O país do é proibido proibir

            Andamos preocupados com o avanço da hipocrisia e desfaçatez no convívio social, onde há enorme disposição para o enaltecimento e explícita ligação perigosa com bandidos de toda a espécie, percorrendo de corruptos e traficantes a pedófilos.

         Notamos estarrecidos que os facínoras são festejados e apenas deixados de lado quando caem em desgraça diante de alguma denúncia exposta na mídia ou por efetiva operação casual da polícia e da justiça sempre tardias e distantes da população cada vez mais insegura e à mercê da bandidagem.
          Quanto mais o tempo passa maior é o abismo entre a mídia e o povo, uma vez que o chamado quarto poder, a imprensa, se transformou em representante de si mesmo, atuando como se fosse um partido político na defesa de seus interesses expressamente particulares.
          Todo perseguidor raivoso e obcecado (que permanece anos a fio no encalço daquilo a que vê como fera inimiga) termina por adquirir face idêntica à apresentada pela figura do suposto monstro ao qual dizia combater.  Muitas vezes é exatamente isso que costuma ocorrer nas trocas de poder, tornando o novo parecidíssimo com o velho e, portanto, farinha do mesmo saco.
          Temos hoje uma mídia brasileira mergulhada em parcialidade empedernida, que entre dois lados divulga apenas o ângulo que vai ao encontro de suas metas e planos. Há uma inconfessável ideia, no âmbito dos meios de comunicação, ditando que o povo não sabe o que quer e, por isso, é preciso decidir por ele. Ou seja, que se dane a democracia, ainda mais que ela é derivada do voto livre, sobre o qual não se tem como manter absoluto controle.
         É dentro desse ambiente hostil ao florescimento da verdade como produto da prática jornalística, com o noticiário final favorecendo a escolhas e desejos editoriais, que assistimos a fatos deprimentes, como o vazamento de que a orientação na TV Globo era para desqualificar a todo custo o novo ministro da Defesa, Celso Amorim, numa atitude que não é própria nem recomendável ao exercício do bom jornalismo.
          Todavia, não contente e em ato contínuo, a mesma emissora de televisão, em edição do Jornal Nacional, no último dia 9 de agosto, certamente levada pela cegueira da obsessão, fio condutor da denúncia apressada e sem a devida checagem, divulgou uma falsa e inverídica prisão de Clarice Coppetti, ex-diretora da Caixa, durante investigação da Polícia Federal em torno de irregularidades no Ministério do Turismo.
          Em qualquer país do mundo tais ocorrências seriam tratadas com o merecido rigor, mas aqui a impunidade, filha bastarda do dístico revolucionário alicerçado na balbúrdia anarquista do é proibido proibir, aparece-nos como fenômeno abundante e dela todos se servem, inclusive os meios de comunicação.
          Carlos Lúcio Gontijo
          Poeta, escritor e jornalista
          www.carlosluciogontijo.jor.br

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