RÁDIO PARA OS JOVENS



*Hermínio Prates

A inevitável atração exercida pela internet na meninada de hoje pode ajudar a criar uma geração com maior afinidade com o rádio. Rolam por aí vários projetos com o confessado propósito de seduzir crianças e adolescentes da chamada “era internet" para o imaginário radiofônico.
A tática é, no final da brincadeira, substituir as imagens da telinha pela sintonia do rádio, veículo que formou a geração dos vovôs e que, se bem usado, ainda tem muito a contribuir para a educação dos pequenos de mentes abertas e até dos graúdos de pensamentos estreitos.
Um dos projetos é da editora Ática, que escolheu a linguagem radiofônica para estimular a leitura. E para isso apela para um CD com a simulação de uma “rádio rock”.
O disco, destinado a professores para audição em sala de aula, traz a fictícia Rádio Galera, comandada por Dudu Rock (a voz é de Fábio Malavoglia, que já apresentou programa de poesia na USP FM).
Nós, puristas sonhadores, gostaríamos que a hipotética emissora tivesse sido batizada como “rádio samba” ou “rádio chorinho”, mas, infelizmente, os pequetitos colonizados pela massificação dificilmente se interessariam por um estilo musical que lhes ensinaram ser “ultrapassado”.
Mas, apesar da epidemia do rock, entre gírias e brincadeiras são apresentados conceitos de literatura, além de leitura de poesia e prosa e flashes de entrevistas com escritores (e Ignácio de Loyola Brandão merece destaque).
Em um colégio paulista já foi implantado um curso especial, batizado de A Era do Rádio, para que os alunos aprendam a história do veículo (que chegou ao Brasil nos anos 20) e sua importância para a comunicação de massa.
Os alunos ouvem – quem diria, hein? – as vozes de Carmen Miranda e Emilinha Borba, trechos de radionovelas e da vitória do Brasil na final da Copa de 1962 e a narração da chegada do homem à Lua, em 1969.
A meninada curiosa também será incentivada a montar um aparelho com sucata, além de receber as primeiras noções sobre as ondas de transmissão de som e brincar de criar e apresentar programas. A idéia é que as crianças insiram o rádio numa linha do tempo da comunicação, das cavernas à internet. E não é preciso nenhuma tese para se demonstrar que esse desafio é muito mais gratificante do que deixar o pirralho estático diante de um computador na caça aos endereços eletrônicos que divulgam frivolidades sobre os mamulengos criados pela mídia.
Projeto mais amplo, bancado pela Prefeitura de São Paulo (o investimento é gordo, coisa de R$ 6 milhões), tem como objetivo usar estações internas de rádio como instrumento de apoio pedagógico. Ele foi tema de debate na 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, realizada no Rio.
Durante o encontro, 150 representantes ( 12 a 18 anos) de vários países mostraram várias experiências com veículos de comunicação. Os brasileirinhos fizeram bonito e trocaram experiências com jovens da Venezuela e da Inglaterra, países que têm dado mais apoio a esse tipo de trabalho.
Os pessimistas podem até dizer que isso não vai dar em nada e que não irá além do blá blá blá habitual. Mas que diabo, é muito melhor ver os jovens discutindo o futuro do rádio do que se espremendo nos estádios durante um repetitivo show de rock.
Ou não?
*Jornalista
herminioprates@ig.com.br

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