquerdismo, doença infantil do comunismo, Lenin passou a reconhecer que a onda revolucionária havia regredido, centralmente na Europa, daí a necessidade de um trabalho dos comunistas no interior dos sindicatos dominados por direções reacionárias, além da participação nas eleições instituídas pelo calendário político democrático-burguês, tendo em vista a conquista de cadeiras, pelo movimento operário, nos parlamentos dos países capitalistas. Era preciso “trabalhar obrigatoriamente onde está a massa”.

Lembrava Lenin que os bolcheviques necessitaram de quinze anos para se preparar como uma força política organizada para a conquista do poder na Rússia, afirmando que a vitória sobre a burguesia seria impossível sem uma “guerra prolongada, tenaz, desesperada, de vida ou de morte; uma guerra que exige tenacidade, disciplina, firmeza, inflexibilidade e unidade de vontade”. Por isso, não bastaria a ação isolada da vanguarda, nem um trabalho voltado apenas à agitação e à propaganda, pois somente através da própria experiência política das massas seria possível desenvolver táticas eficazes de mobilização popular no enfrentamento às classes dominantes.

Para os revolucionários e trabalhadores conscientes da necessidade de destruir a ordem capitalista e construir o socialismo, há a certeza de que o legado político de Lenin se mantém como um guia indispensável para a ação transformadora. As ideias de Lenin e a Revolução Russa de 1917 marcaram a ferro e fogo todo o século XX.

VIVA LENIN! VIVA A REVOLUÇÃO SOCIALISTA DE OUTUBRO!

(Com "O Poder Popular", Russia Beyond, Bohemia, internet, site do PCB e FDR)

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