Batatas fritas em excesso (ou o "Fiat Elba" de Bolsonaro)

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Por Anita ComumTsó

Meu velho tio me contava muita coisa de seu tempo de militância política. No século que se foi, naturalmente.

Para se levar umas duzentas pessoas às passeatas das panelas vazias e às concentrações na praça da Rodoviária, por exemplo, eram precisos vários sábados e domingos de subidas aos morros, com alto-falantes nas costas, para pequenos comícios, convocando favelados a participar.

E sempre com um ou dois policiais do ex-DOPS, já bem manjados, observando...Um deles era conhecidíssimo também de "trabalhos" em assembleias sindicais e figura bem destacada às portas dos cafés "Pérola" e "Nice" na Praça Sete.

No dia, militantes políticos saíam cedo de casa, se uniam a estudantes e de posse de folhetos mimeografados debaixo dos braços, já se postavam na Afonso Pena com Caetés e rua Curitiba.

Prontos a distribuir seus materiais, junto com meia dúzia de liderança favelada, ensaiando slogans em que associavam eventuais "paredões", em Havana, à necessidade também de se liquidar com "latifundiários" e "Tubarões de favelas", também em BH...

Quando o público atingia o ápice, numa BH ainda de trânsito parecido com os de cidades do interior, tanto que era comum estacionar-se debaixo de árvores da Afonso Pena e à porta do "Cine Brasil", os oradores se revezavam, usando um som que era alugado por uma pequena empresa "especializada", igualmente conhecidíssima.

E não havia muita variação: todo mundo culpando o governo pela alta do custo de vida, suas alianças com o imperialismo e com o latifúndio e uma necessidade de se fazer aqui também uma revolução nos moldes da dos barbudos no Caribe.

A diferença é que era um governo que tinha reflexos nacionalistas e até populares...Tanto que foi posto 

abaixo por homens carrancudos aliados a padres e golpistas de extrema direita do Brasil e dos EUA em 

1º de abril de 1964...

Agora leio em "O Tempo", que organizações políticas e sociais estão a preparar uma carreata-mor para o dia 21 do mês que vem, um domingo. Antes dela virão carreatas menores, também em fins  de semana.

E, segundo o jornal, tendo por base não só as vacilações do atual governo diante da pandemia que já é responsável por 100 milhões de infectados no mundo, com mais de 200 mil mortos neste Patropi mas também devido aos gastos com despesas no ano passado.

Só com geleia de mocotó o Palácio do Planalto gastou 1,8 milhão de reais. Não foi só...De açúcar, foram 15 milhões e de pacotes de batata frita, mais de 16 milhões de reais...O ex-presidente Collor caiu por causa de um mero "Fiat" Elba na Casa da Dinda...

Num período em que milhões de brasileiros tiveram de se contentar, durante um curto período, com uma ajudazinha de 600 reais, depois reduzida pela metade...

Jamais, realmente, tem se visto malvadeza igual na América Latina...

Hoje já não se fazem passeatas de panelas vazias...Elas no máximo são usadas em "barulhaços" quando pessoa influente neste estado de coisas resolve usar os meios de difusão nacionais, fora as "redes sociais", que são coisas bem recentes, para matracar bobagens ao nosso povo.

"Impeachment" , diz no mesmo jornal o colunista das quartas-feiras, Márcio Coimbra, "é um processo lento e penoso, que paralisa o país até sua resolução". Mais à frente ele próprio conclui que "o Brasil precisa repensar o seu modelo político, tornando-o mais moderno, ágil e capaz de entregar soluções efetivas para a população."

O impedimento, que já fez com que dois presidentes se despedissem do poder mais cedo, entretanto é o que temos no  momento. 

E vai depender muito da mobilização popular, talvez mais do que só nas redes sociais, para mover deputados e senadores, talvez já cansados de ficar confinados diante da falta dessas injeções milagrosas,  que tem aparecido em conta-gotas, se disponham a votar em plenários para que mais um "salvador da Pátria" se aposente.


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