Duducha está repercutindo



Nossa literatura floresceu no Batatal


Carlos Lúcio Gontijo


Há muitos anos, fazemos distribuição de nossos livros nas escolas da zona rural de Santo Antônio do Monte (Centro-Oeste de Minas Gerais), cidade onde passamos nossa infância e juventude, sob a égide da compreensão tanto da dificuldade de acesso a obras literárias quanto do escasso intercâmbio cultural experimentado pelas crianças e adolescentes que vivem nos distritos pertencentes ao município santo-antoniense – fenômeno que é comum a todas as áreas rurais Brasil afora.
Dessa forma, ao lançarmos o romance Jardim de corpos e a obra infantil Duducha e o CD de mortadela, não nos esquecemos de, mais uma vez, enviarmos alguns exemplares às escolas da zona rural, sob a certeza de estarmos contribuindo com o ensino e, ao mesmo tempo, materializando a nossa responsabilidade precípua de escritor e cidadão, que reside na busca da proximidade e interação com a sociedade de maneira mais explícita.
O lançamento de nossos livros ocorreu em meados deste ano de 2009 e já agora, em novembro, colhemos o fruto da distribuição de livros àquelas escolas rurais, por meio do recebimento de um e-mail com fotos de encenação de peça teatral espontânea e gentilmente montada com base em nosso Duducha e o CD de mortadela.
Nada mais compensador para qualquer escritor que ver um punhado de crianças mergulhadas, com semblante de alegria e satisfação, em seu texto, que é sempre elaborado sob a intenção de apoiar a sensibilização do ser humano, a conscientização, a formação e a conscientização das pessoas. Mais uma vez, fomos premiados com a lição de que quase sempre é dos pequenos, humildes e desprovidos do sentimento de segunda intenção que provêm os gestos mais sinceros.
A professora Nanci da Escola Municipal Rural do Batatal teve o zelo de ler o nosso enredo, levá-lo à sala de aula e, diante do interesse dos alunos, viabilizar a montagem de uma peça infantil de teatro. Não é fácil conseguir isto nas metrópoles, onde os responsáveis pela administração dos educandários optam pelo que lhes chega pronto e aprovado pela força da grande mídia, autores e editoras influentes.
Além do mais, a verdade insofismável é que o meio literário vive sob intenso fogaréu de vaidades alimentado por grupos (as famosas “igrejinhas”) incapazes de vislumbrar qualquer coisa fora do âmbito de seus próprios umbigos. Lembramo-nos do período em que exercemos cargo no departamento de revisão de empresa jornalística e o editor geral tinha por hábito “premiar” um dos articulistas da página de Opinião – intelectual de relativo renome e respeitado artista plástico –, do qual se dizia amigo, com uma ilustração que era normalmente inserida no ato de edição e diagramação, mas logo depois retirada, como uma espécie de punição, se o texto não estivesse de acordo com o desejado pelo gosto particular do tal editor.
Infelizmente, os que lideram movimentos culturais costumam agir exatamente daquela mesma forma do supracitado editor geral, alijando ou deixando de lado os que não rezam em sua cartilha. É por essas e outras que levamos a nossa literatura independente ao pé da letra: caminhamos quase sempre sozinhos ao encontro de gente simples e capaz de abrigar o horizonte de nossa palavra, iluminando-o com o brilho do sol que lhe habita o espírito. Muito obrigado aos professores e alunos da escola rural do Batatal, bem como a todos que direta ou indiretamente tornaram possível a encenação teatral de Duducha e o CD de mortadela, pela sublime e reconfortante claridade projetada sobre a nossa obra literária.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
http://www.carlosluciogontijo.jor.br/

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